Claude Simon
Hoje, basta-me um muro de barro,
para derrubar nele o som da minha voz.
Não sei se é de musgo ou de lodo,
o rumor matinal do meu rosto,
a reflectir a noite, longa de sossego,
por onde passou a luz sem me pressentir.
Neste instante pouco importa a vertigem do corpo.
O lado azul da vertente é a minha obsessão
e sinto os lábios porosos, como um chão térreo,
à doçura espessa dos morangos.
Eu sou o lugar onde, inadvertidamente, me refugio.
No fundo das ruas que percorro existe, agora,
a linha transversal do meu poema branco,
e posso ver a limpidez total do perfume
que as madressilvas entornam no ar,
quando roçam os cabelos das crianças.
Graça Pires
para derrubar nele o som da minha voz.
Não sei se é de musgo ou de lodo,
o rumor matinal do meu rosto,
a reflectir a noite, longa de sossego,
por onde passou a luz sem me pressentir.
Neste instante pouco importa a vertigem do corpo.
O lado azul da vertente é a minha obsessão
e sinto os lábios porosos, como um chão térreo,
à doçura espessa dos morangos.
Eu sou o lugar onde, inadvertidamente, me refugio.
No fundo das ruas que percorro existe, agora,
a linha transversal do meu poema branco,
e posso ver a limpidez total do perfume
que as madressilvas entornam no ar,
quando roçam os cabelos das crianças.
Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997
Querida Graça, você, como sempre, é uma artesã de imagens. Els afloram como todo o esplendor em sua escrita. A sinestesia do perfume captado pelo olhar é belíssimo. Esse poema tem o apelo fotográfico de um Frank Horvat, de Willy Ronis. Beijo.
ResponderEliminar