28.3.11

Acerco-me de Gauguin



Como se uma quimera dobasse
o desalinho dos desejos
acerco-me de Gauguin
para que me cubra o corpo
com o tom terroso dos países
onde a água e o fogo anunciam a sede.
Quero que molde as minhas mãos
com o barro com que se regressa às fontes.
Quero amarrar os pulsos às palmeiras
e deixar que os barcos
fiquem à deriva em meu olhar.
Será imponderável o biográfico equívoco
em que me instalei com olhos de abismo.


Graça Pires
De A incidência da luz, 2011

20.3.11

Talvez existam anjos com olhos de musgo

Manet


Caminhamos por entre as árvores
com a boca a saber a menta e a malvas.
Trazemos nas mãos um herbário
de tão fugaz esperança
que nenhuma outra se tece sem desvios
na dobra do peito.
Talvez existam anjos com olhos de musgo
à beira dos abismos por onde se esgueiram
os dias que nos roubam a eternidade.
Talvez a turbulência verde na borda dos ribeiros
unja de seiva a passagem do tempo.

Graça Pires
De A incidência da luz, 2011

Agradeço a todas as amigas e a todos os amigos que estiveram na minha Festa. Agradeço também a todos os que queriam estar e não puderam.
Bem hajam !

10.3.11

CONVITE

Para ler, clicar (uma vez) em cima da convite
Gostava de vos ver por lá, se quiserem e puderem.

2.3.11

Círculo de mulheres



Veio primeiro o tempo
em que, pela boca das mães,
se conhecia o aroma do leite
e os filhos, de lábios atravessados
pelo mel, moldavam com sangue
o próprio rosto.
Agora, como num feitiço,
as mulheres rodam em círculo
de mãos dadas.
Dentro da roda permanecem os filhos
que elas protegem com o olhar
para que não venha cegá-los a lua cheia.

Graça Pires
De O silêncio: lugar habitado, 2009