Brooke Shaden
quando os dias são como pedras de tropeço
a ferir-nos os pés.
- Vê por onde andas filha
para não te magoares -
dizia minha mãe era eu menina
e estouvadamente feliz.
Ver por onde andamos.
No sopro asfixiante das manhãs
ferem-nos os nomes de tudo
o que o olhar recusa.
Como ignorar as marcas de sofrimento
nas entranhas daqueles que carregam
a fome no molde dos lábios?
Como silenciar a áspera evasão
presa a caminhos sem retorno
no fervilhar dos dias
em convulsivo fôlego?
Como não tropeçar e cair
se há meninos descalços
agarrados aos passos que damos?
Ver por onde andamos mãe?
Graça Pires
De O improviso de viver, 2023, p. 52