Espreito pelos dedos a memória
mais longínqua da infância.
Procuro-a intensamente.
Nas árvores, nas latadas,
nos vãos de escadas,
nos telhados, nos rochedos.
E retalho a pele dos seios.
Rapo o cabelo.
Envolvo-me de fumo.
Soletro as palavras maternas.
Mas um sopro invisível
dispersou o berço e os brinquedos
como um eco sem volta.
Coloco na ara sacrificial
a candura recortada
de um cenário imaginado,
para que me seja paisagem na
lembrança.
Graça Pires
De Uma claridade que cega, 2015