Que cilada flutua sobre a espuma
da língua enrolada em vocábulos?
Com que voz se rompe o centro da desordem,
para deixar passar o poema,
ansioso de uma rua larga?
No lugar em que os rios se cruzam
com os olhos dos poetas,
rodopia o tempo de uma fábula,
por onde se volta à infância,
com a noite dilatada nos olhos
e a boca legendada de contos de fada.
Graça Pires
da língua enrolada em vocábulos?
Com que voz se rompe o centro da desordem,
para deixar passar o poema,
ansioso de uma rua larga?
No lugar em que os rios se cruzam
com os olhos dos poetas,
rodopia o tempo de uma fábula,
por onde se volta à infância,
com a noite dilatada nos olhos
e a boca legendada de contos de fada.
Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997
(...)No lugar em que os rios se cruzam
ResponderEliminarcom os olhos dos poetas,
rodopia o tempo de uma fábula,
por onde se volta à infância,
com a noite dilatada nos olhos
e a boca legendada de contos de fada.
E é tão bom sempre que regressamos no tempo das fábulas encontar a n/criança ainda bem viva dentro de nós!
Kindo este teu poemas.
Jinhos muitos
...que lindo!!!
ResponderEliminarAs fábulas... Como eram úteis para nos mostrar a ética de um modo leve e gostoso! Hoje as crianças não ouvem mais fábulas...
Beijos de luz e o meu carinho!!!
É isso, Graça! Belíssimo poema. Bom fim de semana e beijos.
ResponderEliminara infância dos meninos que não têm infância, com a fome dos olhos dos poetas, que cilada lhes montaram.
ResponderEliminarnão existem os direitos da criança?
que desordem nessas bocas, nesses olhos, na procura inglória de uma infância de fábula, de brancas de neve e bando dos cinco.
apeteceu-me falar de meninos pobres, talvez por se aproximar o Natal.
e deixei passar o poema...
que "cilada" mais linda...
ResponderEliminaronde não faltam os contos de fada.
abraço Graça
Pintas...palavras...
ResponderEliminarDoce beijo
Por onde se volta à infância? Pode ser seguindo a caminho do vento, como na imagem que ilustra este lindo poema ! Consegue sentir o vento acariciar o seu rosto? Há muitos caminhos e alguns tão perto!!
ResponderEliminarum beijinho
"noite dilatada nos olhos
ResponderEliminare a boca legendada de contos de fada"
há muito que não lia 2 imagens tão lindas. Parabéns!!
fiquei-me por estas legendas.
ResponderEliminarTão fácil, sobretudo para quem nem precisa de volta porque vive ainda no útero da vida.
ResponderEliminarBom fim de semana...
sem palavras para comentar, destaco a seguinte passagem:
ResponderEliminar"No lugar em que os rios se cruzam
com os olhos dos poetas"
belo demais.
beij
Muito profundo essa escrita da memória.
ResponderEliminarbjs.
JU Gioli
"Que cilada flutua sobre a espuma
ResponderEliminarda língua enrolada em vocábulos?"
Encantada Graça! Jeito mais lindo de dizer a travessia do poema, o caminho que ele percorre (o enredo/teia da cultura) para que os sentimentos mais sublimes despertem!
Um abraço encantado!
Gisela Ramos Rosa
"com a noite dilatada nos olhos" regessamos, pela ausência, à boca de todas as histórias onde o poema vive.
ResponderEliminar_________
e eu com um sol nos olhos ao ler-te...
um beijo Graça, grande!
Só vejo uma maneira... é deixar a criança levar o poema pela rua larga...
ResponderEliminar..Só que ...o Adulto... que vive dentro do Ser...deixa?
Prisão existe, mesmo que se fale de Liberdade.
Não sei se o que disse tem a ver com o teu lindo, sempre, poema. Desculpa, mas se não tem, que não tenha. É o que diz a minha criança, que já não obedece ao Adulto.
Beijos.
EA
"Com que voz se rompe o
ResponderEliminarcentro da desordem,
para deixar passar o poema,
ansioso de uma rua larga?"
É um poema líndissimo... sublime...repleto de imagens que surpreendem e emocionam...
Beijo.
