Em tons de verde
Será transparente a
paisagem,
obsessivamente
vegetal,
que encaminha
as aves regressadas do norte?
Nenhuma ânfora
guarda o desencanto
consentido
pelas algas que se abandonam
à corrente e,
de muito longe, vêm morrer
nas praias à
míngua de mar.
É-nos familiar
o reverdecer dos campos
e o sussurro
dos canaviais seduzindo as águas.
Temos a boca
invadida pela verticalidade das heras.
Pelo som do
vento adivinhamos o dano dos insectos
ou a fértil
colheita da azeitona em novembro,
quando todas
as árvores celebram nas entranhas
da terra a
lenta penetração das chuvas.
Graça Pires
De A incidência da luz, 2011