23.3.20

Em seara alheia


À DERIVA

O mundo é essa nau em desgoverno
que insisto em prender
em minhas mãos inábeis
como aqueles barcos de papel
que eu lançava na enxurrada
e interceptava na esquina
antes de adernar no córrego sujo

Não, eu não pude com seu
pesado trajeto
sendo arrastado na correnteza febril
da realidade e dos exílios

É esse objeto sem tamanho e sem rumo
que não cabe nos meus olhos
nem conhece o rosto da minha amada,

de onde emergem as perguntas
que nunca saberei responder

Endereço onde moram
todos os abismos

Ronaldo Cagiano
In: O mundo sem explicação, Lisboa: coisas de Ler, 2019, p.52

55 comentários:

bea disse...

muito adequado aos ventos que correm.

chica disse...

Muito linda tua escolha! Gostei ! beijos e muita saúde, vivida EM CASA!! Aff... chica

" R y k @ r d o " disse...

Bom dia:- Soberbo. Poeticamente perfeito
.
Feliz início de semana.

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de saúdede e paz, querida amiga Graça!
Muitas vezes o Amor nao pode ou não quer alcançar ou ser alcançado.
Assim, neste estado de deriva, interceptamos toda e qualquer chance de sermos e fazermos felizes.
O poema do autor é muito expressivo.
Obrigada pela partilha.
Tenha dias abençoados na proteção contra o vírus impiedoso!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

A Paixão da Isa disse...

desejo tudo de bom mta saude lindos dias vam vir bjs

Marta Vinhais disse...

Por vezes, andamos mesmo à deriva...Sem saber se podemos voltar para o que tão bem conhecíamos...
O Mundo vai continuar a girar... mas nós deixaremos de estar à deriva...
Lindo...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Olinda Melo disse...


É isso. O mundo não cabe nas nossas mãos.
Talvez, em recolhimento, consigamos compreendê-lo
e ver as vicissitudes que se nos apresentam
como alavanca para seguirmos em frente. Nós ou
os vindouros.

Belo poema da sua Seara alheia. Parabéns ao autor.
Obrigada, querida Graça, por no-lo trazer.

Beijinhos
Olinda

Agostinho disse...

E como preencher esses abismos?
A cocofonia é muita e as respostas nenhumas?
A Natureza reduz à dimensão de ser-se indiatinto: ser igual entre iguais.
Não se tenha a presunção de Senhor que a plebe está pronta...
Até para o acolhimento como iguais.

Que a saúde permaneça em nós, Amiga Graça Pires.
Beijo.

Micaela Santos disse...

Um poema que retrata a nossa realidade actual!
Estamos a navegar num barco por mares desconhecidos, não sabemos o que nos espera!
Que Deus oriente o nosso caminho!

Daniel Costa disse...

Bela opção, como belo é o poema de Ronaldo Cagiano Graça Pires. Aprender ou ver como escrever e o que escrevem outros poetas é alargar horizontes. Beijos

As Mulheres 4estacoes disse...

Olá, Graça!

Com os últimos acontecimentos, estamos mesmo nos sentido a deriva, inseguros com o amanhã.

Há tantas perguntas sem respostas que guardamos em nosso íntimo.

Gostei de ler Ronaldo Cagiano, de quem nunca havia lido nada.
Obrigada pela partilha.

Um abraço

Maria Emilia B. Teixeira disse...

Não se deve mergulhar em uma pessoa acostumada com o raso.
A reciprocidade das relações tem nome de coragem... De querer amar, é uma escolha que deve ser cumprida a dois.
Que Deus nos proteja dessa ameaça corona vírus, estamos todos no mesmo barco. Bjs.

madrugadas disse...

Excelente poema. Hoje e agora uma realidade que atravessamos. Momentos de uma realidade sem governo nem limites.
Que será de nós? O homem perdeu o controle.
Que Deus nos acuda e salve as nossas crianças.

madrugadas disse...

Olá, boa tarde.
Um poema e um momento que traduz a nossa ansiedade, o medo que nos consome na actualidade.Tudo vai acontecendo sem previsões nem capacidade de cura.

Cidália Ferreira disse...

Muito bonito, este poema. Adorei!!
Espero que esteja bem!

-
Beijos e uma excelente semana

Agostinho disse...

indistinto

alberto bertow marabello disse...

boa semana para você também, amiga poeta.
Eu sempre gosto de ler você.
Grazie, un abbraccio

O Puma disse...

