17.2.07

Agora que amanhece

Edward Hopper

Agora, que amanhece, decidi regressar à infância,
para sobreviver ao luto dos pássaros de luz.
Sob a protecção de um útero de fantasia,
transmudo-me em ave perdida na noite.
Por favor, não falem de sombras e de ausências.
Não perguntem a razão de cansaços e remorsos.
Não refiram nomes, nem datas, nem lugares.
Deixem, apenas, que a meninice volte de novo
e se reparta em íntimos silêncios.


Graça Pires
De Reino da lua, 2002

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