Ainda não sei
Ainda não sei como contar-te que cresci
sem mar. Que andei a verter sangue a vida
toda, de coração golpeado pelas cercas vivas
dos meus lugares. Não sei como contar-te
da minha ânsia de fugir, de correr até à praia
e cegar a memória, de como me atirei
em desespero contra os espinhos, e de como
sangrei, exausta, na sombra dos fracassos.
Agora cheguei ao mar e o sal arde-me
nas feridas. Tenho um chão de areia quente
que me queima os pés, tão gastos de correr.
Cheguei ao mar. Ao espanto comovente
do mar, e permaneço imóvel. Tão quieta
como as rochas ao longe.
Sou livre e não me movo.
Não sei como se faz isto de viver.
Virgínia do Carmo
In: Ecos de Green Rose. Poética, 2019, p. 35
Mas, depois avançamos... Por muito duro que pareça o caminho, as tempestades e mesmo a fúria do Mar... encontramos a força para o desbravar...
ResponderEliminarLindo...
Beijos e abraços
Marta
MARAVILHOSA poesia! Adorei ler, reler e a intensidade é tocante! bjs, chica, linda semana!
ResponderEliminarUm belíssimo poema construído a dois tempos
ResponderEliminare tendo o mar como objecto-anseio e fronteira
intransponível do desassossego.
Esta “… ânsia de fugir, de correr até à praia
e cegar a memória…” traduz uma vontade de
sarar todo o passado e enfrentar uma nova forma
de viver.
Muito bom, mesmo. Isto é poesia, simples e transparente.
Parabéns, minha Amiga Graça, por esta partilha-selecção.
E, da Virgínia do Carmo, já eu tinha a certeza de ser uma
enorme poetisa. Parabéns a ela, também.
Uma boa semana, com um beijo amigo.
ResponderEliminarUm dos poemas mais belos que já li.
À força de não se ser livre, quando isso
acontece não se sabe bem o que fazer com
tamanha liberdade. E então, a assimilação
só se fará a pouco e pouco de forma a curar
as feridas, sabendo que o mar - mar de
onde eu venho - com os horizontes a bordarem
o infinito, será a sua expressão maior.
Parabéns à autora e a si, amiga Graça, por
trazê-la ao nosso conhecimento.
Beijo
Olinda
Um poema muito bonito
ResponderEliminarMestra, Graça Pires !
ResponderEliminarParabaéns por haveres selecionado, e depositado
em " Seara Alheia", um texto tão belo, da lavra
de Virgínia do Carmo.
Realmente, Amiga, de apurada qualidade.
Um ótima semana e um carinhoso abraço,
aqui do Brasil !
Sinval.
Um belíssimo poema em cuja cifra me revejo.
ResponderEliminarTambém eu não sei. Ainda.
Sei da sede do suor, do sal mais frio que corta a golpes, as mãos, os pés e
a alma e sei que o sangue esvaido
na areia foi em vão.
Beijo, Amiga Graça.
Gostei, ainda bem que a gente cresce.
ResponderEliminarbjokas =)
Mesmo sem saber , toda a gente acaba por desbravar os caminhos a que chamamos viver.
ResponderEliminarBeijinho e linda semana
"Não sei como se faz isto de viver..."
ResponderEliminarPoeta de pura emoção... Adorei, Graça, muito obrigado por apresentar. Ótima tarefa de divulgar a sua, amiga. Vou procurar mais poesia dela.
Abraço grande.
Boa tarde Graça,
ResponderEliminarUm poema belíssimo da Virgínia Carmo, uma excelente Poeta também.
"Não sei como se faz isto de viver".
Será que algum dia saberemos?
Beijinhos, minha Amiga Graça, e uma boa semana.
Ailime
Excelente escolha, Graça
ResponderEliminara nossa amiga Virgínia do Carmo para além do notável trabalho de edição (POÉTICA Edições)
é uma Poeta extraordinária. Outro fosse o mainstream cultural e a Virgínia do Carmo seria uma poeta conhecida e reconhecida!
abraço as duas,
com carinho e admiração.
Gostei muito de ler "Ecos de Green Rose". Virgínia do Carmo tem sensibilidade poética apurada. Estive no Sardão e fiquei fascinada pela envolvência do lugar e pelo intimismo da apresentação do livro. Parecia ser uma homenagem à terra e às pessoas. Uma ação de graças.
ResponderEliminarEscolha acertada, querida Graça!
Beijinhos.
amiga mais um lindo poema obrigada pela tua partilha gostei mt bjs
ResponderEliminarUma poeta que se inspira em Sophia :). E é jovem, tem muito mundo e tempo para o desbravar.
ResponderEliminarE que assim seja.
Moderno y bonito poema
ResponderEliminarTriste,lindo e com uma escrita impecável.
ResponderEliminarBoa semana Graça Pires.Bjs
Olá, amiga Graça, mas que belo poema de Virginia do Carmo!
ResponderEliminarViver não é de uma hora para outra que se aprende, às vezes se leva uma vida inteira e tudo acaba em frustração. Poema que nos mergulha fundo em reflexões, em querer acertar diante das decepções e da inexperiência. Um poema sofrido mas extremamente belo.
Gostei imenso, amiga!
Vou procurar saber mais dessa poeta.
Beijos as duas.
Mais um bonito poema.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Olá Graça
ResponderEliminarBelo poema, desejo um ótimo dia. Bjs
Um poema sublime :)) Obrigada :))
ResponderEliminarVoltei... Quando o sol surge pela aurora.
Bjos
Votos de uma óptima Terça - Feira
É sempre um gosto ler as palavras da Virgínia.
