ESTENDO OS PULSOS
à lâmina da memória: cada gota que escorre é uma tempestade por
dentro, um copo de veneno sobre um piano esquecido, um mapa
truncado
de uma cidade perdida. Ardem sombras de rosas no desalinho do
tempo e um resto de cinza costura o teu retrato. O sangue da memória
não é a casa das coisas
é uma luz de estrela
por entre a poeira dos astros, um clarão de chamas no interior
calcinado dos livros. Abro as portas da manhã
que as noites há muito fecharam. Cega-nos esta vã glória de estar
morto e caminhar ainda, de ainda respirar, de amar sabe-se lá o quê,
cega-nos este desengano de sonhar ao relento
um lugar que não existe.
Nunca aprendemos a morrer de uma vez só. O sangue procura o
sangue mesmo quando se derrama sobre a aridez do chão. E a terra
que nos consome não nos subtrai ao vício de lançar sementes sobre as
pedras
das falésias.
O dia escurece a vaga moldura das coisas, as palavras escapam-se
pelas fendas a reclamar o silêncio. Resta um sussurro a nomear
animais extintos e uma luz inútil invisível que persiste
na ponta dos dedos.
In: O Rumor das Máquinas. Aveiro: Universidade de Aveiro, 2015, p. 36
Que belo texto,Graça! Desejo um lindo agosto pra ti! beijos, tudo de bom,chica
ResponderEliminarmorrer devagar... no hermético poema, intenso e sublime, de rui muiguel fragas - poeta para mim hoje revelado.
ResponderEliminare é da "ponta dos dedos" que o sentimento do "eu" corre em palavras, em noites sem madrugadas.
obrigado, graça, por mais esta "seara"...
um beijo, e uma semana sem sombras.
O livro de Rui Miguel Fragas. “ O Rumor das Máquinas” recebeu o Prémio Literário Aldónio Gomes 2015, atribuído pelo Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro.
ResponderEliminarÉ um livro muito belo. Parabéns, Rui!
"Cega-nos esta vã glória de estar
ResponderEliminarmorto e caminhar ainda, de ainda respirar, de amar sabe-se lá o quê,
cega-nos este desengano de sonhar ao relento
um lugar que não existe.
Nunca aprendemos a morrer de uma vez só."
É isto! É nesta inquietação que também tenho vagueado em rabiscoscom riscos.
Boa semana, Graça, e muito obrigado por isto e por aquilo, na magia das palavras.
Um poema de versos intensos e profundos. Encantador. Desejo a você uma bela semana
ResponderEliminarGraça Pires
ResponderEliminarO interessante e belo poema do livro de Rui Miguel Fragas, sugere as coordenadas para gizar um romance policial. Boa sensibilidade da poetisa.
Três coisas - 1ª. Brasil: O Sorriso de Deus, vive de intensa pesquisa e até de uma visita que fiz aquele país. 2ª. é pena a poesia de Afonso Duarte não ser mais conhecida, porque se insere numa grande corrente do poesia, que marcou época. Comecei a conhece-la numa visita à sua casa na Ereira, no âmbito de um Encontro de Escritores Lusófonos em Montemor - o -Velho, com os auspícios da Biblioteca Afonso Duarte.
3ª. o meu bisavô veio da Figueira da Foz, dai veio o sobrenome, para Peniche. Ai fundou o Casal Foz, hoje estância de Verão de muitos lisboetas.
Beijos
Graça
ResponderEliminaruma excelente escolha de um trabalho poético de rara beleza e imenso talento que tem o Rui Miguel Fragas (pseudónimo)
e cito :Nunca aprendemos a morrer de uma vez só.
pois não, o poeta morre tanta vez e consegue sempre reerguer-se nem que seja para voltar a escrever e deixar assim o seu legado.
muito belo isto!
boa semana
:)
Belo!!!
ResponderEliminarNunca se morre quando se mora assim nas palavras....
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Um texto denso e forte! Realista!!
ResponderEliminarCom carinho e o desejo de que tenha um lindo mês de Agosto...
Belas palavras arrasou como sempre, tenha uma asemana abençoada.