Tantos são os sinistros vírus ainda à solta
Bj

Margarida Pires disse...

Endereço onde moram todos os abismos.
Como gostaria de mudar palavras tão sombrias.
Para palavras doces e singelas.
Mas, o homem perdeu o controle do paraíso.
Agora que o Criador com a sua luz nos proteja.
Um beijinho esvoaçante querida Graça.💖
Megy Maia

Teresa Durães disse...

Parece um poema para os dias de hoje, bom, os dias de hoje têm décadas, gostei do que li

teresa dias disse...

Olá, Graça!
Neste tempo de «deriva» foi perfeita a escolha do poema.
Parabéns ao poeta, obrigada a ti por partilhares.
Juntos venceremos o malvado vírus.
Beijo, fica bem querida amiga.

Gracita disse...

Olá Graça
Estamos nos sentindo bem assim... à deriva sem saber que rumo tomar em meio a esse caos
Só com fé poderemos vencer e sair desse estado de grande preocupação
Beijinhos

CÉU disse...

Olá, estimada Graça!

De facto, o mundo é aquela "coisa" que não conseguimos travar, nem governar. As nossas mãos são pequenas e pouco hábeis para o fazerem, mas, tentemos, sobretudo agora, sugiro eu.

Beijos e boa semana.

Ailime disse...

Boa noite Graça,
Um poema magnífico de um autor que ainda não conhecia.
Neste momentos, andamos todos à deriva como um "barquinho de papel" na enxurrada...
Até quando, não sabemos!
Vamos ter fé, paciência, esperança, que o rumo seja encontrado quanto antes.
Um grande beijinho, minha Amiga e Enorme Poeta, e continuação de boa semana.
Saúde para si e sua Família.
Ailime

JUAN FUENTES disse...

Tu amas a los libros,y ama a la literatura.

Lucinalva disse...

Olá Graça
Estamos passando por momentos difíceis, somente Deus para nos livrar. Bjs querida.

Teresa Almeida disse...

E a curva é ascendente. E o poema de Ronaldo Cagiano situa-se no âmago da crise.

Saibamos aceitar as regras para bem de todos.


Grande abraço, amiga Graça.

Teresa Durães disse...

Gostava de ser a voz de esperançara, no que será a minha infelizmente minha gargalhada. Ficaremos enclausurados enquanto pássaros se riem e com eles soltarei minha risada Temo pelo meus cães e gatos algo me aconteça, por mim? Eu não passo de uma devorada do ambiente, que direito tenho de aqui estar? Salvem apenas os meus animais

carlos perrotti disse...

Poeta interessante. Diferente. Obrigado por revelá-lo.

Grande abraço, amiga Graça.

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, Graça!


Não conhecia o poeta Ronaldo Cagiano.

Gostei deste seu poema, que diz muito do tempo em que vivemos.

Uma boa semana Graça.

Um beijo.

Os olhares da Gracinha! disse...

Foi uma bela e boa escolha em tempo de "guerra silenciosa"!!!
Obrigada por me dar a conhecer e pela visita

Graça Sampaio disse...

Muito bonito! Muito bem escolhido. (não conhecia o autor, obrigada.)
Beijinhos, Poeta!

mz disse...

O medo tem esse endereço.

Um abraço Graça!

João Santana Pinto disse...

Podemos tentar compreender, podemos até querer controlar. A verdade é que não está nas nossas mãos tal poder…

Se de um lado temos escolhas e acabam por resultar em consequências (boas ou más) do outro temos a inevitabilidade de tudo o que não nos é permitido controlar…

Um belo poema, uma ótima escolha.

Beijo e boa semana

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

Aquí, en Colombia en el desplazamiento interno, nos preguntamos por qué? la tierra. Aún somos feudales y la tierra da poder. En otros ámbitos, es la la migración por la pobreza o las guerras étnicas, que de dejan ver en la metáfora de esa embarcación que no se puede detener. Un abrazo. Carlos

lis disse...

Estamos vivendo esse mundo ,Graça
sombrio e inexplicável.

Jaime Portela disse...

Nunca tinha lido nada do autor.
Gostei muito, obrigado pela partilha.
Graça, continuação de boa semana.
Beijo.

Ulisses de Carvalho disse...

