A minha irmã a trouxe: a foto da casa onde nasci,
como se fora uma gaivota de névoa.
Agora, a casa respira a meias com o longe
que nos separa da infância. As suas raízes
sobrevoam, tão cúmplices, tão subtis,
os nossos corações atordoados de menina.
Do fundo da tarde adivinhamos, sei lá,
o sótão pintado de pretéritas inocências,
a janelinha por onde as bolas de sabão
nos levavam, em estado de sonho,
por lugares que só o imaginário sabe.
Onde está o retrato do medo,
que sabíamos de cor, mesmo sem o olhar?
Onde está a outra menina
que connosco partilhava os frutos
de todas as estações e a quem,
também, chamávamos irmã?
Em vão, esperar a mais perfeita lágrima
para, em nome da sua ausência,
reconstruirmos a casa.
Graça Pires
como se fora uma gaivota de névoa.
Agora, a casa respira a meias com o longe
que nos separa da infância. As suas raízes
sobrevoam, tão cúmplices, tão subtis,
os nossos corações atordoados de menina.
Do fundo da tarde adivinhamos, sei lá,
o sótão pintado de pretéritas inocências,
a janelinha por onde as bolas de sabão
nos levavam, em estado de sonho,
por lugares que só o imaginário sabe.
Onde está o retrato do medo,
que sabíamos de cor, mesmo sem o olhar?
Onde está a outra menina
que connosco partilhava os frutos
de todas as estações e a quem,
também, chamávamos irmã?
Em vão, esperar a mais perfeita lágrima
para, em nome da sua ausência,
reconstruirmos a casa.
Graça Pires
De Ortografia do Olhar, 1996
Lindo!
ResponderEliminarNão consigo comentar!Só sentir.
Parabésn pelo talento.
Li.
ResponderEliminarE reconstruí-me.
À medida que as bolinhas de sabão me levavam.
(o meu sincero agradecimento por ter parado no cantinho dos meus imperfeitos rascunhos)
cumprimentos,
fvs
a meias com o longe
ResponderEliminaro pretérito nas mãos e os retratos, secretos, cúmplices,
a reconstruir o coração da casa.
________
tão nostalgicamente belo...
um beijo, Grande
... e em resposta
não,nunca havia pensado nisso. e é uma honra, alguém como a Graça, dizer que o que escrevo tem alguma qualidade. Eu não sei criar, limito-me a "escrever-me".
... e o meu conhecimento de como fazer para chegar a qualquer editora é nulo.
Obrigado, Graça.
As suas palavras são-me tão gratificantes!...
Comovente e nostágico.
ResponderEliminarTambém tenho fotos assim...
Bem hajas!
nostalgia, saudade, e a esperança na reconstrução da casa.
ResponderEliminarmuito belo e comovente.
beij
Que sensibilidade inigualável, Graça! Maravilha de texto. Maravilha de foto. Obrigada por compartilhar da sua bela história.
ResponderEliminarBeijo grande no coração.
Bárbara Carvalho.
Muito belo, Glória.
ResponderEliminarAs lembranças da "casa" que habitava os sonhos infantis revitalizam a memória através das paisagens oníricas pintadas pela ardente imaginação.
Saudações poéticas,
Hercília Fernandes (RN-Brasil).
Não sei se pode reconstruir estas casas... pode-se é dizer delas da forma magnífica como tu a sabes.
ResponderEliminar"Em vão, esperar a mais perfeita lágrima
ResponderEliminarpara, em nome da sua ausência,
reconstruirmos a casa."
cristalinos do tempo!
Obrigado
sim,
ResponderEliminarprecisamos da ausência para reconstruir e colar os pedaços do passado...
abraço Graça
Parabéns!
ResponderEliminarbeijinho Graça
Quanta saudade...
ResponderEliminarMuito belo e emocionante este poema.
Beijo
Um lindo regresso às memórias da infância!
ResponderEliminar"As suas raízes
sobrevoam, tão cúmplices, tão subtis,
os nossos corações atordoados de menina."
Um texto poético onde reflecte maravilhosamente os tempos que, embora longínquos, permanecem em nós.
Muito belo. Grata pela partilha.
Beijinhos.
Mais uma de suas pérolas, Graça: a infância relembrada, a inocência do ontem, com suas emoções e personagens. E um final magistral, onde a espera de uma "perfeita lágrima" coroa de beleza um fotograma em poesia.
ResponderEliminarHá vivências que nunca esquecemos. E o lugar (não digo o lugar do nascimento) onde fomos criados, é algo que nunca esquecemos.
ResponderEliminarFica bem.
e a felicidade por aí.
Manuel
Porque será que, quando crianças, queríamos crescer depressa e, ainda mais depressa, sermos «grandes», adultos? E porque será que, agora, gostaríamos de voltar a ser crianças e mergulharmos nos sonhos infinitos desses tempos?
ResponderEliminarBolinhas de sabão, efémeras, como a nossa vida...
Um beijo.
"Em vão, esperar a mais perfeita lágrima
ResponderEliminarpara, em nome da sua ausência,
reconstruirmos a casa."
