10.11.08

Memórias de Dulcineia IX

Darlene Shiels


Há crisântemos
ao longo das estradas.
Um chão orvalhado
rebenta-me nos olhos.
Eu sei: não há lembrança
que o tempo não apague,
nem dor que a morte não consuma.

Por isso, vai perdendo sentido
a distância que me separa
de todas as esperas.
É mais nítido, agora,
o silêncio que me envolve.
Como se a morte
(ou apenas o pressentimento dela)
viesse, de mansinho, ao meu encontro.


Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008

35 comentários:

  1. Doce e triste ao mesmo tempo...gosto. Beijos.

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  2. O tempo é um manto branco para a dor e esquecimento

    leva a dor mas deixa o vazio no seu lugar

    ________morte ou serenidade?


    um beijo

    terno enorme

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  3. Do silêncio que nos confronta.

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  4. Há flores e palavras para todas as etapas da vida. Que nunca o poeta se cale.

    Bj
    PA

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  5. Gostei de ler este poema próprio a esta altura do ano.

    Abraços.

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  6. Sim, comovente e muito belo...

    bjnhos

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  7. nem dor que a morte não consuma... Graças a Deus!

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  8. Escutar o poema, tanto quanto lê-lo, à procura dessa cama do ritmo onde as palavras se deitam, como escreveu Eugénio de Andrade. É curioso, os versos são curtos, mas a toada é lenta. Tudo no poema se inclina ao fim. "De mansinho".
    Um beijo, Graça

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  9. tão nítido. Para mim.


    tão belo.



    que o tempo irá ressalvar.



    sempre!



    curvo-me.

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  10. "por isso vai perdendo sentido a distância que me separa de todas as esperas"... versos muito certos... parabéns! Antonio Jiménez Millán é um poeta de Granada, junto a Luis García Montero, Álvaro Salvador e Javier Egea iniciu un movimento poético em Espanha conhecido como "A otra sentimentalidade", tem alguma semelhança com poetas portuguesses como o Jorge de Sena, o José Agostinho Baptista, o Fernando Pinto do Amaral, Rui Pires Cabral... Também com alguns poemas teus no que concerta ao tratamento da intimidade do sujeto poético...
    http://artespoeticas.librodenotas.com/artes/812/la-otra-sentimentalidad-1983
    Um abraço

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  11. no último silêncio

    um prelúdio
    de espera
    pressente-se
    .
    .
    .
    a finitude.

    _____
    melancolicamente belo...
    BELO.

    um beijo, orvalhado.

    maré

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  12. Olá Graça

    Em «A VIDA ETERNA», Fernando Savater, no capítulo «Autópsia da Imortalidade» Pg60/61, escreve:

    «(...) O silogismo fundador da lógica da nossa existência não é o tão repetido «Todos os homens são mortais/ Sócrates é homem/ Logo Sócrtaes é mortal» mas sim, como bem sabemos, este outro: «Todos os homens morrem/ eu sou homem/logo eu devo morrer»

    A seguir acrescenta:
    «Outros homens morreram, mas foi no passado/ que é uma época propícia para a morte...» disse Jorge Luis Borges no começo de um breve e notável poema apócrifo. «Será possível que eu súbdito de Yacub Almansur, morra também/ como morreram as rosas e Aristóteles?»

    Posto tudo isto, acrescento apenas que o teu poema é excelente e que fará parte da condição humana encarar com dificuldade a morte.
    Insconscientemente ansiamos por uma certa imortaldade (glosando Freud)
    Bjs

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  13. Este poema é para mim muito bom se por espera entenderes com naturalidade que a morte naturalmente nos espera e nós naturalmente a esperamos como coisa natural. É assim que eu a vejo, como berço e foz da vida.
    Beijo.
    Eduardo

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  14. bate na madeira, Graça.

    dizem que ela foge a sete pés...

    abraço

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  15. Lindo...e, como a Paula diz triste ao mesmo tempo.
    Adorei.
    Jinhos mil

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  16. as memórias podem ser violentas mas abafadas pelo tempo imperdoável

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  17. Fiquei sem palavras...

    Um beijo

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  18. Encarada com serenidade... é um simples deslizar, um recolher de asas. É assim que quero ver a morte quando espreitar por entre os crisântemos da vida.

    Gostei muito do poema.

    Um beijo

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  19. Essa "a distância que me separa/
    de todas as esperas." é bela. Melancolicamente bela.

    Um beijo daqui.

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  20. Belíssimo compasso de tempo.

    um beijo

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  21. comovente e cheio de sentido.

    mais um belo poema que nos dá a partilhar.

    obrigada!

    beij

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  22. Tocante e bela maneira de narrar(e atirar em nossos olhos) a fugacidade da vida e nossos confrontos com o passar dos anos.

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  23. belíssimo poema, graça.

    há crisântemos sim.




    beijo

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  24. Da morte estamos todos perto


    se houvesse morte

    ou princípio

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  25. "...vai perdendo sentido
    a distância que me separa
    de todas as esperas".
    Muito verdadeiro este sentimento, e linda e emocionante a forma como o escreves.
    Beijo.

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  26. Terno... como tudo o que leio de ti.

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  27. ..."vai perdendo sentido
    a distância que me separa
    de todas as esperas".

    e apesar alimentamos a esperança. sempre.

    belíssimo.

    beijos

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  28. Lindo poema, em que parece emergir a realidade que a todos nós afluirá!

    Até lá que os caminhos sejam muito longos e alegremente cercados de bonitas flores.

    Beijo em tons de verde esperança!

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  29. Eu adoro esse poema!
    Ele é tão poeticamente doce e melancólico, com imagens únicas.
    Lindo, Graça!

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  30. há lembrança que se apaga rapidamente. há lembrança que o tempo, como uma única semente de milho, transforma em espigas... quanto à dor... bem, quanto à dor, por vezes se transforma numa canção que resiste ao tempo, fazendo com que aqueles(as) que a ouçam a sintam d’um modo todo especial.

    no teu sentir, aqui retratado, como uma lágrima. mas mesmo as lágrimas podem se transmutar.

    deixo um abraço fraterno.

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  31. A nossa morte serà um espaço mais alargado para um corpo que nos deixa e que fica, estragando-se.
    O seu poema é triste, escrever sobre o orvalho que rebenta nos olhos, que lindo, furor e silêncio, serà que esqueçemos mesmo?
    beijos,
    adoro os seus poemas Graça, necessito-os!!!!lidia
    LM

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  32. Uma aula de semântica! Sabe que os crisântemos têm inúmeras variações e duas delas, ao que me lembro, são as: despedidas-de-verão e as saudades-de-inverno? E que a acepção metafórica do orvalho relaciona-se com o estado de quem se desabafou, livrou-se de opressões? Alívio, lenitivo, refrigério? Claro que sabe! Esculpiu no poema! A efemeridade das esperas. O desencantamento. O silêncio mórbido resignado da espera sem esperança. A metáfora da morte como conseqüência natural da vida. E para que tudo vive se tudo irá morrer? A perda do sentido das coisas, diante da efemeridade da própria vida. Mas tomo-a por otimista. O tempo não apaga lembrança nenhuma: desbota-as e a morte não consuma qualquer dor: elas nos acompanham o espírito se não modificarmos a atitude mental.
    Outra pérola saída da sua pena.
    Beijo no coração, com despedidas-de-verão e saudades-de-inverno.
    Bárbara Carvalho.

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  33. que palavras tao intensas...tao cheias afinal de vida ******

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