19.2.18

Em seara alheia




Infância

Lembras-te
Do chão frio da estrada?
Da roupa de lã grosseira
Remendada, rasgada
E vestida de qualquer maneira?
Das jogas quentes na mão
Que o Inverno
Teimava em arrefecer?
Lembras-te da roupa molhada
Pregada ao corpo franzino
Arrepiado e dorido?

Lembras-te
Da masseira vazia e nua
Da sopa crua,
Do candeeiro,
Do halo, luz mortiça
E do vento a entrar
Pelas vidraças?

Lembras-te? 
Quando a tempestade caía
E tudo parecia desabar!?
Que medo!
Mas, e falar?
A voz perdia-se na noite fria da tempestade
Lá fora
E cá dentro.
E o medo adormecia a medo
E a manhã acontecia devagar.

Fátima Almeida
In: A sombra dos dias.- Fafe: Labirinto; 2016, p. 24-25

51 comentários:

  1. Este livro “A Sombra dos Dias”, de Fátima Almeida é dedicado às pessoas, lugares e memórias que constituem as raízes da autora. Com uma escrita cuidada, comovente por vezes, tem a emoção e o fulgor poético necessários ao agrado de quem a lê.
    Parabéns Fátima Almeida!

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  2. Lindo convite à boa lembranças...Beleza! beijos, ótima semana,chica

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  3. Parabéns! Um poema muito bonito!! Amei

    Beijos e uma excelente semana.

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  4. Memórias sombrias... nunca esquecidas porque há sempre esperança...
    Gostei muito..
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  5. Gostei imensamente, retratando a infância, nossas memórias.
    Parabéns a autora e a você pelo compartilhamento tão bonito.
    Beijo, querida Graça. Uma ótima semana aí nesse frio... mas que tem lá suas belezas.

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  6. Fátima Almeida. Mais uma poeta que me apresentas, Graça. Mais uma agradável surpresa. Viver a Ortografia do Olhar me encanta. Sempre. Beijo, Graça, e muito obrigado por tudo.

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  7. https://poemasdaminhalma.blogspot.pt/
    Olá Graça, Belíssimo poema... "a Infância". Quem se não lembra da infância, da rua molhada, da estrada gelada, de memórias sombrias que nunca foram esquecidas. Belíssimo, gostei, obrigada pela visita e uma óptima semana.
    Beijos e volte sempre.
    Luisa Fernandes

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  8. Lembrei a minha infância ao ler este belo poema...obrigada!A saudade é coisa séria!

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  9. Olá,querida amiga Graça!
    Tem vezes que o medo precisa andar mesmo devagar para não nos paralisar de todo...
    Amei o poema da autora referida. Serviu-me de pontuação para meu medo...
    Seja muio feliz e abençoada junto aos seus amados!
    Bjm de paz e bem

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  10. Recordar a infância comum a tantos de nós é sempre bonito e salutar. As memórias que temos paradas mas não esquecidas.
    .
    * Aroma da papoila ... E a outra face do sentimento *
    .
    Resto de dia feliz.

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  11. oI, Poetisa/mestra, Graça Pires !
    Quantas lembranças, vertidas no belo texto
    de Fátima Almeida, espelhando sua "Infância".
    Muito grato, uma feliz semana e um carinhoso
    abraço, aqui do Brasil.
    Sinval.

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  12. Por maior que seja ainda hoje o conforto, ninguém ficará indiferente a raiva de um temporal . E este medo ainda hoje se sente
    Maravilhosa a poesia de Fátima de Almeida
    Obrigada querida amiga por partilhares
    Beijinho , Graça😘😘

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  13. Lendo o belo poema Infância fui transportada para a minha meninice e quantas saudades boas afloraram em minha mente. Um poema belíssimo
    Um grande beijo para ti, amiga Graça

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  14. A passar por cá para conhecer mais um bonito poema.


    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  15. Fátima Almeida? Não conhecia até os seus versos me levarem de volta à minha infância. Agora, vou pesquisar.
    Obrigada Graça, ao divulgares aqui outros poetas, mostras que tens um coração do tamanho da tua obra: GRANDE!
    Beijo, amiga.

