era apenas um retrato
que um fotógrafo de ocasião nos tirou
e tinha a história de não ter
história nenhuma
(já li uma frase assim no Alberto Caeiro
desculpa)
lembro-me: nem sequer olhávamos um para o outro
embora o fotógrafo se tivesse esforçado muito
em nos mostrar felizes
mas ele não podia adivinhar que a hora da partida
se desenhava no fumo dos cafés que bebíamos
ao som triste da Anne van der Lowe no jukebox
das gares onde adiávamos diariamente
os funestos rumores do esquecimento
talvez tivéssemos estremecido um pouco
e por isso os nossos rostos ficaram
levemente desfocados
como se naquele momento tivéssemos encontrado
a mais eficaz palavra
de despedida.
Alice Vieira
In: Dois corpos tombando na água. Lisboa : Caminho, 2007
que um fotógrafo de ocasião nos tirou
e tinha a história de não ter
história nenhuma
(já li uma frase assim no Alberto Caeiro
desculpa)
lembro-me: nem sequer olhávamos um para o outro
embora o fotógrafo se tivesse esforçado muito
em nos mostrar felizes
mas ele não podia adivinhar que a hora da partida
se desenhava no fumo dos cafés que bebíamos
ao som triste da Anne van der Lowe no jukebox
das gares onde adiávamos diariamente
os funestos rumores do esquecimento
talvez tivéssemos estremecido um pouco
e por isso os nossos rostos ficaram
levemente desfocados
como se naquele momento tivéssemos encontrado
a mais eficaz palavra
de despedida.
Alice Vieira
In: Dois corpos tombando na água. Lisboa : Caminho, 2007
Tudo tem uma mesmo que seja pequena história, gostei de aqui estar, belo canto____________
ResponderEliminarMeu doce beijo e meu rastoooo
não conhecia a poesia de Alice Vieira, só os livros juvenis.
ResponderEliminarboa noite
Não sabia que a Alice Vieira escrevia poesia. Conheço as crónicas e sobretudo os livros infanto-juvenis que os meus alunos liam. Em tempos, "Rosa, Minha Irmã Rosa" era como um pequeno manual para a cidadania. Hoje tenho alunos mais crescidos, mas não sabem, por exemplo, o que eram as associações de moradores.
ResponderEliminarDeste poema que nos dá a conhecer, agrada-me especialmente a melancolia resignada da última estrofe, a imagem dos rostos desfocados na derradeira fotografia.
P.S.: Nunca deixei indicação de morada - percebo agora que fui descortês, quando não queria apenas incomodar. O meu blogue é antigo, e há muito vem ameaçando implosão. Mas, se nos recebem bem, é de bom uso que ofereçamos a hospitalidade da nossa casa, enquanto não passamos à condição de homeless:)
um beijo
Nunca tinha lido. Gostei imenso. Beijos.
ResponderEliminarObrigada minhas amigas pelos vossos comentários. Também para mim foi uma surpresa muito boa este livro de poesia da Alice Vieira, que com ele ganhou o Prémio de Poesia Maria Amália Vaz de Carvalho, da Câmara de Loures.O livro é todo muito bonito. Eu escolhi este poema, mas poderia ter escolhido qualquer um.Um beijo a todas.
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