29.11.14

Com devoção ou descrença


                                                       Para o José d'Ângelo

Passas vagarosamente sobre um areal.
A carga dos navios pesa-te nas costas.
A boca com iodo e sal
suspende a raiz de um grito.
Fatigado, ajoelhas e benzes-te
com a devoção ou a descrença
de quem pressente o desamparo
das palavras ou apenas o instante
em que há aves trémulas
voando no teu peito.

Graça Pires
De: Espaço livre com barcos, 2014

42 comentários:

  1. oh!, minha amiga
    como são belas estas aves, mesmo trémulas, que no nosso peito poisam.
    ...e como o poema nos atinge.
    (confesso que no livro o impacto foi menor - talvez aqui ele se projecte na imagem ou é a imagem que a ele nos conduz).
    Um Bj. e um Abraço

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  2. Aquele momento em que tudo parece negro, sem solução...
    Depois...há uma luz muito tênue, mas que começa a brilhar....
    Lindo...
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  3. Há coisas que nos pesam tanto na vida que, por vezes, temos de ajoelhar...
    Mas há que levantar.
    Excelente poema, como sempre.
    Querida amiga Graça, tem um bom fim de semana.
    Beijo.

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  4. uma bela imagem poética do abandono, da procura de alguém... mesmo que seja uma nuvem (a parte mais visível do céu).

    abraço Graça

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  5. Sempre há uma luz a nos guiar.
    Belíssimo, Graça.
    Beijo!

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  6. Um momento de desalento perante as agruras da vida. E o fazer da prece, talvez a desejar que tudo termine depressa. Certamente foi ensinado com a crença de que teria a recompensa na vida eterna.

    Felicidades
    MANUEL

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  7. Boa noite Graça,
    A "carga" às vezes é exagerada para umas costas já cansadas pela longa caminhada - o desespero leva à busca duma qualquer fé que dê alento. É mesmo assim.
    bj amg


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  8. Infelizmente, tem muita gente que não sabe cultivar o amor, e depois fica se lamentando das consequências. Por que será?

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  9. Desamparo - é isso mesmo que muitos de nós sentimos no país. Desamparo, angústia, um tremendo peso sobre os ombros... desespero.

    Palavras por de mais bem escolhidas e bem cerzidas, Graça.

    Beijinhos.

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  10. Será então fibrilhação
    dum cansado coração
    à míngua de palavra…
    porque lhe é recusada?

    O bálsamo dos sons
    que evolui dum perfume
    aquieta o queixume
    de pássaros desesperados.
    Dêem-lhe uma camélia rosa
    nos dias mais precisados
    abram-lhe a gaiola do peito
    e deixem a esperança entrar.

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  11. Olá, boa noite!
    Obrigado pelo comentário no meu blog.
    O seu poema é o poema aos marinheiros!
    E eles bem merecem ser bem tratados, como a miga os trata!

    Beijinhos!

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  12. Nossa, que revelação mais poética! De tanta saudade que sinto do mar eis que me entrego a esses versos, sei lá, como espécie de catarse.
    Cadinho RoCo

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  13. aves trémulas que persistem no sonho de voar...

    muito belo.

    beijo, minha Amiga

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  14. O presente de aniversário mais especial da minha existência. Merecer seus versos e sua amizade são dádivas inigualáveis. Abraços.

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  15. a foto faz jus ao poema que fez para o seu amigo.
    eu sei que ele gostou, como vejo no seu comentário.
    beijinho

    :)

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  16. Devoção ou descrença... A face dos dias, a incerteza de passos e gestos.

    Um privilégio, estas leituras!

    Beijo

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  17. A palavra desampara a poesia alada que de tão profunda não chega a voar! abraços

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  18. Um poema muito belo que retrata tão bem o desespero de tanta gente, de tantas vidas.

    beijinho emocionado

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  19. Belíssimo hino para a fragilidade da vida humana...