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  16. Não conhecia a Fátima Almeida mas gostei bastante do poema.
    Um abraço e boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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  17. Bom dia. Que encanto de poema. Adorei:))

    Hoje:- Serenata em telepatia
    .
    Bjos
    Feliz Terça-Feira

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  18. A vida de muitos não é fácil.

    bjokas =)

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  19. Olá Graça
    Belo poema, bjs querida.

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  20. um poema que denota uma certa nostalgia (quase angústia) das memórias.
    no entanto um poema muito sentido e cheio de sentimentos.
    beijinhos
    :)

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  21. Lindíssimo, este poema de Fátima Almeida!
    Imbuído de tristeza, mágoa duma infância não muito feliz, é comovente e inspira grande ternura.

    Obrigada pela presença na Festa de Aniversário da minha “CASA”.

    Votos de uma boa semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  22. Boa noite Graça,
    Um poema magnífico, que emociona!
    Memórias das infâncias de tantos de nós.
    Obrigada pela partilha.
    Um beijinho, minha Amiga.
    Ailime

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  23. Quem não se sente tocado por poemas que falam de nós, noutro espaço, noutro tempo?
    Bela partilha.
    Bjinho, Graça

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  24. Precioso poema de la infancia, placer leerlo.
    Abrazo

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  25. "E o medo adormecia a medo
    E a manhã acontecia devagar."

    Arrepiante e muito belo. É a infância sofrida.

    Parabéns, Graça, pela colheita em seara alheia.

    Beijinhos.

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  26. Lindo, lindo, lindo.Vivi cada verso com o mais pequeno detalhe.Segui, e espero ansiosamente por mais publicações.Fica aqui também o link de acesso ao meu cantinho para se puder dar lá um saltinho.Um beijo enorme. http://emiliasilva16.blogspot.pt/

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  27. Lembranças de uma infância vivida com bravura...
    Poema muito bom!
    Beijinho

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  28. Lembro e conto muitas vezes esses tempos da minha infância vividos na aldeia onde nasci. Em muitas casas a " maceira estava vazia, o vento entrava pelas frestas de portas e janelas e o frio gelava mão pés e coração ; a lareira lá ia fazendo o seu trabalho, aquecendo a cozinha e fazendo o caldo para a ceia. À luz da candeia de petróleo ou das velas de cera lá mitigavam a fome com o caldo e um naco de pão de milho preparando-se para dormir em camas desconfortáveis, aconchegando-se os filhos uns aos outros para se aquecerem. Sim, amiga, ainda sou do tempo em que não havia luz electrica na aldeia onde nasci e onde muita gente ficava feliz com um caldo de couves e um naco de pão envelhecido dentro da maceira. A compensar, havia as alegres correrias pelos campos, as brincadeiras debaixo das ramadas e as gargalhadas dadas quando, apanhando as amoras das silvas que ladeavam as estradas de terra, diziamos umas para as outras : " gostas de amoras? ...vou dizer ao teu pai que já namoras". Como nunca me faltou o pão, recordo com saudade aqueles tempos de infância na aldeia onde nasci. E, como vi, senti de perto todas essas dificuldades nos meus amigos vizinhos, adorei ver esta bela homenagem a todos aqueles que abriam as maceiras e nelas só encontravam alguma farinha, lembrando as broas cozidas há semanas, mas que delas ja5 nada restava. Tantas maceiras eu vi assim, Graça. Obrigada por nos dares a conhecer este poema tão belo, mas ao mesmo tempo triste que retrata uma época muito, muito dificil. Beijinhos
    Emilia

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  29. Lembro-me de tanta coisas desta lista :)

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  30. i love all the things you write...i'm very adult (54yo) and i'd like to remember...

