18.3.14

O poeta



Por haver quedas de água nos seus olhos,
é que é possível intuir, no sulco do poema,
a livre aprendizagem da vida.
Incessante, a sua voz se eleva em rotação de luz
e rompe o círculo das sombras
tão próximo dos lábios
que mais parece a íntima alegria de cantar.
Entre os seus dedos uma ave palpita,
perturbada, como se urdisse em seu voo
o perfil azul-claro das manhãs.
O poeta tem sonhos de barro
enrolados na garganta : o lugar
onde os deuses sopram
a pulsação das palavras
e refazem o sentido dos dias.

Graça Pires
De Ortografia do olhar, 1996

40 comentários:

  1. "O poeta tem sonhos de barro enrolados na garganta"
    Gostei desta imagem e de todo o poema. É fantástico, querida amiga Graça.
    Beijo.

    ResponderEliminar
  2. E tudo é claro...
    Lindo, suave...
    Gostei muito
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar
  3. Tudo se move no ciclo das marés

    Belo como sempre

    ResponderEliminar
  4. "O poeta tem sonhos de barro" dizes tu, amiga, mas consegue-os transformar em palavras cristalinas que nos encantam...

    Beijinhos, Graça

    ResponderEliminar
  5. Somente ao poeta, é dada essa capacidade, de ter sonhos de barro enrolados na garganta, de mudar o sentido do movimento giratório da terra, bem como o de transformar lágrimas em pérolas preciosas.
    Adorei o poema, as imagens e a forma sublime como chega até nós.

    Beijinho Graça!

    ResponderEliminar
  6. Que poema fabuloso!
    " O poeta tem sonhos de barro enrolados na garganta : o lugar onde os deuses sopram a pulsação das palavras e refazem o sentido dos dias. "
    E aqui reside o segredo da inspiração dos Grandes Poetas, como a Graça. Beijinhos. Ailime

    ResponderEliminar
  7. os sonhos do poeta enrolados na garanta são de barro, podem sempre moldar-se em palavras.
    um poema belíssimo.
    obrigada!

    :)

    ResponderEliminar
  8. Uma textura poética com a sapiência e sabedoria dos mestres. E na pulsação das palavras também há vozes de luz.
    Maravilhoso, Graça.
    Beijinho

    ResponderEliminar
  9. Muito bela a imagem da ligação do poeta aos deuses! Ou será antes dos deuses ao poeta?!

    Beijinhos, Poeta!

    ResponderEliminar
  10. WOW! Absolutamente incrível este poema! Não sou crítica literária nem tenho formação nenhuma mas atrevo-me a dizer que é um dos seus melhores! Adorei mesmo!
    um abraço

    ResponderEliminar
  11. O poeta tem sonhos de toda a forma, prontos a ser moldados em quedas de água ou outras.

    Uma escrita sensacioonal.

    Beijos

    ResponderEliminar
  12. Bom dia, Graça
    Desculpa a invasão... mas tenho visto comentários teus por aí... e hoje decidi entrar.
    Em boa hora o fiz!
    Achei este poema simplesmente maravilhoso!
    Os poetas têm sonhos, sim, mas muitas vezes ficam "enrolados" na garganta.
    Vi também posts anteriores, de que gostei imenso.

    Gostaria de me fazer seguidora, mas "Mister Google" não me deixa, não sei porquê. Terei que aguardar que lhe passe a birrinha, e depois fá-lo-ei.
    Entretanto, vou colocar o endereço entre ao meus Favoritos, e voltarei sempre que possível.

    Um muito feliz Dia do Pai.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  13. Gostei sentidamente, Graça. Só um poeta sente os seus sonhos de barro e deixa-os ao sabor dos deuses. Os meus são nuvens transparentes que me apertam o coração.
    O resto duma boa semana.

    ResponderEliminar
  14. Será uma andorinha que mora na garganta da poeta a moldar o barro em melodias de palavras? Uma emoção de pelinhos em pé, este poema.

    ResponderEliminar
  15. «entre os seus dedos» tecem-se palavras de uma beleza invulgar!

    Beijinho

    ResponderEliminar
  16. a liberdade das palavras do poeta...

    abraço Graça

    ResponderEliminar
  17. Obrigado, poeta!!!
    Belo, belíssimo!
    Kandandu
    Namibiano

    ResponderEliminar
  18. "...é possível intuir, no sulco do poema, a livre aprendizagem da vida."
    Profundo e muito belo! Todo o poema é cheio de imagens sublimes e emocionantes. Eu adorei!
    Beijo.

    ResponderEliminar
  19. Hoje li-a em voz alta.

