Claude Simon
De Uma certa forma de errância, 2003
Sacodes do corpo a poeira do exílio.
Os destroços de uma agonia,
duplamente perigosa, incharam-te nos pés.
Vem. Dir-te-ei o que mudou
neste lugar de ventos e de mastros.
Dir-te-ei como me senti intrusa,
sempre que um navio aportou neste cais.
São sombras familiares, as que precedem
o teu anonimato. Um cortejo de pássaros,
antecipa-te o regresso. E chegarás
cansado do rumor da morte,
que na boca dos deuses se ocultava.
Os destroços de uma agonia,
duplamente perigosa, incharam-te nos pés.
Vem. Dir-te-ei o que mudou
neste lugar de ventos e de mastros.
Dir-te-ei como me senti intrusa,
sempre que um navio aportou neste cais.
São sombras familiares, as que precedem
o teu anonimato. Um cortejo de pássaros,
antecipa-te o regresso. E chegarás
cansado do rumor da morte,
que na boca dos deuses se ocultava.
De Uma certa forma de errância, 2003
não se podem entender as cidades sem a espera dum barco, duma palavra a chegar do mar... Muito belo esse poema, acho que pode explicar Lisboa...
ResponderEliminarGosto dos teus poemas (mas já o disse, não já?). Poucas palavras, como gosto e onde se consegue dizer tanto. É lindíssimo. Beijos.
ResponderEliminaros instantes da vida também são pós.
ResponderEliminare as vivências permanecem na memória até que as lembranças se esvaneçam.
só depois (re)nascemos.
Obrigado!
Vicente
Belíssimo poema e forte...
ResponderEliminarabraços
Sintético q.b. quem será o feliz contemplado?!
ResponderEliminarParabéns pela simplicidade...
Os deuses, Graça, os deuses nos seus conflitos e sabedoria.
ResponderEliminarNunca consegui definir o sabor do regresso.
ResponderEliminarUm beijo
Mais um belo poema, Graça.
ResponderEliminarAbraço.
a poeira do exílio.
ResponderEliminar-----------
Acredito que para nós já não há a necessidade de exílio, pelo menos aquele exílio em que pessoas eram obrigados a abandonar o país porque não pensavam, como lhe 'mandavam'.
No entanto há o outro exílio. Aquele que é forçado (por vezes) pela ilusão duma vida melhor.
Fica bem.
E a felicidade por aí.
Manuel
Deixo um poema que li há tempos (como o tempo passa) num tempo em que o amor parecia ser tudo.
ResponderEliminarainda é. Como este poema de amor forte traduz.
Um beijo.
Canto de Penélope
(para Ulisses, enquanto aguardava pacientemente que ele regressasse de suas épicas aventuras por mares que o prendiam na demora)
Quero já os teus olhos cor de ameixa
perdidos pelos Gregos lá no mar;
sabes,
só tu és a vontade que me impele a
ficar aqui para te encontrar. eu vergo
a força imunda da tormenta que
Tétis enviou para me arrasar e lanço
a noite num arco de papel, na espera de
te ter para te largar.
Corre e solta os anais que te escrevi e
marulha neste seio entre-aberto.
Sabes,
quero de volta o afago onde nasci
ora quero a folha de papiro que
te dei.
Lê as memórias em meu corpo
a descoberto e traz contigo o sumo dos
teus olhos que guardei.
Teresa LPL
em http://talvezpeninsula.blogspot.com/
É sempre bom regressar, mesmo que isso aconteça,muitas vezes, por causas menos boas.
ResponderEliminarUm grande abraço.
A leitura dos teus poemas é, para mim, um dos momentos agradáveis da blogosfera. Gosto muito da tua poesia.
ResponderEliminarBeijinhos, amiga!
Bem-hajas!
e regresso. como sempre.
ResponderEliminarda viagem dos momentos turbulentos. aqui. para me aquietar.
à sombra de uma palavra. redentora.
abraçoooooooooooooooooooo.
Pelo meio das palavras há sonoridades cheias de marés!...
ResponderEliminarGostei!
abraços!
poesia sempre muito boa.
ResponderEliminarforte e cheio de historia.
a foto, a condizer.
um beij
O regresso de Ulisses, depois de tanta errância...
ResponderEliminarUm poema intenso e uma imagem magnífica.