ResponderEliminarBlog: https://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br/
Canal:https://www.youtube.com/watch?v=DmO8csZDARM
Boa noite querida Graça.
ResponderEliminarUm belo texto, acho que a cada dia morremos aos poucos, primeiro morre muitos sentimentos que vivemos ao decorrer da vida, depois percebemos que cada dia vivido vai ao encontro da morte do corpo, não acredito que a vida pará aqui, acredito que deixamos essa vida, para irmos de encontro ao Pai e se necessário ocorrendo varias encarnações ate o dia que teremos a oportunidade de viver ate depois dos 70 anos, acontecendo isso, com essa idade, não haverá mais encarnação, ficaram la no outro planeta ate o dia da ressurreição dos vivos e dos mortos Um lindo agosto amiga, cheio de belas surpresas. Grande abraço.
Olá Graça
ResponderEliminarTexto interessante. Desejo um belo dia, bjs querida.
muito bonito...
ResponderEliminarobrigada pela partilha!
A morte não existe
ResponderEliminarBoa partilha
Bj
Olá Graça.
ResponderEliminarPor seu intermédio estou conhecendo Rui Miguel Fragas, que, pelo poema que acabo de ler, é um ótimo poeta. Este poema exige mais de uma leitura , para que se possa aproximar um pouco da mensagem do poeta, dada a profundidade desta sua criação poética.
Abraço.
Pedro.
"O sangue da memória/não é a casa das coisas/é uma luz de estrela/por entre a poeira dos astros"...
ResponderEliminarque seria dos poetas sem a "lâmina da memória"?
fico a "dever-te" mais um poeta, Graça
beijo, minha Amiga
ResponderEliminarPoesia
Prosa
é preciso inspiração
Paz e tranquilidade
para poder escrever
...
Não tenho esse dom!
...
Há expressões que me apaixonam:
um resto de cinza costura o teu retrato.
Abro as portas da manhã
que as noites há muito fecharam.
AGRADEÇO A SUA VISITA e COMENTÁRIO.
Cá para os meus lados tenho um post novo!
Como sempre digo sobre os meus blogues,
é uma aprendizagem constante tanto para mim, que obrigo-me a fazer pesquisas
e o que venho a saber através das mesmas;
bem como para quem me visita.
Caso queira é este o link:
http://tempolivremundo.blogspot.pt/
Beijinho
Olá
ResponderEliminarQue palavras singelas em forma de poema com um
toque de
enigma.
bjs
http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/
Gostei de conhecer
ResponderEliminarAbraço para vós
Belo poema, sim!
ResponderEliminarBeijinho
OI GRAÇA!
ResponderEliminarUM TEXTO LINDO.
UM AGOSTO DE MUITA PAZ.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Um poema com muita bossa! Parabenizo Rui através da sua sensibilidade em postar, Graça...
ResponderEliminarUm beijo
Um poema muito interessante, pleno de imagens belas e nostálgicas. Gostei muito! Parabéns ao autor e obrigada à Graça por o dar a conhecer.
ResponderEliminarBeijo.
Não conhecia esse escrito. Belíssimo poema.
ResponderEliminarObrigada por compartilhar tais palavras.
Ótima quarta. Beijinhos...
profundo e poético.
ResponderEliminarParabéns ao autor.
Abraço.
Olá, Graça.
ResponderEliminarExtraordinário poema, esse que nos traz.
"Nunca aprendemos a morrer de uma vez só" - tantas vezes se morre, ao longo de uma única vida.
A mim sempre me espanta como tão grande dor faz germinar poemas de tão rara beleza.
bj amg
~~~
ResponderEliminarÉ um poema belo, mas demasiado dramático para o meu presente gosto...
Já ultrapassei todas as crises existencialistas...
Agora admiro a paz e a harmonia...
~~~~~ Beijinhos, Graça. ~~~~~
Oi Graça!
ResponderEliminarQue ótima escolha deste poema forte e reflexivo!
Gostei de conhecer!
Beijos, uma linda tarde!
