12.2.07

Em seara alheia



GEOGRAFIA

Chegavas ao anoitecer, dizia alguém,
ao fim de um porto,
à hora das valsas e dos crimes, a meio da
vida,
quando as hélices paravam e no convés se
ateava o lume das paixões que perduravam
no tempo dos navios,
quando, ao longo dos mapas,
os dedos procuravam as palmeiras e os
países,
neste ou noutro mundo,
onde os terraços pareciam navegar sobre o
próprio mar.

Partias ao anoitecer, dizia alguém,
e na cadeira vazia,
na cal sem mácula que decora as ilhas,
resplandecia a face das luas, com o farol
de outrora,
sobre os recifes por onde vagueiam os
fantasmas da nossa solidão.

José Agostinho Baptista

In: Agora e na Hora da Nossa Morte.Lisboa : Assírio & Alvim, 1998

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