Junto ao muro
do nosso quintal cresciam
junquilhos. As galinhas
subiam as escadas da
varanda e catavam caruncho
e formigas. Uma nespereira
à beira do poço olhava
as águas paradas no fundo
do tempo. Os
pessegueiros eram tão delicados
que bastava soprar para
que os pêssegos nos
caíssem nas mãos. As
galinhas eram livres até
serem degoladas ao domingo
antes da missa. E o
milagre das manhãs era a luz clara dos junquilhos
o ardor dos pêssegos na
palma das mãos, a água
fresca do poço. Talvez por
serem assim delicados
há muito que os
pessegueiros morreram. Mas a
nespereira era eterna
e também já não existe.
Quando alguém mandou tapar
a boca do poço já as
galinhas tinham perdido a
liberdade. Aparecem
agora depenadas
embrulhadas em película nas
prateleiras do hipermercado
do outro lado do quintal.
A nossa casa caiu para
dentro de si própria. À beira
da estrada de alcatrão entre telhas e barrotes
ainda
crescem junquilhos. Não
deve tardar de certeza um
qualquer decreto
a corrigir tão ostensivo
anacronismo. O céu anda
baixo e o tempo não está
para bucólicas poesias: há
muito que nos abandonaram
os deuses às ímpias
sombras.
Rui Miguel Fragas
In: Não sei se o vento.
Macedo de Cavaleiros: Poética, 2015, p.14
Abri o livro “Não sei se o vento” de Rui Miguel Fragas e soube, de imediato, que se me tornava necessário lê-lo. Confrontei-me, desde a primeira página, com uma serenidade apenas aparente. Porque este é um livro de sobressalto da memória, onde se procura esclarecer o passado e captar, do presente, toda a luz possível. O Poeta entrelaça vozes e paisagens, o quotidiano e a tradição como se fossem faces de um mesmo espelho. É um livro belíssimo! Parabéns Rui!
ResponderEliminarBom dia
ResponderEliminarQue poema fantástico e belo de se ler! Amei de verdade.
Beijinho e uma excelente semana
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
Ótima semana!!!!!!!!!!! Beijos
ResponderEliminarNão conhecia o autor mas, tal como a Graça, foi uma agradável surpresa.
ResponderEliminarParabéns a ambos
Regina Gouveia
Bela poesia...Espectacular....
ResponderEliminarCumprimentos
Beijos meus
Morris
Boa tarde,
ResponderEliminarExcelente poema. Fiquei curiosa para ler o livro.
Obrigada Graça
Beijinhos e boa semana
ResponderEliminarUm poema de saudade e uma consentida desolação onde meus olhos se revêem.
Um beijo meu, Graça!
Lídia
Que belo texto arrasou amei, tenha uma semana abençoada.
ResponderEliminarBlog:http://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br
Novo vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=apP6eHn5PlI
Graça
ResponderEliminaruma boa escolha de um poema cheio de memórias do Rui Miguel Fragas
rico e muito belo!
uma boa semana.
um beijo
:)
O perfume que paira na nostalgia dos afectos, que teima em preservar o chão do nosso coração.
ResponderEliminarO poema projecta de forma límpida quadros de um filme que foi e é o nosso.
Bj.
Um belíssimo poema... saboreando uma agradável nostalgia de tempos passados... mas de bons tempos... que sempre permanecerão na memória de quem os recorda... ainda que o presente apenas possa mostrar as ruínas, desse tempo bonito que já passou...
ResponderEliminarUm belo e tocante poema!!! E uma grande partilha, por aqui...
Beijinhos, Graça! Boa semana!
Ana
Olá Graça
ResponderEliminarBelo poema. Um forte abraço.
Belo este desassossego de memórias
ResponderEliminarBj
Memórias cheias de cor e cheiros....
ResponderEliminarLindo.... Gostei muito...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Que poema tão belo este que nos trouxe amiga Graça.
ResponderEliminarUm olhar para uma realidade tão diferente das memórias.
