o Verão não tinha limites.
a mulher lidava com a casa pele com pele
andava todos os dias muito de noite
dias e dias de noite de roda dos fetos
toda dentro do Verão sem nenhum
tornozelo de fora.
era o Verão em hora de ponta
a mulher arrastava-se dentro da mulher.
os dias só faziam sentido existindo noites
as noites só faziam sentido trincando nêsperas
e bordando palavras que dessem sombra no ventre.
uma noite a mulher bordou a palavra mulher
e deitou-se de bruços.
era quase luz quando a primeira letra se ergueu.
e sem que houvesse tempo de escolher canção e vinho à altura
dessa primeira letra saiu o corpo
íngreme
arado
torrencial
do que havia de ser o anjo.
Catarina Nunes de Almeida
In: Marsupial. Lisboa: Mariposa Azual, 2014, p. 16
Palavras autênticas, inteiras as deste teu livro, minha querida Catarina. “Marsupial” diz a paixão, o encantamento, a mulher-prenhe, os dias da espera, o parto, o milagre da vida. Fala da mulher e do homem: senhores de todas as esperanças, de todos os sobressaltos, de todo o júbilo. Parabéns. Um beijo imenso.
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ResponderEliminarBelíssimo!
Fiquei curiosa quanto ao livro.
Obrigada.
Um beijo
Graça Pires
ResponderEliminarQuem aprecia a linguagem da poesia, tem por força de gostar, da proposta poética, com eu gostei. Na diversidade, está o dom do(a) poeta e da poesia.
Abraços
Um poema sincero e delicado...
ResponderEliminarBrilhante...
Gostei muito...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Boa tarde,
ResponderEliminarO que escreveu despertou a curiosidade pelo livro, tenho sempre interesse em saber os mais variados pensamentos sobre o ser humano.
Dia feliz
AG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/
Canção de despertar o rosto da terra e de animar os seus dias difíceis.
ResponderEliminarEmbalar as dunas que podem engravidar do vazio fosco.
Cristais floridos que parecem trigos que são conhecidos pelo sogro dono do lucro e do logro.
Poliniza alegria e enrodilha o (per)verso e recorda o drama da matilha.
A canção embala o drama com logros e a dança dos lobos.
Ah,se pudesse recordar o despertar das dunas.
O rosto pode parecer perverso mas por trás desta face dura é só ternura.
Enquanto a terra engravida se colhe o trigo,se retira a rede e se farta a tribo.
Ah,se todos os dias fossem de polinização das flores!
A alegria seria um cristal precioso.
A palavra bordada reluz em canções que ecoam no tempo, no vento! abraços
ResponderEliminarQuerida Graça,
ResponderEliminarMulheres parideiras essas poetas em searas luminosas. Maior gratidão é a minha em compartilhar suas visitas.
Grande beijo.
Boa tarde Graça!
ResponderEliminarAgradeço a visita ao meu blog e ainda esta partilha fantástica. Achei o poema da Catarina ( que eu não conheço)uma maravilha! O poder do mãe-terra fecundada em cama de fetos e de frutos silvestres.O milagre da criação aqui transcrito... Um abraço.
OI GRAÇA!
ResponderEliminarQUE TEXTO MARAVILHOSO, UMA APRESENTAÇÃO POÉTICA EM QUE A AUTORA, NOS COLOCA SUA INSPIRAÇÃO, DE FORMA METAFÓRICA, MAS COMPLETAMENTE INTELIGÍVEL E DE UMA BELEZA ÍMPAR.
AMEI.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Um poema intenso escrito decerto por uma grande Mulher!
ResponderEliminarbeijinho
Fê
assim cresce uma canção - liberta! - no "corpo íngreme". após o rebentar das águas...
ResponderEliminargratidão por dares a conhecer tão belo poema e tão talentosa poetisa.
quero este livro.
beijo, minha amiga
(perturbante? não sei, não...)
o milagre do nascer....
ResponderEliminar:)
Abraço enorme para ambas: a Catarina pelo lindo poema e a ti pela tua generosidade imensa!
ResponderEliminarBoa partilha
ResponderEliminarMinha querida
ResponderEliminarUm poema que toca no mais fundo da alma...Palavras sentidas.
Quero também agradecer o carinho e apoio, estou voltando graças a esse apoio.
Um beijinho
Sonhadora
Não conhecia nada da autora, que me lembre, mas a julgar por este excelente poema deve ser uma escritora brilhante.
ResponderEliminarTem um bom fim de semana, querida amiga Graça.
Beijo.
Amo pessoas que cuidam da natureza,
ResponderEliminarque espalham sementes,
plantam árvores que florescem o mundo
Elas colherão frutos doces,
independente das estações.
Como é bom poder estar aqui
nesse momento,
que tento de todas as formas,
pular obstáculos,
saltar de paraquedas, pular da ponte,
mais tenho medo de cair num abismo sem poder voltar.
Obrigada pela sua amizade que tanto bem me faz.
Um feliz final de semana beijos e meu carinho eterno.
Evanir.
Mulher que se divide, que se multiplica.
ResponderEliminarBeijo
Boa noite Graça,
ResponderEliminarNa verdade um magnifico poema em que a alma do poeta se entranha nas raízes do ser!
Um beijinho e obrigada pela partilha!
Bom domingo,
Ailime
Belíssimo Poema.
ResponderEliminarAcabei por ter em voz alta para o ar.
Amo poesia!
Bom dia de domingo e uma nova semana
excelente pra nós!
Bjins
CatiahoAlc/ReflexoodAlma
O poema é muito belo, sim. Está tudo dito no comentário da Graça.
ResponderEliminarbj
Ô... maravilhoso texto!
ResponderEliminarBeijo de boa semana.
tricando nêsperas
ResponderEliminare a vida a ganhar asas
um abraço às duas
Belíssimo este poema, assim como todos os que fazem parte do livro "Marsupial".Parabéns à Catarina e um beijinho grande. Obrigada à Graça pela partilha.
ResponderEliminarBeijo.
Uma verdadeira obra de arte à mãe-mulher.
ResponderEliminarParabéns, poeta!
Beijinho, Graça
Eu gostei muito do livro "Marsupial", onde se inclui este belo poema da Catarina.
ResponderEliminarUma linguagem nova, ainda em construção, um caminho a ser desbravado à nossa frente, que apetece acompanhar.
Parabéns à Catarina e beijo para a Graça.
De patamar em patamar se faz a descoberta da essência da vida.
ResponderEliminarMuito belo!
Beijo :)
Poema lindo sobre o nascimento do milagre do ser.
ResponderEliminarLuz recebe nos braços o vagido quente da terra, a sabedoria milenária do ventre, o ovo eterno dos cânticos dos homens e das mulheres nos campos das espigas.
Beijinhos.
Muito bonito, sim...
ResponderEliminarExtremamente belo!
ResponderEliminarNão conheço a autora, mas fiquei a conhecer um poema muito belo, de enorme profundidade.
ResponderEliminarObrigada, Graça, pela partilha.
Beijinhos
Sempre um lindo poema!!!
ResponderEliminarBeijos
só me ocorre uma palavra: portentoso
ResponderEliminarNos fetos de verão se bordam palavras.
ResponderEliminarUma escolha criteriosa Graça, num tempo de fetos e afetos.
Redescobrir as palavras e usá-las no sentido de dar vida à Vida.
Uma poeta que irei descobrir.
Um abraço carinhoso e grata pela partilha.