"a boca legendada de contos de fada", talvez seja isso o inverno, a estranha forma de morar no frio... Belo poema!
ResponderEliminarum beijo
Graça,
ResponderEliminaro lugar onde os rios se cruzam...
acontece a ruptura, e o que serà uma àgua que se rasga?
Nos olhos dos poetas vivem
as meninas, os meninos que fomos, todos.
Que lindo o seu poema, fico sempre calma e um pouco triste, de uma serena melancolia. Um beijo, dois.
LM
:))))))))))))))))nunca seria com toda a certeza um comentário que soubesse traduzir o que aqui sinto, Graça.
ResponderEliminarsou péssima comentadora. escasseiam-se-me sempre as palavras quando tudo é tão CLARO...
o importante mesmo é que gosto um muito.tanto da sua Poesia.
"adulta" e maior.
beijo G. e um excelente fim de semana.
a Poesia é assim: inaugural. irrompendo da (des)ordem da Palavra. e "inocente" . como o olhar de uma criança...
ResponderEliminarexcelente .
(não me canso de dizer)
beijos
Mistérios da poesia, nostalgia, confluência de rios e olhos, o retorno à infância, e a beleza, mais do que nas rimas, fazendo eco em nós. Um final tão lindo que justifica a inveja por não ter escrito semelhante verso.
ResponderEliminarOs rios cruzam-se com os olhos dos poetas? Logo vi...
ResponderEliminarMuitos cumprimentos.
Que poema lindo, Graça!
ResponderEliminarÉ do livro novo? Que delicadeza de metáforas!
' e a boca legendada de contos de fada', assim fico ao ler teus poemas.
beijo no coração
dizes tu - "Com que voz se rompe o centro da desordem,
ResponderEliminarpara deixar passar o poema,
ansioso de uma rua larga?" ----------- pergunto eu : com que voz?
magnífico poema.
Onde nasce o puro nasce o poema: o dia limpo, o sol da infância, também o seu medo...
ResponderEliminarum beijo
essa infância onde tudo era um mistério
ResponderEliminarUm lugar inicial e puro. Que lindíssima fórmula para o dizer.
ResponderEliminarAbraço, sempre.
Se a infância fosse sempre a terra dos sonhos...
ResponderEliminarBoa semana, Graça!
A língua enrolada,uma cilada é (des)bocada.Uma ruela, a poesia na poça d´água brincando de infância.
ResponderEliminarLindo poema.Virei sempre aqui.
voltar a sentir o cheiro de terra molhada da infância e lembrar dos contos de fadas que alimentavam os sonhos de criança é como olhar para eixo do próprio corpo, para o centro de sua alma...
ResponderEliminaramei!!!
beijos
Como se o poeta fosse um lutador ...
ResponderEliminarPoeta. Gosto tanto.
ResponderEliminare já me deste a pista :)
___esquecemos tanto esses tempos de fábulas e contos de fada.
ser adulto é uma chatice :)
Um beijo
enorme
enorme
Simplesmente lindo, Glória!
ResponderEliminarO poeta reencontra a criança que há em si mesmo, quando estimulado por um devaneio "solitário, tranqüilo e imóvel, diz Bachelard.
Linda a sua criança, Glória, parabéns pela expressão sincera!
Obrigada pela leitura.
Beijos,
Hercília.
«Com que voz se rompe o centro da desordem,/ para deixar passar o poema,/ansioso de uma rua larga»
ResponderEliminarVou roubar estes versos para epígrafe de uma "arte poética":)
E fico a pensar como a memória está sempre na génese da poesia, este desejo de *regresso*, de reinstaurar um tempo fracturado...
Um beijo, uma boa semana
venho apenas re.legendar a minha admiração!!!!!
ResponderEliminarpara sempre!
.
beijo Graça beijo.
Muito inspirador. Deixou-me numa zona crepuscular entre a reflexão e o devaneio...para ler e reler com encantamento.
ResponderEliminarUm abraço.
Eu também gostava de saber as respostas às perguntas do teu poema....
ResponderEliminarDeve ser essa cilada que me impede de escrever o que quero e dessa espuma brotam outras ideias que não as iniciais, e as palavras vão rompendo essa desordem (nem sei com que voz...) até se afirmarem no papel, com a língua de fora a troçarem de mim...
