24.1.09

Em fuga

Gregory Lanq

Somos agora quase tudo no desconcerto da cidade
que nos proibe de ver crescer as flores
e constrói grades sobre grades
para esconder os nossos medos em fuga.
Não podemos explicar a passagem
do tempo no rosto dos dias porque há um túnel
sem espelhos a ocultar-nos a inocência.
Conivente com o círculo vazio
que me esconde de mim partirei amanhã.
Em volta do teu olhar não há sinais
de surpresa ou de suspeita.
Apenas um aceno tão lento como o teu ritmo de viver
me antecipa a anunciação de um silêncio absoluto.
Sim. Partirei amanhã para aprender o idioma

das nascentes e escrever o teu nome
na água dos meus olhos.

Graça Pires
De Outono: lugar frágil, 1993

48 comentários:

  1. "Apenas um aceno tão lento como o teu ritmo de viver
    me antecipa a anunciação de um silêncio absoluto."

    E sinto o palpitar a esmorecer.

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  2. Da cidade ao campo. Poema que percorre metrópole para depois descobrir a língua da nascente.

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  3. Das cidades interiores onde os labirintos têm grades. Bateu forte, ecoou e deixou-me a pensar.

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  4. Partirás ao encontro da inocência perdida? Ou regressarás a ela, antes que os túneis sem espelhos a sepultem para sempre no cimento anónimo dos ruídos urbanos?
    Sim, parte depressa.
    Ou regressa, tanto faz.
    Abraço.
    Eduardo

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  5. Ah, essas cidades que nos proibem de ver crescer as flores! Belíssimo, Graça. Beijos

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  6. Gostei muito de a ler.
    Saio pensando no 'ùltimo momento': Partirei amanhã para aprender o idioma das nascentes.

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  7. A Cidade onde se planta o cimento que não deixa a Terra rspirar...

    Estou de volta das férias que o meu pc resolveu me ofertar,e vim agradecer os votos e lhe desejar um ano repleto de amor e realizações...

    Terno beijo

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  8. Um bonito mas triste poema. Para mim poema...beijos.

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  9. "Partirei amanhã para aprender o idioma
    das nascentes e escrever o teu nome
    na água dos meus olhos."



    não te sei explicar.


    leio.


    no mais secreto e íntimo.


    belo...........tanto........



    beijo Graça!

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  10. a vitalidade da partida é um engano.

    genial!!!!!!!

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  11. Lindo poema! retrata bem as nossas cidades sem alma.

    Estive ausente,mas é sempre um prazer voltar.

    um beijo

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  12. Li o poema e fique com água nos meus olhos. Assim é a poesia bem feita, bem construída; ela tem o poder de fincar o dedo em nossa alma.
    beijo no coração

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  13. Querida Graça, escrevo o teu nome so para ficar triste...
    Sim, este aceno lento como uma respiraçao unica, so poderia anunciar no seu poema, um silêncio absoluto, antecipando-a_________lindas a suas palavras.
    Lindo e absoluto, profunda a sua escrita me acolhe, no tal abraço por dentro, um reconhecimento duplo.
    Beijos nesta manha aberta ao sol. Lidia
    LM

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  14. O medo de nossos dias, o passar do tempo inexplicado, a necessidade da partida rumo a um mar interior que os olhos transbordarão, e o lirismo que não deixa de nos acenar.

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  15. Graça, o seu poema é belíssimo, a palavra constroi pelo que


    aqui a cidade somos nós
    plena sem escolhos limites ou esquinas
    aqui bebemos a luz pela palavra
    e compomos fotogramas pulsados
    pela máscara do tempo
    aqui somos arquitectos do sol e do silêncio



    Um grande abraço amigo

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  16. E que "o idioma das nascentes", qual "fio de Ariana", seja sempre reaprendível...
    Simplesmente belo, Graça
    Um beijo

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  17. Belo, profundo, sublime, este poema. Medito nas palavras nostálgicas que se entrelaçam por entre afectos e emoções na "anunciação de um silêncio absoluto".
    Que seja suave a aprendizagem do "idioma das nascentes"...
    Comovente.
    Um beijo

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  18. Uma fuga para o princípio. Ainda adiada, mas já sabida. Assim entendi. Ou senti.

    Obrigada pelo talento.

    Um beijo.

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  19. Acabei de descobrir o seu blogue. Achei-o lindíssimo. Os seus poemas e as suas opções. Tudo o que poderei acrescentar me soa a superfluo. Vou agradecer ao Terrear ter colocado esta via na qual nos podemos maravilhar. Bem haja pela beleza das suas palavras e sentidos ...

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  20. Debemos deixarnos cautivar polo "Idioma das nascentes e escrever...".

    Beijos Graça.
    :)

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  21. Oi, querida.....
    Tem indicação pra ti lá no VAN FILOSOFIA!
    Passa lá pra ver o que é!
    ;)
    Espero que goste. Foi de coração.
    Beijucas

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  22. As melhores viagens

    podem ser

    antes da partida

    e da chegada

    em silêncio absoluto

    inscritas no espelho da água

    Belo

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  23. "aprender o idioma das nascentes"...belíssima imagem...gostaria também de aprender;)
    bjos

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  24. a chuva continua.

    amanhã, quando parar, será o silêncio.
    absoluto.
    terei que ajoelhar-me e encostar a cabeça à terra para ouvi-la parir a erva verde.
    e dormirei calmamente, sonhando que a primaverá voltará sempre.

