Jean Dieuzaide
No fim da primavera, há homens que enchem
as mãos de terra para dizer trigo.
Lendas em desuso esquivam-se-lhes da voz.
No interior da fome, reconstroem a boca,
recuperando todas as expressões de indignação
e raiva. Nas suas queixas, hibernam os deuses
que lhes teceram a intriga do destino: tão efémeros
que resvalam nas palavras que omitem.
Graça Pires
as mãos de terra para dizer trigo.
Lendas em desuso esquivam-se-lhes da voz.
No interior da fome, reconstroem a boca,
recuperando todas as expressões de indignação
e raiva. Nas suas queixas, hibernam os deuses
que lhes teceram a intriga do destino: tão efémeros
que resvalam nas palavras que omitem.
Graça Pires
De Quando as estevas entraram no poema, 2005
Tão real como a imagem...
ResponderEliminarObrigada Luis pela visita e pelo comentário. Um abraço.
ResponderEliminarnos homens onde o trabalho é ainda sacralizado e os deuses sabem-no, apesar de hibernados.
ResponderEliminare sabe o povo que sem o favorecimento das divindades da natureza a raiva sempre será uma certeza
Lembrei-me do Bailote, aquele semeador "bíblico" da Aparição, do Vergílio Ferreira. E de gestos antigos, de antigas fomes. E de mínguas novas. E de uma dignidade intemporal. Graça, deixo-lhe uma prenda (espero que goste) que no meu entender podia acompanhar o seu poema: http://www.youtube.com/watch?v=etm2xGq216Q
ResponderEliminarUm beijo
Teresa, obrigada pela sua opinião. Eu atrevi-me a falar dos deuses, mas este deuses eram outros... Um beijo.
ResponderEliminarSoledade, a associação ao Bailote da "Aparição" não me tinha ocorrido. Eu amo a escrita de Vergílio... Gostei tanto da sua prenda. Aquele poema da Rosalía na voz de Adriano e o vídeo, confesso que me comoveram. Bem haja. Um beijo.