De repente era eu no
prolongamento de mim.
Tracei o próprio
corpo em transparência de tule.
Na ponta das
sapatilhas pousaram aves inquietas.
Esboçaram a leveza azulada
das sombras,
cindidas em singular
aceno.
Rodopiaram a
claridade dos sonhos
até que rosto algum
pudesse resistir-lhe.
De repente eras tu no
prolongamento de ti.
A roçar o meu chão.
Em impulsos cativos
do espaço.
Em tumultos
circulares até ao infinito.
Em vertigem aflita
por cima do abismo.
A fazer da queda um
tão breve equilíbrio,
que o tempo sobre o
tempo renascia.
Depois fomos nós.
Primeiro a sedução,
indecisa ainda,
no improviso do
desejo.
Um movimento subtil a
enredar-se
na demora de pressentir
o gozo.
E desse tardar,
vencidos nos repartimos na dança,
no tango: o prazer do
jugo presumido no olhar.
O corpo todo, que
cede e se recusa no júbilo do sangue.
Ai, devagar, que os
ardis deste cerco nos tomaram.
Graça Pires
In: A CNB e os Poetas,
2016, p. 27
Poema feito depois de ter assistido ao reportório de bailados “Serenade”, “Grosse Fuge”, Herman Schmerman” e “5 tangos”, a convite da direcção da CNB, através de João Costa, Fev. 2016.
A fusão do olhar, do corpo e do sentir numa dança de palavras e um poema sublime, Graça.
ResponderEliminarUm abraço.
Linda dança de amor...Beleza de inspiração! beijos, tudo de bom,chica
ResponderEliminarMagnifico e belo poema de que gostei bastante.
ResponderEliminarUm abraço, boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
a dança dos sentidos :)
ResponderEliminarboa semana, Graça, beijinho
O equilíbrio numa dança cheia de paixão e desejo...
ResponderEliminarGostei...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Excelente poema
ResponderEliminarAmei de verdade. Obrigada pela partilha.
Beijo e uma excelente semana
what thrilling and sensuous poem dear Grace!!!
ResponderEliminaryou got me there with you
Boa tarde Graça,
ResponderEliminarUm poema extremamente belo em que na sua composição se vão desenhando os passos de dança em toda a sua beleza e esplendor.
Um beijinho, minha Amiga, e uma boa semana.
Ailime
Olá Graça
ResponderEliminarLindo poema, abraços.
Precioso poema.
ResponderEliminarFeliz semana.
Besos.
Entrega suprema em tuas palavras. Provocantes, envolventes e de uma imensidão maravilhosa. Parabéns...
ResponderEliminarOlá
ResponderEliminarUma dança de olhares e palavras em encontro
com o amor.
Beijão.
http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/
Lindo poema, retrata bem a beleza de uma dança. Beijinhos
ResponderEliminarSão belíssimas as imagens, Graça. A “estratégia de composição” nos sugere os passos da dança, a conjunção dos corpos em escalada, acoplado ao campo semântico que sugere um caminho diacrônico, sustentando os corpos sobre si e sobre a música que os embala.
ResponderEliminarNão há dúvida, "na ponta das sapatilhas pousaram aves inquietas”.
Bela fotografia você nos oferece, Graça. É o poder encantatório das palavras nos seduzindo
Um beijo,
Olá, Graça!
ResponderEliminarEste teu poema, "O tempo sobre o tempo", tem o esmero da forma na sua construção, o que denuncia a poetisa exigente, que traz para o seu canto o que alma lapidara. Belíssimo poema, minha amiga.
Um beijo. Pedro
as imagens de suporte fazem jus ao poema
ResponderEliminara fusão da dança do corpo e da alma
as palavras sentidas e sensíveis
gostei muito
beijinhos
:)
Que bela definição dessa dança tão bonita.
ResponderEliminarHello Graça,
ResponderEliminarSpecial to see this beautiful picture.
Very impressive with the wonderful words.
Big hug, Marco
Gracias por pasar por el blog en estos momentos que estamos pasando en nuestra tierra.
ResponderEliminarespaña con nosotros nos odia pero nos necesita.
Besos
Ah, Graça Pires, Mestra das Letras !
ResponderEliminarSomente tu poderias bailar na emoção
da poesia...
Parabéns, querida Amiga !
Um carinhoso abraço, aqui do meu Brasil !
Sinval.
Uma viagem entrelinhas e entre verso e entre danças! beijos
ResponderEliminarAdorei bailar é bom demais.
ResponderEliminarbjokas =)
No tempo a presença da inspiração dançando em nossas almas. www.hellowebradio.com ... você.Vem!
ResponderEliminarCadinho RoCo
ResponderEliminarA sensualidade que faz do poema música e dança aqui expressa muito à tua maneira. Passo a passo, lapidando as palavras, fazendo-as reluzir.
Beijo
Lídia
‘Quando se dança diz-se a verdade’, é o título de um dos textos do novo livro de José Tolentino de Mendonça “O pequeno caminho das grandes perguntas”.