Versos tão belos quanto a fotografia.
Um beijo daqui, Graça.
Lindo poema a ilustrar linda foto, daquelas a que vamos dando valor à medida que o tempo vai passando.
ResponderEliminarBeijo.
Eduardo
Por momentos revi a minha na aldeia,à muitos anos...Lindo
ResponderEliminarBeijitos ternos
ölhår_Îñðîscrëtö...Å ¢µ®¡ö§¡dädë
A beleza das raízes com profundidade poética...
ResponderEliminarabraço
Essa inocência perdida que é o ponto mais luminoso da nossa memória, soubeste lembrá-la tão bem!
ResponderEliminarParbéns pelo excelente post aqui colocado, com uma foto de outros tempos e um texto fantástico e bem escrito. Bjs amiga,
ResponderEliminarNuno
Que coisa mais linda, Graça!
ResponderEliminarDivino é pouco para esse texto maravilhoso. Adoro lembranças e, quando poéticas, possuem um significado único em meu coração.
A foto, tão memoravelmente significativa!
Essa é uma das postagens mais lindas que já vi.
Parabéns! Sempre.
beijo no coração
Há photos que nos provocam mil palavras.
ResponderEliminarAs tuas palavras são instantes que projectam bonitas imagens.
PA
...e as lembranças se eternizam, na saudade desse tempo de inocência...é bom ter recordações e um pequeno cofre para as guardar;
ResponderEliminarmuito belo, como sempre.
Vim também para agradecer os votos.
Correu tudo bem, obrigada.
Um beijo enooorme e a nostalgia implícita, depois de ler este belíssimo post.
Maria Mamede
(a minha casa é a Tua casa)-desde há muito tempo já.
ResponderEliminar:)
beijo-te.
________________.
(piano)
Recordações do passado que a voragem do tempo não apagou...
ResponderEliminarDoce beijo
regressar às memórias do passado é ficar perplexo com o que já se passou
ResponderEliminarque belas palavras...
ResponderEliminarpalavras que escorrem pelas paredes e enchem de nostalgia e sentimentos "A casa"
*****
são dificeis os nomes à beira da ausência, dificil a casa que se constrói sobre o passado...
ResponderEliminarbelo poema,
um beijo
Lindo, lindo, lindo... A infância habita-nos para sempre.
ResponderEliminarUm grande abraço e obrigada!
A janelinha das bolas de sabão, os jogos infantis, o riso,a cumplicidade destas meninas e da figura materna, tudo o que a fotografia captou (que bela foto, Graça!) e o poema reconstrói - o regresso pelos caminhos da memória feliz.
ResponderEliminarBoa semana, um beijo
Doces memórias da infância...saudades... muitas !!!
ResponderEliminarObrigada por partilhr essa linda foto de família e nos transportar ao passado das bolas de sabão e dos sonhos.
um beijo
.
ResponderEliminarcomo se fora uma gaivota de névoa.
.
beijo.
(imf)
As casas, a nossa memória, a nossa ausência...
ResponderEliminarUm poema muito belo...um beijo
Maravilhoso!! Adorei ler-te. Muitos beijos.
ResponderEliminar"Re-Constru-indo" sempre...
ResponderEliminarUnha aperta grande Graça.
:)
Um belo poema feito de recordações.
ResponderEliminarA nossa casa é um pedaço de nós...
Beijinhos.
A casa da infância sempre agarrada a nós como uma pele
ResponderEliminarA casa da infância na realidade definitivamente perdida
mas sempre recuperada num jogo de memória e poesia
Um beijo, Graça.
gostei muito de ler este poema.. trouxe-me à memória uma das casas da minha infância. E muitas saudades..
ResponderEliminargostei muito do poema. o final é belíssimo, comovente!
ResponderEliminarBonsoir_________como uma primeira pele este fio ténue, reserva de alguns sonhos e tanta nostalgia quebrando-nos o peito e a boca.
ResponderEliminarComo é lindo Graça e rasga-nos, bem-haja. Temos todas e todos uma casinha nas maos.
Bjos
LM
Querida Graça.
ResponderEliminarSua generosidade é visível em suas escritas e ações. Mais uma vez peço-lhe perdão pelo incidente...
Muito embora eu possa dizer-lhe, sem receios, que seus poemas são "glórias", dádivas divinas que nos acordam às recordações e nos aquece a memória. "A casa" é um bom exemplo, uma glória celeste.
Mudando de assunto...
Tenho um blog de assuntos literários e educacionais: "Novidades & Velharias: arte, bricolagem, poesia", e estou organizando uma seleta de vozes femininas, cujo recorte será a metalinguagem no fazer poético. Por isso, peço-lhe autorização para selecionar e postar uma de suas escritas nesta edição.
O quadro é permanente e inclui uma breve biografia das autoras, bem como uma fotografia.
Caso concorde em participar, pode entrar em contato através do e-mail:
fernandeshercilia@yahoo.com.br
Forte abraço,
Hercília F.