Um beijinho
Fê
Muito lindo, Bjbj Lisette.
ResponderEliminarBoa noite Graça,
ResponderEliminarQue poema tão belo!
Poesia de memórias numa cadência sublime, comovente, como se as palavras desenhassem as próprias memórias.
Beijinhos e uma boa semana.
Ailime
Um belo poema que nos confronta o passado com o presente. Gostei muito, Graça.
ResponderEliminarBonito poema.
ResponderEliminarIsabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt
Bom dia
ResponderEliminarEste é um alto preço que todos pagamos.
Dentro de cada um de nós ainda mora um quintal povoado de memórias e de sons que ouvimos.
Gostei muito de me rever nesse passado recente que nos roubou a infância.
Triste como tudo se acaba com o passar do tempo.
ResponderEliminarA simplicidade me lembrou a casa da vó na infância, com seu poço, suas galinhas, seus pés de frutas e tudo tão simples e tão lindo...
Abração e ótimo dia.
Recordações marcam sempre o que foi bom.
ResponderEliminarbjokas =)
Oi, querida amiga, Graça Pires !
ResponderEliminarQue belas recordações, em alma de poesia,
compartilhadas, generosamente, por ti, ao
homenagear o Autor, Rui Miguel Fragas.
Muito grato pelo refinado texto.
Um carinhoso abraço, aqui do Brasil.
Sinval.
Boa tarde, recordações que ficam para sempre, ter capacidade para guardar na memoria os pêssegos na palma das mãos, a água fresca do poço é maravilhoso.
ResponderEliminarAG
Uma poética profunda, analítica e aciona uma inquietação,
ResponderEliminarum desassossego da lucidez (gosto muito)!...
Grata pelas boas partilhas, Graça!
Beijo.
Parabéns pelo teu trabalho de divulgação.
ResponderEliminarAbraço para ambos, linda
Na memória sempre permanecerá os dias felizes de outrora, apesar das velhas ruínas de agora...
ResponderEliminarLinda escolha Graça!
Obrigado pela partilha.
Beijos,
Mariangela
O tempo se mostra sempre implacável.
ResponderEliminarCadinho RoCo
Uma análise tão lúcida! Não nos acostumamos com a ideia de que as coisas simples e belas se foram. Ótima escolha! Bjs.
ResponderEliminarUma definição perfeita dos lados das coisas numa bela reflexão,
ResponderEliminarsobre o passar do tempo e a vida
analogia bem fundamentada ao sabor de belos pêssegos
no fundo do quintal que mora em minhas lembranças.
Bonito Amiga.
Abraços com carinho.
Bjs de paz.
Lindo dia!!!!!!!!!!!! Beijos
ResponderEliminarBom dia, Graça, sua postagem me fez recordar muita coisa, confesso que chorei quietinha . Belíssima e bem construída comparação com os dias que ( talvez) foram mais felizes para mim. O progresso vem e tira de nós aquela magia da vida simples que o conforto nos dá, mas sem alma , sem sentimentos. Parabéns! Grande abraço!
ResponderEliminarEste texto fez-me lembrar da infância, da 'liberdade das galinhas' e de quando não se tinha muro na frente de casa. Os primeiros versos me trouxeram imagens, como se estivesse ali.
ResponderEliminarE como tudo, o passar do tempo, talvez esta a única certeza absoluta.
Adorei a escolha do texto.
Abraço!
Bonitas lembranças em versos.
ResponderEliminarMuita paz!
Graça, como sempre recebo tua visita com muito prazer. Você que tem sido tão carinhosa com teus comentários, tuas críticas e, sobretudo, com o incentivo que dás aos poetas que mastigam as palavras" literalmente, Como eu. Não conhecia Rui Miguel Fragas. Gostei muito. Gosto muito da poesia portuguesa, terra dos meus avós. Rui Miguel será agora motivo de pesquisas minhas para conhecê-lo melhor. Sempre um enorme prazer ter tua presença aqui no meu pequeno espaço. Agradeço sua gentileza. Sempre. Beijos.
