as ruas por onde caminho e me demoro.
Procuro uma senda de lágrimas
em faces sombrias, para desviar
até ao lado mais esquivo do peito
o curso do rio onde flutua
a sombra do navio nocturno
que transporta a antiquíssima
inocência dos meus olhos.
Nas margens da noite, suspendo
as mais profundas razões da memória
para esquecer os momentos
em que me doeu a desmedida
desordem do passado.
Por isso, conheço o fio invisível
que percorre o interior da treva
onde se protegem os girassóis
privados do alvoroço da luz
e os pássaros esmorecidos
por não tocarem as nuvens.
Graça Pires
De Antígona passou por aqui, 2021, p.17