Um diálogo. Um aceno. Um afago.
Um rio a sobrar-nos nos olhos,
quando a pátria conflui
a sul de todo o desalento
e nenhum silêncio é legítimo
para calar os medos;
quando os dias se tornam
intrusos da vida, e nada é gratuito,
a não ser a espera, nas mãos
entreabertas à revolta;
quando resistir é atravessar a desértica
secura da memória, com pássaros
de sede doendo na boca.
Não ceder. Não ceder por dentro do sonho.
Não ancorar o rosto no lugar-comum dos preconceitos.
Viver sem rendições, é o desafio
que nos cabe por inteiro.
Sabemos isso, solidários que somos
Um rio a sobrar-nos nos olhos,
quando a pátria conflui
a sul de todo o desalento
e nenhum silêncio é legítimo
para calar os medos;
quando os dias se tornam
intrusos da vida, e nada é gratuito,
a não ser a espera, nas mãos
entreabertas à revolta;
quando resistir é atravessar a desértica
secura da memória, com pássaros
de sede doendo na boca.
Não ceder. Não ceder por dentro do sonho.
Não ancorar o rosto no lugar-comum dos preconceitos.
Viver sem rendições, é o desafio
que nos cabe por inteiro.
Sabemos isso, solidários que somos
neste contrabando de afectos e coragem.
Graça Pires
Graça Pires
De Ortografia do olhar, 1996
gostei muito de um rio a sobrar-nos nos olhos.
ResponderEliminarum abracinho,graça.
"Viver sem rendições, é o desafio
ResponderEliminarque nos cabe por inteiro"...
guardo estes versos do teu belíssimo poema. como legenda. e programa de vida.
excelente.
Pois conta comigo nesse desafio de viver sem rendições, embora custe bem caro.
ResponderEliminarQuero mais poemas.
Fica bem.
Só que o contrabando deve andar a diminuir muito.
ResponderEliminarDesculpa o desabafo perante a beleza do poema e das suas imagens.
um poema interventivo, uma mensagem forte, com momentos de grande beleza:
ResponderEliminar«resistir é atravessar a desértica
secura da memória, com pássaros
de sede doendo na boca.»
«Não ceder por dentro do sonho.»
isto é muito importante e muito bonito, Graça!
"Sabemos isso, solidários que somos
ResponderEliminarneste contrabando de afectos e coragem", fabulosa esta imagem, Graça. Gosto de tudo, mas o final do poema acaba (também) comigo.
Tenho uma pintura da Júlia Calçada muito parecida com a imagem que tens para este poema. Vou publicá-la no meu blogue um dia destes.
Beijos, até lá.
Vim deixar-te voto de bom domingo.
ResponderEliminarAbraço.
É isso mesmo: não ceder por dentro de um sonho.
ResponderEliminarE é tudo. Muito!
abraço.
Fazes-me pensar num mundo onde ser solidário é cada mais urgente. Contra o ser solitário e - acima de tudo - contra os falsos «seres solitários», habilidosamente unidos e organizados nos corredores da política e da alta finança.
ResponderEliminarUm abraço, também, Aida e obrigada.
ResponderEliminarHerético acho lindo que faças deste desafio um programa de vida.
São não importa o que custa, as o que conseguimos ganhar...
Helena, não deixes diminuir a tua coragem e o teu afecto.
Maria M. obrigada por estas tuas palavras: "um poema interventivo, uma mensagem forte, com momentos de grande beleza".
Maria Carvalhosa, obrigada pelas tuas palavras. Fico à espera da pintura da Júlia Calçada.
Tinta Permanente é isso mesmo mesmo: não ceder por dentro de um sonho.
João Carlos que bom teres vindo. Também são momentos como este que transformam o acto solitário de fazer o poema no acto solidário de partilhar a poesia. Um beijo.
Os poetas que não se rendem são seres profundamente perigosos...
ResponderEliminarO poder sabe disso.
Forte e belo poema.
Beijo.
"Viver sem rendições...".Subscrevo.
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