Mariangela
Um texto que não foi escrito pela Graça, mas que poderia mto bem tê-lo sido, visto que os vossos estilos são muito semelhantes.
ResponderEliminarA erudição, a forma indireta e velada de escrever, meio filosófica, até, e logicamente de interpretar, por quem vos lê, é comum a ambos, mas vocês conhecem as palavras como as vossas mãos.
Uma prosa poética, onde o pensamento entra em "Seara Alheia", ou talvez não, pke nós, na vida e na morte, continuamos a nossa ceifa, que nunca tem fim, pois tudo começa, morre e recomeça nos sentidos.
Beijos a ambos.
Como habitualmente vou ausentar-me durante Agosto e Setembro. Não queria fazê-lo sem me despedir…
ResponderEliminarLogo à tarde embarco numa viagem de sete horas (com escala…) para uma praia paradisíaca. No regresso ao blog, em Setembro, publicarei fotos - espero!
Deixarei programadas três postagens, a primeira das quais para o próximo dia 6. As restantes têm lá as datas anunciadas.
Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Graça,
ResponderEliminarnem sei que diga!
O Rui é o Rui...uma surpresa, uma dádiva, um colega, um grande amigo....um grande poeta!
Já falei sobre a obra dele em Poiares, na biblioteca...
Está sempre comigo em formato saudade...porque será?
Beijinhos para ele e para si!
ResponderEliminar"Nunca aprendemos a morrer de uma só vez"
O Rui tem este modo tão seu de ser Poesia.
Um beijo meu
Lídia
Abençoado final de semana!!!!!!!!!!! Beijos
ResponderEliminarPeço desculpa pelo demora, mas o sistema nem sempre actualiza os blogues na hora exacta. Andava a dar um vista de olhos a ver se algum me saltava e encontrei o sei-
ResponderEliminarAdorei o seu texto, como sempre. Parabéns
Bom fim de semana
Beijos
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
Belíssima escolha de O rumor das máquinas. Além de vigoroso, o poema é uma viagem a um lugar perseguido, a essência da própria vida.
ResponderEliminarBeijo,
Oi Amiga, Graça Pires !
ResponderEliminarBelo texto de Rui Miguel Fragas !
Descreve a morte... "saboreando" o fim
da vida.
Obrigado por partilhar tão belo escrito.
Um carinhoso abraço, aqui do Brasil.
Sinval.
Que lindo! Pensei que era seu, enquanto lia. Tem muito de seu nele... E vi muito de mim também, lembrei de vários trechos de poemas meus. Acho que nós, poetas, não somos muito originais. Risos...
ResponderEliminarUm excelente poema de um poeta que a amiga
ResponderEliminarpartilhou connosco e fez bem.
Desejo que se encontre bem, apesar do muito calor.
Bjs.
Irene Alves
Boa noite Graça,
ResponderEliminarCada letra, cada sílaba, cada palavra que vão desfiando (e desafiando) as memórias do poeta num percurso magnífico de vida plena, transcrito num maravilhoso poema.
Obrigada, minha amiga, por dar a conhecer tão grande Poeta!
Beijinhos,
Ailime
Um mês de Agosto extremamente quente que nos faz desejar a frescura dos ribeiros.
ResponderEliminarUm abraço amigo e até Setembro/Outubro.
Nunca aprendemos a morrer de uma vez só... por vezes revivemos as perdas, as tristezas, as dores e morremos outra vez. Lindo poema.
ResponderEliminarUm abraço
Sônia
Adorei este poema... que é mesmo uma tempestade por dentro... de tantas e fortes emoções que nos transmite...
ResponderEliminarNão conhecia o autor!... Magnifica partilha, Graça!
Beijinhos! Até breve!
Ana
Não conhecia o autor. Pelo poema escolhido, vê-se que o poeta mergulha fundo, como que se fosse um esventramento, no âmago dos sentires e no lado da natureza humana que se compraz em abrir feridas em vez de as sarar. Um lado obsessivo, direi eu. Excelente a qualidade literária.
ResponderEliminarParabéns ao poeta; obrigada pela partilha.
Bjo, Graça