5.12.09

Em seara alheia


É DAS FONTES QUE FALO!

Falo das casas de rosto contente virado para o mar,
da procura apaixonada das conchas raras
abandonadas na vazante,
do mistério nunca desvendado da canção dos búzios,
da postura majestática dos cactos com flores
vermelhas sobre as dunas,
falo da robusta madureza do teu corpo
aberto como um suspiro
liberto de cansaço no tempo certo!...
É das fontes que falo,
insubstituíveis, teimosas fontes
escondidas, esquecidas, não lembradas,
mas avidamente luminosas,
sequiosas nos olhos que procuram, se procuram,
no enleio confusamente inevitável
de quem caiu de borco das estrelas nos labirintos
e becos da cidade,
onde as crianças sabem
não haver fronteiras claras entre a vida e a morte,
entre o riso e a tristeza,
e acariciam silenciosamente, com mãos de jade,
as lágrimas que parecem tombar do céu,
mas que brotam violentamente da terra!...

Eduardo Aleixo
In: As palavras são de água. Lisboa: Chiado Editora, 2009

38 comentários:

  1. depois de ter lido este belo poema, apetece-me fazer um trocadilho entre o título da obra e o último verso: as palavras são da água, mas brotam da terra :) um grande beijinho, graça. bom fds!

    ResponderEliminar
  2. A tua imensa sensibilidade escolheu um dos poemas mais bonitos do livro do Eduardo!
    Beijinhos.

    ResponderEliminar
  3. Passo sempre por cá para ler.É um dos meus pequenos prazeres.
    um beijinho

    ResponderEliminar
  4. Muito bonito, muito certeiro...

    Boa opção a tua!

    Um abraço, zogia.

    ResponderEliminar
  5. Graça,

    Toda casa que exala alegria faz a vida ter um sorriso diferente.

    Beijo imenso, menina linda.

    Rebeca

    -

    ResponderEliminar
  6. graça pires:
    convido você e seus leitores para uma entrevista minha feita pela
    http://www.diversos-afins.blogspot.com/
    um abraço.
    romério

    ResponderEliminar
  7. " falo ( ) do mistério nunca desvendado da canção dos búzios"

    falo do incessante recado da vida a contrariar o violento caminho da morte...

    ____

    é lindo, tremendamente profundo, Graça. Não conheço este poeta, apesar de já ter visto o seu nome por aqui.
    Obrigada, minha querida.
    Para ti um beijo imenso.

    ResponderEliminar
  8. Há sempre um grande mistério nas palavras...que se agarram à terra e a sentem plenamente...
    Obrigada pela visita...
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar
  9. G.

    uma boa escolha do Eduardo que sabe escrever muito bem, e que consegue dar uma ternura às palavras que deixa uma sensaçao de paz:

    deixo aqui um poema dele que é inédito e que eu também gosto muito:

    Tu não precisas dos livros dos sábios
    Para vires falar sobre o voo das gaivotas
    Nem sobre o escoar leve das areias finas pelos dedos das tuas mãos
    Nem sobre o azul do ceu e das ondas do mar,
    E não precisas,
    Porque tudo está nos teus olhos, Na tuas mãos,
    Na pele do teu corpo,
    Pincel mágico
    Que pintou o quadro vivo do poema.

    Obrigada!

    bom domingo...

    ResponderEliminar
  10. Gosto de vir às tuas fontes.Beijos

    ResponderEliminar
  11. Só tenho que te dizer muto obrigado e que me sinto muito honrado...Um abraço amigo.
    Eduardo Aleixo

    ResponderEliminar
  12. beijo aos dois.





    de águas límpidas em caDA mão.



    (piano)

    ResponderEliminar
  13. magnífico este poema Graça!

