31.1.07

Um novelo de rimas imperfeitas

Bea Danckaert

De rosto em rosto, a caligrafia do amor
implorou a memória das palavras encantadas
e, como se houvesse uma linguagem
de atravessar o tempo, acenderam,
sobre os dias, constelações sonoras.
Mas eu, que não adiro aos calendários,
nem acredito em vogais prometidas,
eu parti, de punhos febris,
enlaçando nos braços
um futuro marginal a qualquer lógica.
A posse da noite, onde me quero lua
em todas as fases, leva-me a glosar os medos
num novelo de rimas imperfeitas.
A cidade tem pombas
que me perseguem sem eu dar por isso.
Tenho um aqueduto modelado nos olhos
e um dilúvio vermelho no desenho do peito.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

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