29.10.12

Lugares que são faca e cinza


Rui Ochôa

Há lugares que têm a feição
das coisas instáveis e perecíveis.
Lugares sobrepovoados
onde os gatos vagueiam em silêncio
como se ouvissem os passos dos mortos.
Lugares com ruas sem saída e casas precárias.
Lugares que são faca e cinza,
lume e vento, lixo e medo.
Lugares onde empalidecem os dias
e as pessoas e os deuses, cada vez mais falíveis.

Graça Pires
De Uma vara de medir o sol, 2012

18.10.12

Convite

 
Agradeço a todas as pessoas que estiveram, no Porto, na apresentação do meu livro "Poemas escolhidos: 1990-2011". Bem hajam pela forma calorosa como me acolheram a mim e à minha poesia.
Beijos a todos.
 
 
 



Gostava de contar com a presença de todas as minhas amigas e de todos os meus amigos
e de todos os que desejarem ler-me.

12.10.12

Indago a forma definitiva do outono


Ana Pires
 
Indago a forma definitiva do outono.
Um diálogo pode mudar a paisagem.
Fazer nascer um poema.
Criar obsessões.
Destruir emboscadas.
Cada instante é a metamorfose
de uma asfixia interior.
Confundo os caracteres e um imaginário
se revela numa iconografia fantástica.
Nas entrelinhas, um espectáculo de ironias
reitera entregas e recusas
como um dever por cumprir.
 
Graça Pires
De Outono: lugar frágil, 1994

5.10.12

O cheiro das vindimas




Um tumulto de uvas prematuras ecoa pelas vinhas
profanadas por sebes de adubo na fenda dos ventos.
No início do outono o cheiro das vindimas
perturbará o sono das crianças.
E o vinho quebrará todos os copos
para que o não bebam os homens
que habitam os espelhos da culpa.

Graça Pires
De Uma vara de medir o sol, 2012