Aloés
De dezembro a fevereiro os aloés
florescem à beira das estradas.
Têm hastes longas presas aos cactos.
Cleópatra, dizem, utilizava-os para dar à pele
a beleza macia que entontecia os homens.
É por isso que nos fascina a sua cor
fortemente igual às laranjas antigas.
É por isso que há mulheres rendidas
aos poderes dos bálsamos obtidos das flores.
É por isso que se acredita na minuciosa
utilidade de lhes extrair o sumo,
o tónico, o gel e tantas outras coisas
que prometem a juventude eterna.
Como se não fossem perversos
os desígnios da morte.
Graça Pires
De A incidência da luz, 2011