Pedro Alvarez
Coloco sobre o corpo um vestido vermelho
com peitilho de renda e digo tango.
O duelo das pernas: corças descomandadas
no ventre das chamas.
Repito tango.
O bandoneón de Astor Piazzola deixando na carne,
em desalinho, os gemidos da posse.
Ai, os lençóis do estio no suor da febre!
Ai, o mastro mais alto exasperando as águas!
Volto a dizer tango como quem esgota
o vinho novo na euforia da sede.
Graça Pires
De A incidência da luz, 2011