20.5.11

Vou no barco de Conrad

Hiroshi Yamazaki

A indiferença das molduras fende,
em minha boca, o asfalto dos dias
e o feixe dos gritos dilatados na garganta.
Um veludo negro atado nos pulsos
lembra-me que o mar não se vê na escuridão.
Por isso vou no barco de Conrad
ao Coração das Trevas na demanda
iniciática das ilhas naufragadas.
Ouço com assombro o narrador.
E sobre o chão da página
me debruço e me procuro.
Um sulco salgado na ponta dos dedos
toca harpas de lodo em minha voz.

Graça Pires
De A incidência da luz, 2011

36 comentários:

  1. Pois vá, minha querida Graça, vá avançando lentamente em direção ao seu objetivo. Espero que encontre o lendário brilhante, após ter adentrado ao coração das trevas.
    Um beijo, minha querida
    com carinho e uma flor
    rosa
    de Fátima

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  2. O coração das trvas pulsa no interior do planeta e muita gente ignora o facto...

    Grande abraço, amiga

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  3. Querida Graça,

    A fotografia está espetacular. Seu texto, a intensidade e um mergulho nos sentimentos, na consciência e no aprendizado. Obrigada


    Beijo com carinho e bom fim de semana amiga.

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  4. Um sulco salgado na ponta dos dedos
    toca harpas de lodo em minha voz.

    é belísimo... palavra exacta

    Um beijo

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  5. há uma urgência

    neste belo poema

    que ao mesmo tempo

    inquieta e aquieta



    [não sei explicar-me melhor]



    *bom-fim-de-semana*

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  6. não há cais

    o caminho adentra-se e é de água


    é tão real o vosso barco,
    seu e de Joseph
    que também eu sinto qualquer coisa na minha voz

    um beijo, Graça!

    manuela

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  7. a diferença sem indiferença,
    mais a luz das palavras com incidência.

    beijo Graça

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  8. Avassalador! Sou fã da sua escrita porque ela me estremece.

    Beijos.

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  9. A navegar ao encontro de si....
    Vencendo as trevas e a dor...
    Lindo....
    Adorei...
    Beijos e abraços
    Marta

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  10. Ouço as harpas!

    Beijo grande...

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  11. azul será sempre (o mar) mesmo na escuridão...

    bom fim de semana!

    beij

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  12. ...o mar não se vê na escuridão...mas a Graça é luz!
    brisas doces para si***

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  13. Entrei na poesia e vi-me a
    vencer as trevas.
    um beijo grande

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  14. Poesia assim, referencial,

    tem sempre o seu quê de mistério,

    aliás,

    tão parte integrante da grande poesia.

    Bjss

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  15. teresa p.8:17 da tarde

    "E sobre o chão da página
    me debruço e me procuro."

    Linda esta maneira de escrever poesia, tão livre, intensa e profunda!
    A fotografia é também muito bela.
    Beijo.

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  16. Como gosto de poesia, mas não sei "versejar", venho aqui lê-la.
    Abraço

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  17. ...encanto-me neste teu
    mar de poesia!

    bjs, querida!

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  18. "...um veludo negro atado nos pulsos lembra-me que o mar não se vê na escuridão..."

    Esta tua frase faz-me viajar ate aos recondidos da memória e ir para lá do tempo...

    Um beijo minha querida,
    CA

    ps - foi mt bom voltar a ver-te.

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  19. Graça,

    belíssimo texto! há muito não "via" algo tão intenso. Parabéns!

    Meu carinho,
    Anderson Fabiano

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  20. Graça,

    Um belo poema, com o talento com que já nos habituaste!...


    Beijos,
    AL

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  21. como catarse...

    assombrosos os dois últimos versos.

    excelente.

    beijos

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  22. Cara amiga, POETISA Graça Pires;
    Excelente poema, onde a palavra extravasa para além dos contornos do horizonte com toda a sua pujança poética.
    Gostei imenso.
    Um beijo fraterno e amigo.

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  23. É sempre o caminho, na sua dor, mas também no assombro; acredito que no assombro, na interrogação, resida o sentido dos dias, a sua locução menos indeterminada...

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  24. Simplesmente lindo!
    Quanta sensibilidade traçada em laços metafóricos, em uma poesia de cor, que expressa o negro da escuridão que em algum lugar nos habita.
    Eu sou suspeita para falar.

    Graça, querida, fiquei emocionada com o teu comentário em meu blog. Sinto que evoluo, mas tu tens enorme responsabilidade nisso.
    É a tua poesia que me assombra de palavras, de imagens inimagináveis.
    Tu és a poeta dos meus dias.

    Grande beijo no teu coração que é tão vermelho quanto a paixão que tu expressas pelas palavras.

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  25. Sempre com a fragancia poética na ponta da língua...

    Poesia com História e mar ao fundo...

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  26. ______________________________


    ...dá gosto de ler o que você escreve! Na sutileza da sua escrita, há sempre uma emoção pulsando... Gosto, gosto muito!


    Beijos de luz e o meu carinho!!!

    ___________________________

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  27. mesmo com lodo, são harpas que trazem uma boa melodia

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  28. Às vezes apetece apanhar um veleiro e ficar uns dias numa imersão iniciática e sem retorno para uma verdadeira viagem de autoconhecimento.
    Como não é fácil, viajo no teu magnífico poema, com a vantagem de não ficar enjoado...
    Beijos, querida amiga.

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  29. Já li o seu livro mais do que uma vez. É belo como todos os outros. Este poema é mágico e senti-me dentro de um barco com amor e medo do mar. Com o leito nas tábuas e nas rochas do mundo. Mas com os pulsos de sal do eterno sonho de marear. Lucidez de saber que o mar é lindo e criminoso. Terrivelmente belo. Como a vida. Um beijinho do amigo e admirador da sua arte elevadamente poética.

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  30. Mas há sempre um barco que nos salva.
    Que lindo, Graça!
    Beijinho.

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  31. Vais em boa companhia, querida Graça!
    "Let there be more light"... to reach the heart of darkness! Boa viagem!
    Beijo terno.

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  32. São tanta vez de trevas os caminhos do mar...
    entanto, há sempre algum barco fiável, para nos levar à luz!
    Muito belo, como sempre.
    Bjs.
    M.M.

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  33. Uma viagem ao coração das trevas em busca das ilhas naufragadas vale sempre a pena. É preciso ter coragem!E força interior.

    Beijinhos

    Bem-hajas!

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  34. Metáforas da maravilha. Linda viagem iniciática ao coração das trevas, das origens, da criação da luz. Bjos, minha amiga.

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