    Beijo

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  20. Boa noite Graça, a faina do mar e as suas agruras presentes neste seu excelente poema!
    O mar que tanto oferece, mas que tanto arranca também!
    Palavras belas as suas que me emocionaram! A foto em perfeita sintonia!
    Beijinhos,
    Ailime

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  21. Mesmo curvado pelo cansaço, os sonhos que no peito moram, farão o voo...
    Tocante e belo poema.
    Bjo, Graça :9

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  22. Sim, tem vezes que voam aves trémulas no peito.

    Belo como sempre.

    beijinhos

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  23. Muito intenso e comovente.
    Bj.
    Irene Aves

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  24. O desamparo de um, o desamparo de tantos...
    Quando a poesia se insurge com certas realidades...

    Muito bem, Graça!

    Um beijo :)

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  25. teresa p.7:56 da tarde

    O desânimo não derruba quem tem fé e acredita no seu sonho...
    O poema é intenso e profundo e a foto está em perfeita sintonia com as palavras.
    Lindo!

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  26. Há momentos assim, de descrença. onde o coração parece abandonado, mas há que acreditar.

    Tem-se de acreditar, sempre.

    Beijinhos

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  27. Tocante, Graça, este teu poema...

    Abraço enorme, amiga

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  28. Boa tarde, quando a força se esgota caímos de joelho, fragilizados acreditamos em tudo como solução, será com devoção? fico com duvidas porque esta nada nos trás.
    AG

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  29. Que belo pensamento poético, numa bela construção.
    Uma verdadeira imagem de devoção, no todo, Graça.

    Abraços

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  30. - A boca com iodo e sal


    Mar Salgado
    Mar que Nos Elevou
    Mar Salgado
    Sepultura
    Da Minha Raça

    Jc

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  31. Oi, querida amiga, Graças Pires !
    Pensamentos nobres, que se transformam
    em joias literárias, por tuas mãos
    mágicas de poetisa...
    PARABÉNS, e um fraterno abraço, aqui
    do Brasil.
    Sinval.

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  32. OI GRAÇA!
    MESMO NOS MOMENTOS DE DESESPERO, NÃO PERDER A FÉ, NUNCA.
    MUITO LINDO GRAÇA, TENS O DOM DOS VERSOS.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  33. Devoção, descrença, desamparo.
    Areal onde enterramos os passos, costas vergadas pela carga dos navios.
    Grito suspenso.
    Poema intensamente metafórico, a que a subtileza da autora confere uma graça única, o instante em que as palavras, aves trémulas à solta no nosso peito, nos comovem e nos libertam.

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  34. Reli com igual encanto o teu excelente poema.
    Tem um bom fim de semana, querida amiga Graça.
    Beijo.

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  35. gosto. tanto. tanto.



    .



    assim de joelhos. prostrada.


    imf

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  36. Ana Pires5:55 da tarde

    Mesmo bonito este poema Mae. Gosto muito. beijinhos

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  37. Nem sempre os ombros suportam a carga.
    Mas enquanto o peito pulsar,é sempre possível ouvir os cânticos das aves...
    A beleza da poesia, numa escrita que atordoa a alma.

    Beijo meu Graça

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  38. Ler este poema é sentir a dor do Universo acumulada no nosso âmago.
    Comovente e ao mesmo tempo sofrido.

    "...
    Fatigado, ajoelhas e benzes-te com a devoção ou a descrença de quem pressente o desamparo das palavras ou apenas o instante em que há aves trémulas voando no teu peito. "

    Que a Esperança renasça no voar livre de todas das aves.

    Um abraço de carinho.

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  39. As aves... Também ando a viajar por essas imagens poéticas das aves, voando, voando...

    Adoro este poema!

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  40. Uma bela homenagem, minha querida!
    Mais do que merecida!
    D'Angelo é um poeta de rara sensibilidade, cujos versos sempre refletem a poesia de sua solidão.
    E, tu, soubeste refleti-lo da forma mais sublime.


    Um beijo,

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