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  25. e a cidade que nos consome tanto!

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  26. Faz lembrar (apenas no tema, pois a linguagem poética da Graça é muito diferente) alguns poemas da Sophia: a denúncia da cidade concentracionária, hostil e vácua, metáfora também da cultura que construímos.
    Curiosa a presença da água, nesta entrada do blogue, desde logo no quadro que acompanha o poema; depois nos espelhos que não há, nas nascentes, na água dos olhos.
    Gostei muito!
    Um beijo, boa semana

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  27. O ponto de fuga que trazemos em nós.

    Belo. Muito.

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  28. Simpática Amiga:
    Que linda nascente de sonhos puros e doces a sua pureza e beleza contêem.
    Um poema lindo do seu encantador sentir.
    Partir? NUNCA! Confie na imensidão de sonhos de extrema doçura porque irá cativar e impressionar o Mundo.
    Delicioso. Admirável.
    Com uma interioridade fabulosa.
    Parabéns pelo talento e genialidade do seu sonho puro.
    É linda!
    Beijinhos amigos de cordialidade, estima e respeito.
    Desculpe o tardio comentário, mas tive assuntos sérios de saúde familiar a tratar por serem inadiáveis.

    pena

    OBRIGADO pela simpatia expressa no meu "cantinho".
    Bem-Haja, encantadora amiga!

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  29. matriciais as águas que lavam... ou incendeiam...

    muito belo.

    beijos

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  30. A cidade que nos envolve e cria esta sensação de querer partir e ficar ao mesmo tempo...
    Lindo este poema, sublime a sua parte final!
    Beijo.

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  31. na esperãnça dos espelhos
    partimos.
    na busca das nascentes
    subiremos aos promontórios do silêncio onde as mãos solares da inocência, reconstroi o olhar gasto
    de desencontros marcados.

    ______
    Lindo...
    abres-me à manhã Graça.


    Um beijo grande.

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  32. excelente...que alma poética...versos que encantam...

    bjinho

    véu de maya.

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  33. Que seja muito feliz nessa fuga... Não há muitas pessoas a conseguirem libertar-se das grades da cidade!

    Beijo

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  34. Hoje também me apetece fugir, acredita, Dona Graça?

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  35. sim... andamos em fuga, destes tempos estranhos...

    abraço Graça

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  36. sitiados quase vamos escrevendo!
    beijo
    __________ Jrmarto

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  37. A cidade engole-nos, enjaula-nos sobrepostos em camadas.
    Felizes daqueles que conseguem fugir "para aprender os idiomas das nascentes". E, quando, por acréscimo, há um nome a escrever, ainda melhor.
    Foi por isso mesmo que eu nunca me fixei em nenhuma foz.
    Beijo.

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  38. os nossos medos, sempre sob a pele das cidades... Interesante e belo poema,
    um beijo

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  39. escrever o teu nome na água dos meus olhos...é a frase e o desfecho que mais gosto.A imagem é belíssima,Graça.

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  40. É sempre um prazer ler-te!

    Bem-hajas!

    Beijinhos

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  41. Somos agora quase tudo no desconcerto da cidade que nos proibe de ver crescer as flores e constrói grades sobre grades para esconder os nossos medos em fuga.

    É a selva de pedra no lugar do coração

    Partirás para a prender o idioma das nascentes e escrever o teu nome na água dos meus olhos.

    belíssima forma de o dizer!!

    Gosto muito da tua poesia Graça.

    Um beijo

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  42. Belíssimo! Parabéns Amiga.
    É sempre bom aprender o idioma das nascentes, assim, quando tivermos de escrever alguns nomes (doídos) na água dos olhos, teremos a visão perfeita do caminho a seguir.

    Beijos

    Maria Mamede

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  43. "(...) e escrever o teu nome / na água dos meus olhos" e tantos mais Belos Versos Neste poema: apresento-me: maria toscano (conheci-a pelo Vitor Oliveira Mateus)
    .
    e,
    Sim!, sinto afinidades com a sua escrita.
    Que bom!
    .
    (fiz um enlace/link do seu ao meu blogue; não lhe pedi autorização; mas, se quiser que eu "desfaça o link"
    :-)
    o que aceito plenamente - tanto mais que não lhe pedi autorização antes para "invadir" a sua casa-blogue-
    fá-lo-ei sem qualquer problema nem ressentimento.
    .

    (Muito Grata pelo seu comentário no "a dispersa palavra")


    mt

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  44. os silêncios da urbanidade, as teias dos muros.

    grande beijo para ti!

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  45. Na cidade gradeada,somos actores e marionetas, diatraindo o medo da liberdade.
    Para lá do cimento, as flores crescem em rios sem margens e pintam de verde os dedos de quem se desafia ao olhar...
    Beijo

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  46. Adorei "Em fuga"...
    "e escrever o teu nome
    na água dos meus olhos. "...lindo!!


    Um abraço*

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