Beijo.
gosto do (desse teu) Regresso... assim como gosto de regressar a um certo lugar, mesmo que já não exista nenhum vivente à minha espera... tenho comigo a lembrança dos que se foram (de certa forma, mais que lembranças).
ResponderEliminardeixo um abraço fraterno.
uma metáfora muito bem conseguida
ResponderEliminarexcelente.são sempre as sombras
que precedem o anonimato.
gosto muito
Impossível navegar impune pelos seus versos, Graça. Nossa roupa, nossos olhos, nossa alma, tudo enfim fica impregnado de beleza e emoção. Grandioso na musicalidade e nas imagens.
ResponderEliminar"Um cortejo de pássaros antecipa-te o regresso" - é lindo o teu poema de regresso.
ResponderEliminarAbraço.
Eduardo
Belíssimo
ResponderEliminar.
.
.
como "um cortejo de pássaros"
voo
antecipando todos os regressos.
Obrigado, Graça.
maravilhei-me...
um beijo
maré
os regressos difíceis de serem inseridos no verbo dos Deuses
ResponderEliminarbrilhante!!!
ResponderEliminarbeijo, graça
mas chegarás...
ResponderEliminarabraço Graça
...e há tantos exílios numa vida, tantos, Amiga...no corpo, no coração, na mente, na alma!
ResponderEliminarFelizes os que podem regressar!!!
Beijos. Amei!
Maria Mamede
Já uma vez, aqui no Ortografia, a propósito de um outro poema que, como este, tinha sabor a Ítaca, citei a Ursula K. Le Guin: "A verdadeira viagem é o regresso". E apetece citar de novo porque nenhum regresso é simples. Como sacudir o pó do exílio, se Ítaca não é um ponto fixo? -"Dir-te-ei o que mudou". Só Penélope, afinal, é imutável. Não admira que por ela Ulisses desistisse de deusas, ninfas, imortalidade. Que tivesse deslindado a grande armadilha:
ResponderEliminar«rumor da morte,
que na boca dos deuses se ocultava»
Gosto muito dos seus poemas nesta linha temática :)
E a fotografia, esse calado de navio a crescer, a preencher o espaço todo, é óptima!
Um bom fim-de-semana, Graça, um beijo
O que será mais intenso, a partida ou a chegada?
ResponderEliminarmas não és intrusa. tu és o porto ;) um beijinho
ResponderEliminar"...Dir-te-ei como me senti intrusa,
ResponderEliminarsempre que um navio aportou neste cais."
A ausência torna-se mais evidente quando deixa sulcos de marés que se tornam impossíveis...
Um abraço querida Graça.
A sua presença foi uma enorme alegria para mim. E um privilégio. OBRIGADA!
Um regresso cansado nas sombras...
ResponderEliminarAbraço.
"São sombras familiares, as que precedem
ResponderEliminaro teu anonimato. "
Coisa mais bonita, Graça. Belo demais.
Beijo daqui.
Maravilhosos poema e imagem. A Soledade esgotou, inteligentemente, o que comentar.
ResponderEliminarA leitura, como a ela, me reportou à mitologia grega (que me apaixona). Obrigada, por aqui e por ter deixado lá o comentário encorajador. Não fosse por vc (e tb o Victor) teria de sobra inspiração para escrever sobre o Saara. Beijo grande. Bárbara Carvalho.
De partidas e regressos se faz a vida. Ou só de partidas? Vamos. E quando voltamos somos outros, porque outros seríamos, mesmo que ficássemos.
ResponderEliminarSó a tua poesia continua bela. E doce
boa imagem :)
ResponderEliminarPoema muito inspirado e, como sempre, o que admiro na sua poesia
ResponderEliminara forma esmerada como recorta e constrói as palavras que a compõem.
Divino.
Um beijo.
regresso a Ìtaca...
ResponderEliminarque bom o calor da espera. apesar do capricho dos deuses.
belíssimo.
beijos
Graça, desenhaste lindamente este regresso. Como sempre fico impressionada com as imagens que crias.
ResponderEliminarbeijo no coração
Linda belas cores amiga.
ResponderEliminarP.s. – Deixo aqui um convite para visitares um novo site de fotografias que vai arrancar dia 1 de Dezembro, está ainda em fase final de testes mas já podes registar-te e até colocares tuas fotos. Apareçe sou um dos administradores e gostava de te ver por lá.
Clika em: http://www.fotogenico.net/site/