27.5.10

Do lado mais calado do tempo

Walker Evans

Do lado mais calado do tempo
podemos falar das mãos das mães,
tão frágeis, quando trazem nas costas
a febre dos filhos.
Podemos sentir o rosto perturbado
das crianças que nos mostram a boca
mordida pela fome.
Podemos querer de volta o fascínio
dos papagaios de papel e do tempo
em que não faltava ninguém
nas fotografias da família.


Graça Pires
De O silêncio: lugar habitado, 2009

46 comentários:

Amélia disse...

Tão bonito, Graça!beijo

hfm disse...

Fico em silêncio de espanto e de reverência!

CamilaSB disse...

Imagens preciosas guardadas no álbum da memória...
Paredes ornadas de simplicidade... o aconchego da casa de minha avó,
de um tempo em que a família era sagrada.
Mãos cheias de quase nada
Mãos de mãe... com calosidades,
cheias de afecto, aveludadas...
Mãos de Mãe que afagam as lágrimas.

Poesia e sensibilidade que se infiltra pelos poros...de uma beleza transcendente!

Obrigada pelas palavras.BJS!

~*Rebeca*~ disse...

A tristeza bate com a imagem que eu vi ao ler o texto e a pergunta não se cala: como que podem ver tanta miséria e continuar com tanta guerra?

até mais.

Jota Cê

Mariana Botelho disse...

graça, que lindo!

Marta Vinhais disse...

Lindo....
Na minha foto de família, falta agora a minha Mãe....
Beijos e abraços
Marta

[ rod ] ® disse...

Das certezas nunca podemos dizer que alimentá-las não justifica nosso futuro de dor. Bjs moça.

Licínia Quitério disse...

Tudo isso continua "no lugar mais calado do tempo".

Melancólico e lindo.

Um beijo, Graça.

Fá menor disse...

Retratos de dor
.
e de amor!

Muito belo, tanto o poema como a foto!

Beijinhos

São disse...

Tocante, muito tocante, este teu poema.

Um abraço.

Daniel Hiver disse...

Hoje quero te dizer algo que não me ocorreu te dizer antes, mas que é verdade.
Tua poesia é serena, tranquila. Transmite paz e LEVEZA.
É como se as palavras reunidas dissessem aos leitores: - "Nós só existimos por causa do poema. Desse poema!"

Pena disse...

Brilhante Poetiza Amiga:
É fascinante e talentosa, SEMPRE!
As mães são uma preciosidade humana que retracta de forma poética sublime e maravilhosa.
Parabéns pelo carinho como trata as pessoas.
Fantástico.
Agradeço-lhe a sua sensibilidade de encanto e ternura no que faz.
Com respeito gigante pela admirável pessoa que é.

pena

Por vezes, não consigo comentar, vamos a ver este? Apagam-no.

partilha de silêncios disse...

Adorei o seu poema. Esta foto, sem gente na fotografia, consegue através do poema, transmitir uma paz inexplicável é como se ao olhar para ela a completassemos com a nossa foto de família, onde não falta ninguém e a casa fica em hamonia completa.

É sempre um grande prazer visitá-la.

beijinhos

Anónimo disse...

gosto muito do título deste poema, querida graça. faz-me pensar na imensa tarefa que os poetas têm pela frente. a de encontrar a voz deste tempo. como a graça faz :) um grande beijinho.

Luis Eme disse...

pois podemos...

e ainda bem.

abraço Graça

AC disse...

Do lado mais calado do tempo, queremos dar voz aos nossos anseios, às subtilezas escondidas na penumbra.
Gostei da leveza das palavras carregadas de significado.

d'Angelo Rodrigues disse...

Bela página sobre ele, o tempo, que nos esvazia as mãos enquanto nos torna repletos de memórias. Abraços, Graça.

Anónimo disse...

Prefiro os grandes pensadores, que com seus pensamentos, suas citações, com trechos de seus livros ou músicas, conseguem me fazer viajar, conseguem traduzir o que não sei expressar, dizem por mim o que não sei falar.

Wanessa Baptista

Beijos e carinhos à todos...M@ria

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

G.

o poema fez-me lembrar, algumas fotos de família (que por vezes mentem).

fico silenciosa a ler devagar a qualidade da sua poesia que diz tanto em tao poucas palavras.

um beij de admiraçao

manuela baptista disse...

sussura o lado mais calado

aquele
que ainda tem tempo

para pintar as pálidas faces dos meninos não crescidos
e contemplar as frágeis mãos
de fortes mães

para quem as angústias
dos filhos serão eternamente febres tão altas!

muito bonito, Graça!

quase tão bonito como um papagaio de papel...

um beijo

Manuela

Mar Arável disse...

