21.2.08

Regresso à praia húmida

Edouard Boubat

De costas voltadas para a fadiga dos dias,
regresso à praia húmida onde nasço
quantas vezes eu quero,
livre do movimento das sombras
que influenciam o percurso dos meus olhos.
No leme de todos os barcos leio o protesto
quotidiano dos que nunca se rendem
às imposições previstas em todas as pátrias,
dos que não aceitam morrer sem saber porquê.
E volto, de repente, à absoluta nudez
das árvores despojadas de pássaros,
onde o vento sopra tão rápido
como um rastilho de fé.
Passam, assim, diante de mim
contos de fadas, visões,
ou apenas remorsos sem memória.

Graça Pires
De Outono: lugar frágil, 1993

24 comentários:

  1. 'Aquela praia ignorada (som da voz do Carlos do Carmo), um albatroz (uma ave), uma luz branca, coada, pela manhã sobre o mar (um local), um fundo azul (uma cor) sobre um cheiro intenso de iodo (um aroma)' ...
    foi o que 'vi' neste belo poema...

    abraços!

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  2. Não sei se
    os meus olhos
    soltam as tuas palavras.

    Caminho no meio delas,
    acarinho-as docemente,
    danço ao som da valsa
    que elas me fazem ouvir...

    Quero ser
    menina eterna
    de azul vestida,
    como o mar
    de asas de condor
    e,
    aprendendo a voar...

    Leio-te, mas será que te entendo?

    Será que vês o interior
    da minha alma,
    que reflecte o meu coração
    que te lê, mas não te vê?

    Palavras...
    que fazem sonhar,
    ou
    que magoam
    como pregos
    espetados na
    minha forma de amar...

    Eis-me,
    sensível
    tremente
    solitária
    no meio
    de tanta gente.

    Eis-me,
    de olhos abertos
    vendo,
    lendo,
    querendo.

    Eis-me num Mundo,
    que não criei,
    mas onde possuo
    aquilo que mais amei.

    Eis-me...
    no teu planeta azul...


    "...regresso à praia húmida onde nasço quantas vezes eu quero, livre do movimento das sombras que influenciam o percurso dos meus olhos."

    E deixo-me embalar pelas tuas palavras, e encontro-me tal como o rio a caminho do Mar...

    Poema e imagem, magnificos.

    Um abraço carinhoso e fica BEM ;)

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  3. Um regresso às origens, à nudez inicial para recomeçar e deixar-me embalar pela musicalidade das tuas palavras.

    Beijinhossssss

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  4. É sempre bom termos presente o nosso natal, e regressar a ele sem qualquer coisa que nos interrompa desse momento tão só nosso!
    Mas sinto uma deliciosa e suave revolta como se de uma longa luta se tratasse...
    Gostei de ler-te novamente. :)

    Bem-vinda à minha pequena lista de blogues que visito regularmente :)

    Boa Sexta-feira.

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  5. Um outro belo poema, como já nos habituou.
    Cumprimentos.

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  6. A praia sempre ideal e atrainte manhán marcho a pasear por ela e a recargala minha enerxía.

    Unha aperta grande.
    :)

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  7. antes.. diante os contos de fada

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  8. há, julgo eu, muito de si neste poema. porque a graça não é pessoa de virar as costas a nada. e por isso falou da fadiga. e de um lugar onde as ondas todas diferentes podem fazer bem aos olhos. bom fim de semana e um grande beijinho.

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  9. Um belo poema com uma foto a condizer.

    um beijo

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  10. "Regresso.....
    ..........
    ...........
    E volto.....
    Passam, assim, diante de mim
    contos de fadas, visões,
    ou apenas remorsos sem memória.
    Calmo e nostálgico o seu poema, minha amiga.
    Desejo que o seu regresso seja para a paz e para a felicide.
    Um bom fim de semana.

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  11. Belo poema, com imagens vivas e profundamente humanas.

    Beijos.

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  12. Ainda é dos sonhos - e das memórias - que falas. Gostei do «protesto quotidiano dos que nunca se rendem». E, minha amiga, tão importante saber porque se morre (por ordem de terceiros, é preciso saber por que - e para que - vivemos-

    Talvez não seja só para erguer bandeiras.

    Um beijo.

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  13. tenho mesmo que perguntar:

    tem uma filha chamada ana?....


    esta escrita faz-me sentir dentro de maneira semelhante aos livros e palavras da mãe dessa amiga de há anos.....

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  14. Tantos poemas neste teu poema (fabuloso), Graça...

    abraço

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  15. um rastilho de fé ou apenas a singela vibração da vida!...

    adorei o poema. vai para a minha colecção. posso?

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  16. É um poema de coragem diante da adversidade. E de insubmissão, que encontra a sua força num património íntimo preservado - a praia inaugural que evocada em tantos dos poemas da Graça. Li o poema em voz alta. Escutei-o. Levou-me: a música subtil, como eu tanto gosto.
    Um beijo, Graça, uma boa semana

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  17. Excelente!
    Gostei da foto e ainda mais do poema!
    Feliz semana, Graça!

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  18. Gostei muitíssimo deste Poema!
    Parabéns!!!
    Voltarei em breve.

    Beijo

    Maria Mamede

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  19. Olá, minha cara.
    Estou de volta, depois de uns dias de ausência. Andei a passear pelo seu blog, tentando recuperar o tempo perdido (como me parece perdido o tempo que não se dedica à poesia! Mas é preciso sobreviver, não é?). Comento neste, mas li atentamente os anteriores e, em cada um, vejo motivos para me deter por um bom tempo... seus poemas têm a beleza desconcertante que nos leva à reflexão, e de novo à beleza, numa pulsação infinita...
    Um abraço.

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  20. encontrei um poema seu neste link:

    http://forjadepalavras.blogspot.com/2006/05/1946-expresso-dentro-da-curva.html

    bom dia, graça. um beijinho*

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  21. o quotidiano presente evocando outros tempos, memórias do passado, em que o olhar era mais inocente...

    um beijo.

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  22. As vossas palavras, minhas amigas e meus amigos, continuam a ser muito importantes para mim. Obrigada e um beijo.

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