ResponderEliminarBoa semana, Graça. :)
Beijo
Também "ainda não sei" o que dizer da inquietante, indomável e a livre palavra poética de Virgínia do Carmo. Vigoroso Poema. Gostei muito desta partilha!
ResponderEliminarUm beijo, minha amiga Graça!
Uma carga dramática muito pesada...
ResponderEliminarPara quê fazer a vida mais pesada do que é na realidade?
De facto há casos especiais em que assim acontece, mas
merecia uma referência.
Hiperbolizar o sofrimento? Acho que é imaturidade.
Dias muito agradáveis, minha Amiga.
Um terno abraço.
~~~~
Da minha modesta perspectiva, diria que é um magistral retrato poético dos desencontros e paradoxos que, também, quando não mesmo, essencialmente compõe o mistério da Vida: ...após "crescer sem Mar", com todas as intermédias e "sangrentas feridas"... "Agora cheguei ao mar e o sal arde-me
ResponderEliminarnas feridas. Tenho um chão de areia quente
que me queima os pés, tão gastos de correr.
Cheguei ao mar. Ao espanto comovente
do mar, e permaneço imóvel. Tão quieta
como as rochas ao longe.
Sou livre e não me movo.
Não sei como se faz isto de viver"
Fantástico!
Parabéns e obrigado por criar Arte própria e no caso partilhar Arte alheia, em qualquer caso com Arte como denominador comum.
Excelente resto de semana
Beijo
VB
one of the most powerful piece of poetry dear Grace!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderEliminarsometimes we take granted what we have and run after mirage
or sometimes it is too late to reach dream destination and things are not as glittering as they used to be earlier
thank you for such sensitive and intriguing poem my friend !
Lindo!
ResponderEliminarResolvi voltar aos poucos, agradecendo todo o apoio e carinho que me têm endereçado. Peço desculpa por ser mensagem “ copy past” mas só assim posso “ chegar a todos” porque o merecem. Obrigada!
.
Soltando aquela criança, enquanto deambulava
Beijos e um excelente dia.
Lindo poema, prezada amiga! Mas deprime um pouco. Gosto de me elevar com a poesia, mas já fui fã de Augusto dos Anjos, poeta da morte: "ninguém assistiu ao formidável enterro da tua última quimera, / Somente a ingratidão, essa pantera, / Foi a tua companhia inseparável. / Amigo, acostuma-te a lama que te espera, / Pois quem nessa terra miserável habita entre feras, / Sente a inevitável necessidade de também ser fera"....
ResponderEliminarPorém é válido! Como disse Fernando: "ninguém se perde na vida - tudo é verdade e caminho." Meu abraço fraterno e gratidão! Laerte.
Lindo poema, forte, vibrante e gritante!
ResponderEliminarUm abraço carinhoso...
Denso, rico e vibrante, este poema de Virgínia do Carmo, com o qual nos brinda hoje. A liberdade é uma prisão que embriaga, quando se torna, finalmente, tangível. A vida é complexa, contraditória, angustiante e incompreensível, mas deve ser vivida mesmo que, para a esmagadora maioria das pessoas, seja apenas soletrada.
ResponderEliminarBjs.
Bela sempre sua generosa partilha e escolha em searas alheias.
ResponderEliminarLindo poema com um final maravilhoso e fatal da inquietude humana.
Carinhoso abraço Graça.
Beijo amiga.
Desconfio que ninguém sabe!
ResponderEliminarVoltei mais cedo. A inspiração é caprichosa!
Bjo e uma boa quinta-feira!
Belíssimo!
ResponderEliminarAndamos toda uma vida com um vazio por preencher, a esfarrapar-nos contra esquinas agrestes que nos cerceiam; quando, por fim, nos libertamos ficamos, tantas vezes, mudos e quedos sem conseguir absorver a realidade.
Beijinhos, amiga Graça!
Gosto da poesia da Virgínia do Carmo e este magnífico poema não foge à regra.
ResponderEliminarGraça, continuação de boa semana.
Beijo.
Graça
ResponderEliminaruma excelente escolha.
sempre gostei do trabalho da Virgínia do Carmo, pois sempre nos pautou com excelentes poemas.
beijinhos para ambas.
bom fim de semana.
beijinhos
:)
Uma bela, poderosa, e comovente inspiração... e testemunho!...
ResponderEliminarFico imaginando, quantas pessoas ainda viverão toda a sua vida, longe do mar... de nem sempre terem a possibilidade de com ele conviverem e o poderem apreciar...
Sublime partilha, Graça! Adorei!!!
Um beijinho grande! Bom fim de semana!
Ana
Poema de quem muito lutou.
ResponderEliminarBoa entrada de mês de julho.
abçs
OI GRAÇA!
ResponderEliminarLINDO DEMAIS GRATA PELA PARTILHA AMIGA.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.bcr/
Muy bello.
ResponderEliminarAbrazo
Hola gracias por tu visita y comentario
ResponderEliminarte lo agradezco mucho
espero que estés bien
cuídate mucho
no sé si te comenté que publique otro libro de poemas te paso la web por si deseas verlo
https://editorialcirculorojo.com/se-vende/
Besos
Olá, querida amiga!
ResponderEliminarTambém «não sei como se faz isto de viver», e acho que morrerei sem saber.
Mas sei... que as tuas "searas alheias" são sempre maravilhosamente bem escolhidas.
Beijo.
Às vezes também se colhe bem em searas alheias, e que frutos!
ResponderEliminarTampouco sei, esse mar sem fim, como diz o fado, pode levar-nos a portos complexos. Olha os leixões de Leixões!
Beijinhos desde terras valencianas
"Sou livre e não me movo.
ResponderEliminarNão sei como se faz isto de viver."
Que maravilha!