Bjs de novo e tantos

Benó disse...

Tem razão, Graça.Por muitas razões tudo poderia voltar novamente.
Existe a saudade para que o tempo não tenha nenhum lado calado. Um bom fim de semana.

Jaime A. disse...

Lembrei-de de tempos com todos e tantos, doutros tempos em que na TV as imagens de desgraça eram mais pudicas.
Voltei atrás, é certo.

Victor Oliveira Mateus disse...

... há dias em que nos fazem muita falta - as mãos das mães.E não há nada a fazer: carregaremos sempre essa nostalgia de nos terem roubado as raízes.
Um beijo de amizade, Graça.

Úrsula Avner disse...

Oi Graça, simplesmente belo, profundo, comovente... Sua escrita encanta. Bjs.

Unknown disse...

podemos falar, sentir e querer, sim, Graça, a nossa infância sempre perfumada.
beijos, amiga

José Ángel García Caballero disse...

a conjunção entre palavra e imagem é óptima, também a sugestão que desprendem...
Muito belo, Graça,

beijos

Gisela Rosa disse...

belíssimo o seu poema Graça, as mãos das mães...a textura mais macia que conhecemos....um beijo amigo Graça

maré disse...

do tempo que se calou
recordo as mãos
como um rio
no leito desesperado da fome

o gemido das suas águas
e um galope acidentado até à foz.

que ternura nos sobra nas suas margens?


_____

um beijo e abraço imensos querida Graça.

Rodrigo disse...

A saudade melancólica das mães, estas existem mesmo antes dos filhos. Muito bonito.

Fernando Campanella disse...

Um poema sentido, de profunda simplicidade, e que muito nos toca, Graça. Muito belo. E a fotografia de Walker Evans é uma obra de arte. Linda postagem. Bjos, minha querida amiga.

Gabriela Rocha Martins disse...

há um sabor ( doce ) a sépia neste álbum de família


belíssimo poema




.
um beijo

tecas disse...

Que ternura! Mãe é sempre mãe...
Vive no coração e na memória.
Adorei.
Um bjinho amigo

nina rizzi disse...

sua poesia é forte e, ave, tão verdadeira como as mães, graça. um prazer ler e estar aqui.

um beijo.

maría nefeli disse...

Muito belo...às vezes, a existência das fotografias é assim. Comovente...
Um beijo

avlisjota disse...

E tempo continua calado, surdo e cego... o amor, a alegria de viver, até mesmo aquela liberdade cativa que nos fazia sorrir se desvaneceu aos olhos do tempo, agora consumido e sempre sem tempo...

Adorei lêr, relêr... este livro.

Bjs Graça, fique bem1

José

Manuel Veiga disse...

deslumbrante Poema.

enorme.

saudo-te com admiração.

beijos

Anónimo disse...

Há tantos silêncios por desvendar... poesia abençoada.

Abraço à poetisa Graça Pires.

dona tela disse...

A CONJUNTURA OBRIGA E AQUI ESTOU EU.
ATENTA E OBRIGADA.

Virgínia do Carmo disse...

Suponho que existe mesmo esse "lado calado", onde as nossas fragilidades se consomem... Muito lindo...

Beijinho

teresa p. disse...

As mãos da Mãe, tão belas...
com as marcas da coragem que sempre nos transmitia e da ternura que sempre nos dava.
Comovente o poema e linda a foto!
Beijo

Mofina disse...

Também pode ser do lado mais feliz do tempo...


Bom feriado

tb disse...

do tempo do ser.
beijo

Anónimo disse...

Dos mais belos,dos que li nos penultimos dias, lerei outros mais, com a certeza desta mesma beleza. Beijo fraterno!

© Maria Manuel disse...

lindo!
e misto de dor e amor.
sempre o amor da família, das mães aos seus filhos, suas dores, sua fome. retrato(s) de família(s) -

grande abraço, Graça :)

De Amor e de Terra disse...

... e como podemos Amiga, como podemos!
E há sempre um mundo, tanta vez conturbado, à nossa espera nas recordações!

Bjs.
Maria Mamede