9.1.07

Para preparar o inverno

Alfredo Cunha


Distingo, desde menina, as palavras
consumidas na voz das mulheres,
cúmplices de silenciosas madrugadas.
Conheço-lhes o circular gesto de disfarçar
desejos com astúcia, quando o destino
lhes antecipa um enredo desabrido:
a morder na boca, a arranhar nas unhas,
a queimar na pele.
Esquecem, então, deliberadamente,
os sonhos intranquilos e passam
a levantar-se antes do sol nascer:
para preparar o inverno, pensa toda a gente.

Graça Pires
De Reino da lua, 2002

1 comentário:

  1. Graça, como sempre, sua poesia arrebata-me por completo. Bravo!
    Alexandre Bonafim.

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