Um poema que de algumas formas dialoga com o momento atual. Às vezes as respostas vêm de maneira desagradável, mas ainda assim nos ensinam algo. Te cuida, Graça. Beijo.

Anónimo disse...

Gostei do poema.

lanochedemedianoche disse...

Tristes momentos para todo, que Dios nos guie.
Abrazo

AC disse...

Poema que prende, em abismos que atraem...

Fique bem, Graça. Um abraço.

Natália Fera disse...

Um poema que traduz bem o que estamos a passar.
Gostei muito.
Beijinhos.

LuísM Castanheira disse...

Gostei de ler e conhecer...
este Poeta "amargurado pelo exílio" e de escrita realista.
Uma boa escolha e oportuna partilha, minha Amiga.

Um beijo, Graça!

Manuel Veiga disse...

gostei muito do poeta
e um poeta que não conhecia
um nome a reter.

desejo que estas bem. e todos os teus

beijo, Graça

Toninho disse...

O pior exílio é o de nós mesmo.
Uma bela partilha Graça.
Estamos à deriva sem ancoras.
EM dado momento eu me vi no menino numa rua da vila distante a soltar seus barquinhos na enxurrada e os via sumir na esquina, como fora meus dias de feliz idade.
Sua ida pelas searas trás sempre belos momentos amiga.

Um bom fim de semana com cuidados amiga.
Beijo

Gabriel disse...

Amiga de versos e sonhos, me explica de onde vem tanta inspiração:

"como aqueles barcos de papel
que eu lançava na enxurrada
e interceptava na esquina
antes de adernar no córrego sujo"

lindo, lindo, lindo, como se surgissem em minha boca e eu pudesse mordê-los...

parabéns.

Ani Braga disse...

Olá Graça querida



Lindo poema, nesses tempos difíceis muitas vezes nos sentimos à deriva... Mas tão lindas palavas nos consolam.



Beijos
Ani

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Poema intenso, que prende e nos leva a querer decifrar o abismo
Confesso que nao conheço este autor.
Um nome a reter.
Bom fim de semana.
Beijinhos
;)

tulipa disse...


OLÁ GRAÇA

BELA ESCOLHA
Um poema adequado ao momento que estamos a passar.

À DERIVA
O mundo é essa nau em desgoverno
como aqueles barcos de papel
...
Obrigada pela partilha!

Então, como vai a sua vida, neste período de isolamento?
Tudo bem?

Dor, angústia, sofrimento
Neste período de isolamento
Só sei que neste momento
Queria ver pessoas mais responsáveis
cumprir as ordens do governo
para mais rápido
sairmos do estado de alerta

Ainda hoje fiz um post sobre a atitude de certas pessoas
fico revoltada com o que vejo acontecer todos os dias.

Agradeço sua visita e carinho
Beijinho da Tulipa

http://pensamentosimagens.blogspot.com/  

http://meusmomentosimples.blogspot.com/ 

" R y k @ r d o " disse...

O chamado poema perfeito. Uma delicia de leitura

Boa noite

Anete disse...

Um poema bonito que escolheu, Graça!
Muita saúde, paz e grandes inspirações...
Boa semana!

Ana Freire disse...

Fabuloso, este mundo à deriva... tão de acordo, mesmo, com o real estado do mundo, por estes dias...
Magnifica e pertinente partilha, que também faz uma assertiva leitura, destes tempos que correm...
Gostei imenso, Graça! Um beijinho grande, e cuide-se bem, nestes tempos incertos, por que todos passamos...
Ana

baili disse...


suitable selection from other's harvest my fiend

yes this is how seems ,paper boats in uncertain ocean with no compass and head sail

still i have faith that we can turn these times into oar and can cross this storm if stay strong and cautious
blessings!

Sinval Santos da Silveira disse...


Querida Mestra, Escritora / Poetisa, Graça Pires !
Ah... fico a imaginar quantos sonhos transportava
aquele barquinho , tão frágil, de Ronaldo Cagiano.
Que bela escolha em "Seara Alheia", Amiga.
Muito grato por partilhar.
Uma bela semana e um carinhoso abraço, aqui do Brasil !
Sinval.

Parapeito disse...

Gostei desta partilha.
Mesmo á deriva vamos acreditar que os nossos pequenos barcos de papel, cheguem a bom porto.
Abraço e brisas doces **