ResponderEliminarRangel
ResponderEliminarhttp://tempolivremundo.blogspot.pt/
Hoje é dia do 2º aniversário.
Vem beber um chá comigo.
Beijinhos.
(passarei com mais tempo para ler a bela poesia)
O Rui Miguel Fragas faz parte (contigo, querida amiga) de uma galáxia de poetas que me são inspiração e afecto.
ResponderEliminare este poema é uma lucidez arrepiante - ou não estivéssemos "abandonados às ímpias sobras!..."
beijo, Graça
Boa noite querida Graca.
ResponderEliminarUma bela partilha minha amiga, um poema marcante de Rui Miguel, um feliz més de fevereiro. Enorme abraço.
Oi Graça,
ResponderEliminarpassei para lhe desejar um final de tarde abençoado.
Bjs
Tânia Camargo
OI GRAÇA!
ResponderEliminarASSIM É A HISTÓRIA DE MUITOS DE NÓS, PASSOU, MAS AS SAUDADES NÃO.
BELO DEMAIS.
ABRÇS
http://. zilanicelia.blogspotcom.br/
Belo poema a sublinhar a minha imensa nostalgia...
ResponderEliminarBeijo, Graça.
Foi uma leitura em crescendo: da serenidade depressa passei ao espanto, como se fosse um antes e um depois. Surpreende pela acutilância...
ResponderEliminarObg pela partilha, Graça :)
(Li o teu comentário inicial e, por esta amostra, tenho a certeza que é mesmo assim.)
Um belo poema, muito bucólico e nostálgico, que trás à memória sensações intensas, também já vividas.
ResponderEliminarOs meus parabéns ao autor e obrigada Graça por o divulgares "Em Seara Alheia".
Beijo
Belíssimo. Palavras lúcidas e cheias de sabedoria Obrigada por partilhar.
ResponderEliminarBeijinhos e bom carnaval
A descansar ou na balada, não se esqueça de celebrar a vida. Bom final de semana e um ótimo carnaval.
ResponderEliminarBeijos
Ani
Um poema que retrata uma realidade mais comum do que parece.
ResponderEliminarNão conhecia o autor, mas gostei do poema, que é excelente.
Graça, bom fim de semana e bom carnaval.
Beijo.
Graça, um poema, de certo modo, bucólico me transportou à infância, junto da cidade de Peniche. Curiosamente me fez também recordar a casa do meu avô Foz de nome, por ser oriundo da Figueira da Foz.
ResponderEliminarAbraços
Pois é retrata bem como tudo se foi transformando
ResponderEliminarpara pior.
Gostei muito.
Beijinho amiga e bom fim de semana.
Irene Alves
E eu acabei por me identificar tanto com este poema, que saudades de como era a minha casa na infância. Beijo.
ResponderEliminarVotos de resto de domingo feliz.
ResponderEliminarAG
シ
ResponderEliminarEsse é o preço que pagamos pelo progresso!...
Bom fim de semana!
Beijinhos.
❤ه° ·.
não sei se o vento e as sombras
ResponderEliminare no entanto, os pessegueiros estão em flor
grata, por nos ter dado a conhecer o Rui
um beijo, Graça
Bom restinho de domingo!!!!!!!!!! Beijos
ResponderEliminar~~~
ResponderEliminar«O Nome das Árvores»
tem poemas muito interessantes,
que nos tocam de modo muito particular...
~~ Excelente semana, Graça.
~~~~ Abraço amigo. ~~~~
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ResponderEliminarEu nao conhecia o autor, achei o poema muito bucolicamente belo.
Bjs
Olá, Graça.
ResponderEliminarAutor sensível na descrição das memórias, na demonstração do que era e já não é.
É exactamente essa sensação de "sobressalto da memória" que fica ao ver-se a casa que era vida a pulular "caída para dentro de si própria".
Boas escolhas, Graça.
bj amg