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  31. Uma lembrança bem sofrida de tempos difíceis.
    Tão triste mas tão belo.
    Beijinhos
    Maria de
    Divagar Sobre Tudo um Pouco

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  32. Adorei! Tão boas lembranças! ;)

    beijos!

    https://ludantasmusica.blogspot.com.br

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  33. Ah... you brought back my beautiful world when i was little ,parents and grandparents were alive ,we were together and so happy
    i used to play with my girlfriends on hills and in fields ,swim and swing ,rocking on tree branches you made me cry

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  34. Felizmente que as condições de vida melhoraram muito (pelo menos para a maioria das pessoas).
    Gostei do poema escolhido, embora não me lembre da autora.
    Continuação de boa semana, amiga Graça.
    Beijo.

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  35. Tempos difíceis, tão bem descritos. Sente-se em cada palavra a dor, o sofrimento de quem merecia da vida momentos doces e agradáveis: as crianças.

    Parabéns à autora e à querida amiga Graça pela divulgação.

    Beijinhos

    Olinda

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  36. Minha querida Gracinhamiga II

    Venho aqui fazer uma confissão: nunca tive uma infância como esta pois venho duma pequena burguesia, até faleceu o meu Pai, Henrique Silva Ferreira em 1959, ou seja quando eu tinha 18 anos.

    A partir daí, até assentar praça no exército, aos 22 anos, "ir para a tropa" como então se dizia, fou um mar tormentoso onde entre um maço de tabaco negro (Gitanes, sem filtro) ou um prato de carapaus fritos com arroz de tomate e um copo de tinto, optava pelo primeiro e ficava com uma larica daquelas dos.. dos dezoito anos...

    Por isso entendo bem o poema da Fátima Almeida cuja poesia desconhecia, mas o nome conhecia bem, Deste-me a ler este poema lindíssimo, trágico mas, belo, triste, mas mas emocionante, enfim maravilhoso. Por favor fá-lhe os meus parabéns o que desde já te agradeço.

    Bjs do teu amigo e sempre admirador

    Henrique, o Leãozão

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  37. Um poema tão belo e tocante no dorido, tatuado do
    imaginário da criança:
    "E cá dentro.
    E o medo adormecia a medo
    E a manhã acontecia devagar."
    Parabéns à poeta Fátima Almeida.

    Grata pela partilha, você sempre
    divulgando a Poesia.
    Beijos, querida Graça!

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  38. 'E o medo adormecia a medo': adoro.

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  39. Achei lindo, gosto do sentimento que transmite, de inocência mesmo. Bom fim de semana

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  40. linda poesia amiga Graça! Uma bela recordação de infância da autora. Parabéns! Abraços, bom fim de semana.

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  41. Comovente, sensível e o sentimento do arrepio da inocência de se ser criança. Gostei muito.
    Um grande abraço de carinho e bom fim de semana.

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  42. Duras realidades... que infelizmente ainda estão tão presentes... no presente de tantas crianças... estou-me a lembrar de cenários de fome e de guerra...
    Um poema que nos toca fundo! Mais uma belíssima partilha, Graça! Adorei cada palavra!
    Beijinho! Votos de um excelente fim de semana!
    Ana

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  43. A dura vida, na bela expressão poética.
    Beijinho meu

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  44. OI GRAÇA!
    REALIDADE DURA, RETRATADA POETICAMENTE, CHEGA A SER BELA, OU SÃO OS VERSOS MAGISTRAIS QUE LHE DÃO BELEZA?
    ABRÇS AMIGA
    https://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  45. A very sensational poem! Touched my heart!
    Hugs and Kisses

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  46. Ainda há quem não prescinda das memórias. Ainda bem.

    Gostei muito, Graça.

    Um beijinho :)

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  47. Oi flor uma linda noite, bjs no coração

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  48. O que fazer da vida sem invenção e memória? É pela percepção imediata que nos é possível realizar a comunhão com a essência deste poema. Da perspectiva do olhar adulto o mergulho "nos fantasmas" da infância poeticamente! Pela transfiguração da linguagem.
    Bela partilha, Graça!
    Um beijo,

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  49. Gracias por pasar por mi blog.
    Y dejar tus aportaciones a mi blog.
    Besos

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  50. Gracias por pasar por mi blog.
    Y dejar tus aportaciones a mi blog.
    Besos

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