1.5.07

Ninguém me viu

Alfredo Cunha
Ninguém me viu
mas, na multidão,
era indelével
o meu vulto
atento à vida
como um sonho aceso
e no meu rosto
havia uma bandeira colorida
mas ninguém me viu,
muda de mágoa,
placenta das palavras que gerei
no aceno dos meus braços.
Ninguém me viu
e os meus passos
soavam a loucura
ao ritmo de um verso
e no meu olhar
estava impressa a solidão
mas ninguém me viu.

Graça Pires
De Poemas, 1990

5 comentários:

  1. Uma feliz conjugação da imagem com o poema. Que tão bem diz do estar à parte, do apelo que não achou acolhimento, da singularidade que dói. Gostei muito.
    Soledade

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  2. Cara Poetisa hoje particularmente descobri blogues encantadores casualmente e coincidência ou não, logo fiquei entusiasmado com o teu.
    Realmente que sensibilidade sublime, o saber brincar com as palavras e jogar com a beleza da dicção é fantástico e meio caminho para a criação e imaginação poética.
    Um abraço e até breve ... foi bom este primeiro contacto.
    Em relação ao Poema ... não é segredo que está fascinante e encantador.

    Sabes era bom demais
    se o esconderijo fosse seguro
    mas a falta de segurança do muro
    não evita que caias jamais.

    Ser indiferente incomoda
    e de que modo determinada gente
    não te precipites e sê paciente
    porque saber Viver passou de moda.

    Acredito que passes despercebida
    pois a desumanidade prolifera
    tal como maus gazes da atmosfera
    se ninguém te viu continua atenta e atrevida.

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  3. Eu juro que te vi!
    A tua mão voava, como uma pomba esperando o bago, esfomeada, carente.
    Eu vi, juro que te vi!
    gostei muito
    bj
    Gui
    coisasdagaveta.blogs.sapo.pt

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  4. Soledade, bem haja mais uma vez pelo seu comentário tão cheio de sensibilidade e sabedoria.

    Caro António Silva, volte sempre e obrigada pelas palavras.

    Guilherme, não me viu não. Isto passou-se há tanto tempo e você não era nascido.

    Paula Raposo, obriga por gostar e mo dizer.

    Um abraço a todos.

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