    Não tem espaços vazio, todas as palavras se encaixam como num xadrez que me lembra a vida...


    beijinho grande Graça, neste mês lembro-me muito de si (em especial)

    ResponderEliminar
  14. Oi Graça,

    O elo é o verso.Belo poema de Eduardo Aleixo.Êle e sua sabedoria a compor da vida a lírica vazante dos dias.
    Lindo e de bom gosto este teu espaço.

    Para béns !

    Beijos,

    Cris


    www.cristinasiqueira.blogspot.com

    ResponderEliminar
  15. As palavras do poema estilhaçam na frieza escultórica dos imbecis!

    Mas ser poeta, é ser contra o comodismo das palavras!

    BRAVO!!!

    ResponderEliminar
  16. Obrigado, Piedade Sol! Se não fosse tão agradável a surpresa que fizeste, eu diria que era traição! Mas é uma traição boa. Não esperava tantos mimos...Abraços meus.

    ResponderEliminar
  17. Gostei muito de ter passado por aqui - bem haja.

    ResponderEliminar
  18. teresa p.9:09 da tarde

    "É das fontes que falo,... avidamente luminosas, sequiosas nos olhos que procuram, se procuram..."
    Lindo! Óptima escolha "em seara alheia"
    Parabéns ao autor.

    Beijo.

    ResponderEliminar
  19. É um belo poema. Que bom que tenhas divulgado este autor.

    ResponderEliminar
  20. em "seara alheia" ou casa própria, sempre a sensibilidade e bom gosto.
    abraço

    ResponderEliminar
  21. Olá

    Há já algum tempo que não passava por aqui e fiquei maravilhado com este poema que não conhecia.
    Profundo, mesmo muito. Obrigado pela escolha.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  22. essa procura apaixonada de conxas raras faz-me lembrar agora da paixão do Neruda pelo mesmo...

    belo poema!

    um beijo

    ResponderEliminar
  23. as lágrimas brotam da dor, quando doem, nascem como rios de onde quer que magoe.

    ResponderEliminar
  24. Belo poema, Graça. Não conhecia o autor.
    Seria possível encontrar teu livro aqui no Brasil?

    Beijo e boa semana.

    ResponderEliminar
  25. Belíssimo!

    Saudações

    ResponderEliminar
  26. GRaça,
    achei lindo o poema, mas quando comecei a ler senti que havia algo diferente que não a tua escrita,claro, não é tua composição.Boa escolha amiga.

    ResponderEliminar
  27. Lindo Poema que chegou até mim nesta manhã chuvosa e de que gostei muito!

    ResponderEliminar
  28. OLÁ GRAÇA,
    Só hoje tive o privilegio de conhecer o seu blog e asua poesia, que adoro. Vou já comprar o livro....meus parabéns!
    HELENA

    ResponderEliminar
  29. As fontes e o amor no recanto dos becos...
    Lindo como é teu habito;)
    Beijinho de lua*.*

    ResponderEliminar
  30. Li este poema e fiquei maravilhado.
    Fui ler mais ao blogue do autor e confirmei o sabia: é um escritor.
    Querida amiga, obrigado pela partilha.
    Beijos.

    ResponderEliminar
  31. Um texto com uma profusão de imagens poéticas...Gosto.

    ResponderEliminar
  32. que belo poema de mais um autor que desconhecia. fazes sempre excelentes escolhas, Graça! obrigada pela partilha. um beijo.

    ResponderEliminar
  33. Lindo poema do Eduardo Aleixo, belíssima escolha. Grande abraço, minha amiga.

    ResponderEliminar
  34. Belo, este poema do amiga Eduardo Aleixo!

    deixo-lhe uma beijoca

    ResponderEliminar
  35. linda esta tua maneira de seleccionar poemas de outrém

    e excelsa a selecção


    eis.me ,Graça ,final mente regressada a este novo ano que espero te traga um açafate de criatividade e uma mão cheia de realizações

    antes de retirar.me ,deixo.te



    .
    um beijo ,ainda fresco

    ResponderEliminar