    E apetece-me deixar-lhe algo de Nemésio.

    "Nem o abstracto nem o concreto
    São propriamente poesia.
    Poesia é outra coisa ".

    Abracinho.

    ResponderEliminar
  20. entre dedos

    habitam os deuses das palavras com sentido

    porque poeta, um abraço, Graça

    ResponderEliminar
  21. Hoje Dia Do Blogueiro..
    Venho te deixar meu abraço
    carinho e agradecimento
    por caminhar comigo .
    Que durante muitos anos ainda possamos
    caminhar juntos levando paz e amor.
    Beijos no coração .
    Evanir.

    ResponderEliminar
  22. Das cataratas do poema surgem as quedas de água dos olhos do próprio poeta...

    Gostei muito deste post.

    Um beijinho amigo

    ResponderEliminar
  23. Esse é um dos poema teus de que mais gosto.

    Teus dedos, Graça, são alados de palavras, cujo voo, incessante e divino, deixa o rastro da mais intensa e luminosa poesia.


    Um beijo, minha amiga querida!

    ResponderEliminar
  24. Hoje Dia Internacional de Poesia
    não podia deixar de vir aqui
    e deixar-lhe um beijinho.
    A poesia torna a vida muito
    mais sensível.Bj.Irene Alves

    ResponderEliminar
  25. talvez os deuses invejem o barro dos homens - e as quedas de água dos olhos...

    a tua poesia no entanto arrebata, o fogo dos deuses...

    (sem derreter as asas)

    beijo

    ResponderEliminar
  26. Bom dia , poetisa Graça !
    Seu blogger é encantador , e todo esse encanto está contido na beleza das suas palavras :" O poeta tem sonhos de barro ". Simplesmente fantástico este verso , que eu considero o núcleo do poema que designa muito bem o título " O poeta" . Desde já tens a minha admiração e participação neste seu belo recanto .

    Tenha uma semana de paz !!!!

    ResponderEliminar
  27. Todos os poetas bons deste mundo são seres maravilhosos,eu admiro as pessoas que têm jeito para fazerem poemas,admiro-as mesmo muito. Desejo-te as maiores alegrias e imensa saúde,fica com deus!! http://sandrasofiaafonso1.blogspot.pt

    ResponderEliminar
  28. É com a força das palavras do poeta que os 'sonhos de barro enrolados na garganta'refazem o mistério da vida.

    O poeta afirma e reivindica uma condição propícia à alegria, uma ética do querer insubmisso, livre e rebelde, desafiando o destino a que os deuses nos querem conformar.

    ManuelFL

    ResponderEliminar
  29. Boa tarde, Graça. Justamente através das palavras, que os poetas dão vida às palavras, que ganham forma e um destino diferente, um alcance real ao coração de quem os lê e sente.
    Poetas são seres moldados através do que o de melhor existe, seja na alegria ou tristeza, é sempre um aprendizado diário.
    Tenha um fim de semana de paz!
    Beijos na alma!

    ResponderEliminar
  30. Bom domingo!
    Maravilhoso Poetar!

    Teu estilo me agrada e me sensibiliza.
    PARABÈNS
    Sinval

    ResponderEliminar
  31. "O poeta tem sonhos de barro enrolados na garganta"...
    gostei, gostei doce Graça.
    brisas doces ***

    ResponderEliminar
  32. Graça,
    Muitas vezes o poeta desespera por esse lugar, onde os deuses sopram...
    Excelente!

    Beijo :)

    ResponderEliminar
  33. "Por haver quedas de água nos seus olhos, é que é possível intuir, no sulco do poema, a livre aprendizagem da vida" A vida é um poema. Cabe-nos iluminá-la e deixá-la seguir o seu caminho...

    Bjs Graça! (Já podes ouvir as músicas no meu blogue)

    ResponderEliminar
  34. Quando admiro demais, custa-me comentar.

    ResponderEliminar
  35. Olá Graça,
    As palavras ganham vida própria.
    Intenso. Diz tudo.
    Abço

    ResponderEliminar
  36. "...O poeta tem sonhos de barro
    enrolados na garganta : o lugar
    onde os deuses sopram
    a pulsação das palavras
    e refazem o sentido dos dias."

    O poeta tem sonhos de sal, enrolados no olhar
    há uma pulsação nestas palavras que se acerta com o bater do coração.

    Um grande beijo Graça
    <3

    Olívia

    ResponderEliminar
  37. "Entre os seus dedos uma ave palpita, perturbada..."

    Graça, não sei comentar teus poemas. São belos demais. E, diante do belo, calo-me... Quero dizer, mas não sei.

    Beijos, poeta querida.

    ResponderEliminar