Rasgo, nos pulsos, a veia onde guardei
o primeiro sinal da tua ausência.
Esvaio-me em sangue, ou em raiva,
como se a morte fosse o único modo
de resgatar os sentimentos
pelo percurso do coração.
É estranho como consigo amar-te,
mesmo quando em mim se quebram
todos os mares intranquilos
e o corpo se despedaça contra as fragas
de um pervertido monólogo.
É estranho como decidi partir, presa ao teu rosto,
contra a vertigem de querer encontrar,
na tua mão, a linha da minha vida. É estranho.
Há agora um lugar onde é perigoso o amor.
Sou a porta aberta a todos os pássaros
a caminho do sul e enrolo o pensamento
na revolta de não poder seguir-te,
de não poder querer-te,
de não poder esconjurar no teu abraço
todas as minhas culpas.
Graça Pires
Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997
Num deserto sem água
ResponderEliminarNuma noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Um abraço ;)
É belíssimo este poema da Sophia. Obrigada Menina Marota. Um abraço
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