Mas talvez seja nessa volta à infância que perdemos o controlo das palavras de adultos, onde a nossa criança, inocente e livre de preconceitos, resolve manietar a nossa consciência (já distorcida e não pura) e vai escrevendo por nós...
Por vezes até fico irritado, mas eu não tenho culpa nenhuma... nem mérito... tudo é dela...
Este é mais um fabuloso poema. Tu já não sabes fazer pior...
Beijinhos.
é difícil
ResponderEliminarmas não impossível
explicar
como cruzam as marés
Meus caros, estou prestes a alugar um T1 dentro de uma Fnac.
ResponderEliminarIsto porquê?
Porque esta quinta feira dia 18 de dezembro pelas 21h30 voltarei novamente à Fnac do Colombo, mas desta vez para uma singela sessão de autógrafos juntamente com o João Quadros a propósito do livro das crónicas da TSF, de seu nome "Tubo de Ensaio".
Espero que apareças por lá.
é por aí..
nos teus textos, não é raro encontrar a poesia como espaço-tempo primordial de evocação ou retorno à infância. muito bonito!
ResponderEliminarBelissimo poema com cheiro de infância.
ResponderEliminarum beijo
Só cria poemas fabulosos e fantásticos que adoro imenso ler.
ResponderEliminarSão viagens fantásticas. Deliciosas!
Feliz Natal extensivos à sua linda família e aos que ama.
Beijinhos amigos de pureza e respeito
pena
Só hoje me apercebi de uma coisa:
ResponderEliminaralguns dos teus poemas são metapoéticos... Este é um exemplo:
as ciladas que flutuam na espuma da língua que se enrola em vocábulos. Um cismar em torno da língua, da palavra e da poesia e das suas relações entre si. Bom trabalho!!! Mas como é que eu nunca tinha reparado?
Um beijo, Graça.
era uma vez um menino que queria apalpar as palavras, metê-las na boca para as provar, guardá-las nos bolsos das calças para com elas brincar na praia. queria atirá-las ao vento e ao mar para ver que outras palavras lhe devolveriam na troca de sílabas e letras. era uma vez um menino, o mesmo que queria provar palavras, que tantas palavras comeu com o olhar que um dia acordou com olhos de poeta... nunca mais deixou de oferecer poesia quando a sua boca abria.
ResponderEliminarum beijo
Sabia apenas que era um pequenino naquela longa noite
ResponderEliminarNo celeste um luminoso sorriso me chamava
Lançou-me aos olhos raios de deslumbrante luz
Era a minha prenda, uma brilhante…Estrela Alva…
Um Mágico Natal para ti querida amiga que ao longo deste ano me visitaste. Que a Estrela Alva te ilumine neste Natal.
Mágico beijo
Num verdadeiro rodopio de tempo, é bem verdade que nesta altura do ano voltamos à infância.
ResponderEliminarQue dentro de todos nós exista sempre, e não só agora, a criança de olhos dilatados que falas no teu poema.
Que tenhas um Bom e Feliz Natal!
Belíssimo poema.
ResponderEliminarBeijos
É o segundo poema que leio no tempo que tenho andado no seu blogue em que parte da definição da gestação do poema para o assunto principal, neste caso a infância, o que possivelmente será uma marca de água da sua poesia. Tenho de ler poemas para trás para confirmar esta hipótese.
ResponderEliminarQuerida Graça Pires,
ResponderEliminarpeço-te perdão por ter feito uma confusão entre nomes.
Como sabes, temos, no Brasil, uma atriz que chama-se "Glória Pires". Devido a aproximação entre os nomes, acabei realizando a confusão no comentário acima.
Por favor desculpe-me, relendo hoje o seu poema percebi o "grave" erro cometido.
Saudações poéticas,
Hercília.
um dia uma criança soube que a morte da infância é o suicídio da vida.
ResponderEliminaré sempre um gosto voltar aqui*
Tal como os contos de fadas...o que escreves faz sonhar :)
ResponderEliminarPassei por indicação do »viver um conto » e fui encontrando boa poesia ...
ResponderEliminarBOM ANO
cordialmente
_________ JRMARTO
Um dos poemas mais lindos da tua seara, por mim já lidos.
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