27.10.08

Inventar nascentes

Cartier-Bresson

A minha profissão era inventar nascentes.
Eu nada sabia da ressonância das ondas,
até que fiz dos sonhos um alibi
e arrisquei qualquer fuga,
com a manhã rebentada no peito.
Indiferente à respiração dos peixes,
sigo Ícaro até às profundas águas
de um amor em fogo,
enquanto me crescem, na garganta,
as raízes do delírio.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

41 comentários:

  1. Excelente.
    Poema belissimo servido por uma imagem igualmente deslumbrante.
    Gostei deste visita. Vou voltar
    Beijinhos

    (www.manhasdeinverno.blogspot.com)

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  2. Compreendo-te perfeitamente...lindíssimo poema!! Muitos beijos.

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  3. "nascentes, ondas, águas, fogo, delírio."
    Expressões do Verbo criador.

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  4. Além disso, também inventas poemas cada vez mais bonitos.
    Um abraço, linda.

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  5. cartier bresson é, sem dúvida, um excelente fotógrafo. ainda um destes dias fiquei maravilhada ao ver todos os seus trabalhos. esta foto é de uma delicadeza bem ao estilo do poema, encaixam-se perfeitamente.

    obrigada pela boa escolha e pelo bem-escrever.

    um beijo
    deste
    mar.

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  6. Poema delicado e senssivel...

    Beijitoterno


    olharIndiscreto

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  7. Que árduo é inventar, sobretudo as coisas inventadas!

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  8. Tantos símbolos no poema que ressoam em mim! Detenho-me no da Queda, este Ícaro que se segue "até às profundas águas". De que extremos seremos nós capazes, por uma paixão sem medida?
    Um beijo, Graça

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  9. e arriscaste muito bem...

    abraço Graça

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  10. Diz-me tanto este poema…

    Como sempre, excelente!

    Abraço, “prima” ;)

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  11. Esta profissão de inventar nascentes é qualquer coisa de fenomenal!!! Como eu gostava de saber fazê-lo!...
    E como eu gostava de ser capaz de escrever, assim, como a minha Amiga!!!
    PARABÉNS, muitos parabéns mesmo e obrigada pela partilha.

    Um Beijo enooooorme da
    Maria Mamede

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  12. Um poema pleno de criatividade e sensualidade,
    que me deixa a meditar em cada palavra, em cada frase…
    Fascinante…"inventar nascentes".
    Um beijo.

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  13. "...fiz dos sonhos um alibi
    e arrisquei qualquer fuga..."

    Profundo e muito belo este poema...
    Sebastião da Gama também escreveu, "pelo sonho é que vamos"...
    A fotografia de Cartier-Bresson é lindissíma!
    Beijo.

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  14. Um compromisso perfeito ente o nosso melhor elemento, a água, e o ar, através da tenacidade de Ícaro.
    Belo texto Graça.

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  15. Eis um poema para se ler, inclusive, com a pele, onde chegam as pontas das raízes do delírio.
    Derrubou-me o queixo, Graça.

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  16. Gostei muito do teu poema, Graça. Cheio de água, de peixes, de fogo, de procura, de risco, rumo às águas profundas do amor.
    Um beijo.

    EA

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  17. Um álibi, uma fuga... Terá direito a sursis quem cria oceanos de beleza e poesia?

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  18. Esse poema regado ao uma fotografia de Bresson só poderia dar nesse resultado maravilhoso!

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  19. Você, com certeza, inventa muitas nascentes com sua poesia.
    E com este poema em particular.
    um abraço.

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  20. "..até que fiz dos sonhos um alibi"

    Precisarão os sonhos de terem um alibi para acontecerem?

    Um momente tocante, uma conjugação perfeita Poema e imagem.

    Grata por esta e, tantas outras, partilhas!

    Um beijo de carinho, minha querida Poeta.

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  21. Quando as raízes trazem a seiva salgada das imagens/símbolos. Gostei tanto, Graça.

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  22. e do delírio

    dos enredos da loucura

    a instar as mãos
    uma pressa que atravessa os dedos...

    nasce o sonho e o... Belo!

    ________

    bjs, Graça

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  23. inventar nascentes nas asas de Ícaro...

    grandioso e belo. com as manhãs que rebentam no peito.

    momento único de poesia.

    beijos

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  24. Belíssimo mergulho na água, no fogo, na raiz de todo o delírio.
    Que força tem a tua Poesia, Graça.

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  25. GRAÇA.....

    não sei comentar.


    não sei. mesmo.



    esta é uma invenção MAIOR!


    ______________abraço. (quente)

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  26. Será que o amor (mais a paixão) é uma doença...?
    Mas muitos sonhos são de facto um alibi.
    Em delírio ficou eu, ao ler-te...
    Beijinhos.

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  27. " A tua profissão era inventar nascentes!" Era, é e será porque da poesia brota tudo quanto de bom a vida tem.

    Mil beijinhos

    Bem- hajas!

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  28. inventei - te hoje "manhã".




    obrigada Graça.

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  29. Quando se usa o sonho como álibi, todos os caminhos se tornam possíveis!

    Bonito o seu poema!

    Beijos de luz e o meu carinho...

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  30. Belo.
    Segue Ícaro ao som da Lira que encanta poetas e poetisas.

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  31. sim, nascente dá com mar, com líquido com azul com


    diluir

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  32. Nascentes, fogo, delírio... As três palavras que retive, por isso
    li-o como um texto sobre o excesso
    (do sentir?), de tal modo que o
    eu-poético acompanha Ícaro (o que deveria voar "para cima") à profundeza das águas. Gosto do arrebatamento que se sabe dizer com
    serena doçura...
    Um beijo , Graça.

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  33. No mais profundo das águas

    há peixes que não dormem

    vêm à tona

    quando acontecem no poema

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  34. Outro.
    Outro belo poema, dos muitos que já li.

    Bjs

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  35. nascentes, tuas palavras. a correr.

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  36. Maravilhoso, Graça! Já está no multiply... e a fazer sucesso!
    Beijos, amiga.

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  37. Essa nascente inundou o meu coração de poesia.
    Sempre muito bom te ler, querida amiga.
    beijo

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  38. Sim, bela alusão a Ícaro: por alçar vôo mais alto, derreteram-se-lhe as asas e caiu no mar Egeu. Vôos próximos ao Sol, incitantes, porém arriscados. Seria um vôo médio mais excitante? Não! Melhor que derretam-se as asas e morra-se por amores em fogo, por raízes do delírio que crescem na garganta. Mas não perca a voz, especialmente a poética! Bj gde. Bárbara Carvalho.

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  39. «fiz dos sonhos um alibi»
    em busca do amor
    em bisca do extase

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  40. e que belas nascentes de águas cristalinas****

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