André Kertész
A cidade designa-se pelo desassossego
impregnado de histórias errantes.
Multidão anónima, individual, insondável.
Geografia de uma orfandade interior.
Paradoxal labirinto de aves migratórias.
Nenhum caminhante se esquiva à nitidez
da noite sitiada pela própria sombra.
Pé ante pé, a intimidade refugia-se
nos olhares povoados de afeição
e desdiz o rumor do medo
com um gesto de aconchegar palavras.
A cidade é o epicentro de uma confidência
partilhada por quem sabe manipular o silêncio.
Graça Pires
impregnado de histórias errantes.
Multidão anónima, individual, insondável.
Geografia de uma orfandade interior.
Paradoxal labirinto de aves migratórias.
Nenhum caminhante se esquiva à nitidez
da noite sitiada pela própria sombra.
Pé ante pé, a intimidade refugia-se
nos olhares povoados de afeição
e desdiz o rumor do medo
com um gesto de aconchegar palavras.
A cidade é o epicentro de uma confidência
partilhada por quem sabe manipular o silêncio.
Graça Pires
De Labirintos, 1997
E esse silêncio contém tanta vida...
ResponderEliminarViva Graça Pires!
ResponderEliminarA nitidez cristalina com que desvela o invisível das coisas e das pessoas na sua relação com elas dá um fulgor especial á sua poesia..no seu estilo muito original...aprecio muito esse desvelamento estético...
abraços
nenhum caminhante da noite
ResponderEliminarse esconde da loucura do silêncio
da devastação das sombras
que é a corrente inquietante
quando a cidade nos projecta as asas feridas do destino.
______
têns razão, Graça. Curiosa coincidência.
e tanto, na partilha da palavra quando te leio.
um beijo
maré
poema desmbrante.
ResponderEliminarBeijo,
mariah
Belo, Graça, esse modo de retratar um cenário onde a poesia espera por um olhar semelhante ao seu. Que caminhante negligenciaria palavra como a sua, qual asa recusaria semelhante ninho?
ResponderEliminarGraça, a poesia ficou mais pobre. Está de negro vestida. O meu amigo Fernando Peixoto partiu.
ResponderEliminarQuanto ao teu poema, a cidade tem de tudo. O sossego, o desassossego, o silêncio, o ruído, a união, a desunião...
Mais uma vez, as palavras cativaram-me. É assim a poesia. Uma sedução permanente.
Beijinhos
Belo!
ResponderEliminarSilente grito
aspergido de solidão.
Obrigada.
O silêncio, a confidência, o afago - são a pérola que se esconde na cidade da vida. A vida é uma cidade com sonho de silêncio. Onde há o bosque. E os regatos. E o paraíso perdido. Sem o terrível anonimato da cidade não era possível o sonho do regresso.
ResponderEliminarAbraço.
EA
Ás vezes eu sinto assim a minha cidade...
ResponderEliminarUm grande poema...sim...
um beijo
A cidade rasgou a terra para que o homem se juntasse a outros homens e fugissem da solidão.
ResponderEliminarE quantas vezes as esquinas são testemunhas silenciosas duma multidão de sós, profundamente sós...
é muito isso, Graça...
ResponderEliminarsim, os manipuladores do silêncio, são mais citadinos...
abraço
Lindo poema !
ResponderEliminarObrigada, pelo seu aconchego de palavras.
Um beijo
vejo sempre a cidade como um grande anonimato
ResponderEliminar«Geografia de uma orfandade interior.» esta e outras excelentes imagens com que este poema escreve a cidade!
ResponderEliminarbjos, Graça.
Excelente, profunda esta tua análise da cidade!!!Comungo da tua opiniºao. A foto ficou optima no post.
ResponderEliminarJinhos mil
"A cidade é o epicentro de uma confidência
ResponderEliminarpartilhada por quem sabe manipular o silêncio."
como um aforismo.
Ouvi dizer, um dia, que 'as muralhas das cidades são feitas com os destroços das casas das aldeias'. Talvez por isso doa tanto os seus silêncios. Ou os seus barulhos...
ResponderEliminarabraços!
"Multidão anónima, individual, insondável.
ResponderEliminarGeografia de uma orfandade interior".
Excelente retrato poético da cidade e do seu respirar.
Beijo.
Maravilhosa Amiga:
ResponderEliminarUm instante muito belo de poesia que escreveu com mãos de ouro.
"...Nenhum caminhante se esquiva à nitidez
da noite sitiada pela própria sombra..."
Delicoso e fantástico como sempre.
Beijinhos de respeito, amizade e estima.
Sempre a nutrir por si e pelo que escreve encanto e beleza.
p.pan
O poema, tal como a cidade, está sobrehabitado: de rumores, olhares, solidão, afecto, imagens de sinal contrário... A fotografia de Kertész é admirável (um labirinto, uma solidão, um segredo?) e abre outros caminhos na leitura do poema.
ResponderEliminarUm beijo, uma noite descansada
E se falássemos de coisas divertidas?
ResponderEliminarUm beijinho da Tela.
Está fantástica esta tua descrição de cidade!! Muitos beijos.
ResponderEliminarBela conspiração pela calada da noite!
ResponderEliminarbeijos
guardo alguns poemas num lugar todo especial. nesse lugar alguns que falam sobre a "cidade". de tua autoria, A Cidade, “incorporei” aos meus guardados. de coração, grato!
ResponderEliminarum abraço fraterno.
Lindo! Graça, você traduziu de forma ímpar o espírito da cidade.
ResponderEliminarSó que com toda essa poesia ela fica muito mais atraente.
beijo no coração
Oi, amiga querida!
ResponderEliminarEstudando feito louca (rs). Passo para apreciar mais um poema seu e deixar-lhe grande abraço.
Bárbara Carvalho.
...por isso eu vivo no campo :)
ResponderEliminarBelo poema Graça*********
gosto de cidades assim povoadas. de emoções e palavras belas.
ResponderEliminarbeijos
Lindo este poema pela intensidade das verdades nele contidas.
ResponderEliminarPor vezes quantos silêncios manipulam gritos contidos, pela indiferença da "multidão anónima, individual", cada vez mais fechada em si mesma.
Beijinhos.
Olá Graça!
ResponderEliminarBelo conributo para um ensaio sobre a cidade.
Desde a Polis grega até às Cidades Invisíveis de Calvino, mais recentemente, com a globalização, o relevo das cidades não foi alterado no quotidiano dos seus habitantes mas ter-se-á transformado.
Em consequência as cumplicidades evoluem com a manipulação do silêncio que relatas.
Bjs
Retorno à beleza irresistível desse poema. Imaginário ou real, ou ainda amálgama de ambos, este cenário nasce na península ibérica e faz eco na pequena cidade onde moro em outro continente. A orfandade e o labirinto descritos, mais os pés errantes, tudo traduzido de forma tão intimista e tão universal.
ResponderEliminarGosto demais da leveza condensada, desta tua prosa poética.
ResponderEliminarGosto da afinidade que encontro da tua escrita com a minha.
Beijo!