ResponderEliminarEstava a lê-lo quando chegou o poema da Graça. Senti que a autora se junta aos bailarinos, num movimento em que «o corpo todo … cede e se recusa no júbilo do sangue. Ai, devagar, que os ardis deste cerco nos tomaram.»
O maior dos ardis, as palavras da Graça, há muito que nos tomaram por inteiro a nós, seus leitores encantados, enredados e vencidos, «na hora de pressentir o gozo» de um novo poema.
Beijo.
Bailados... que subiram ao palco, da sua inspiração... neste belo e profundo poema, Graça...
ResponderEliminarComo sempre... um imenso privilégio, poder ler e apreciar, mais um dos seus belíssimos trabalhos poéticos!...
Beijinho! Continuação de uma feliz e inspirada semana...
Ana
E aqui está perfeitamente traduzido em palavras o sentimento sentido perante o bailado de dois corpos que se movimentam com leveza " na ponta das sapatilhas ", rodopiando em " tumultos circulares " , ora unidos e entrelaçados ora se afastando um do outro com se uma " vertigem " os atingisse e os fizesse" roçar o chão "parecendo cair em completo desamparo. Mas não. .. o equilibrio surgiu e de novo enlaçados continuam a dança , elevando-se, rodopiando em circulos encantados e encantando. E não é a nossa vida um bailado? Não é ela um palco onde a cada dia iniciamos uma dança...eu...tu...nós todos? Nem sempre a música é alegre, nem sempre acertamos o passo , nem sempre queremos dançar, mas o palco está lá e a música também.; hoje há dança, mas amanhã...não sei...
ResponderEliminarAproveitemos então e subamos para o palco já!
Obrigada, Graça, pelo belo momento; não dancei, mas gostei de admirar os dançarinos. Muito bonito. Beijinhos
Emilia
Belíssimo o bailado das palavras!
ResponderEliminarE os corpos e a música e a poesia num só todo.
Beijinhos.
De repente era eu no prolongamento de mim.
ResponderEliminarTracei o próprio corpo em transparência de tule.
Na ponta das sapatilhas pousaram aves inquietas.
Esboçaram a leveza azulada das sombras,
cindidas em singular aceno.
Rodopiaram a claridade dos sonhos
até que rosto algum pudesse resistir-lhe.
Es una estrofa que contiene encanto, fuerza y una irresistible imagen de la belleza de la danza. Poderosos versos que nos llevan al mundo mágico de la danza. Orecioso poema.
Gracias por sus amables palabras en mi blog. Espero poder seguir disfrutando de sus poemas durante mucho tiempo, todo el que Dios quiera que continuer con vida.
Un abrazo. Franziska
Gosto da "transparência do tule" é muito elegante.
ResponderEliminarGraça você é um poema escrito.
ResponderEliminarLer-te afaga meus olhos e o coração.
Obrigada por essa bela reflexão interior, é o que é para mim, tuas leituras.
Um beijo
Olá Graça
ResponderEliminarBonito poema, bjs.
Um poema feito dança, apaixonante e pleno de sedução. As palavras e as imagens têm o ritmo perfeito de um bailado que emociona. Magnífico!
ResponderEliminarBeijo.
Um poema brilhante.
ResponderEliminarQue poderia estar exposto na CNB. Esta ficaria a lucrar...
Parabéns pelo talento.
Bom resto de semana, amiga Graça.
Beijo.
Um belissimo poema , sem dúvida.
ResponderEliminarConcordo com Jaime Portela.
Beijinho e bom final de semana, amiga
subtil erotismo na dança da poesia.
ResponderEliminare os corpos cedem à beleza do poema.
gostei muito, minha Amiga.
um beijo, Graça
Um poema com a dança e com toda a volúpia que dela emana, dentro. Pela brilhante forma da sua construção e pelas imagens conseguidas através do bailado de palavras que a poeta coreografa, em sublime saber fazer.
ResponderEliminarBjinho, Graça
A dança já é um poema em movimento; e juntando as tuas palavras, a tua construção, querida Graça, essa postagem ficou deslumbrante! Adorei.
ResponderEliminarBeijo, querida amiga! Um bom fim de semana.
Uma coreografia perfeita.
ResponderEliminarUm bailado de estátuas vivas, no cinzel rigoroso das tuas palavras.
E quando a beleza é grande, emudece...
Grande abraço, querida amiga Graça!
Um poema que dança à luz da esperança.
ResponderEliminarUma "tempestade" vestida de bonança, num sorriso de criança.
um verso na lembrança feito trave
neste teu edifício construído para o além, no relevo de alguém feito paisagem de um ser harmonioso.
abraço
...complimenti molto bello quello che scrivi e come lo scrivi, sarà un piacere seguirti...
ResponderEliminarGraça Pires
ResponderEliminarMaravilhoso e grandiloquente poema, que a maravilhosa ilustração complementa.
Beijos
ResponderEliminarOlá Graça Pires
Gostei muito do poema
e da fotografia
começo por agradecer as visitas que tem feito aos meus blogues
Há algum tempo que não visito o seu espaço
Desculpe-me,
mas... estive de férias,
quando todos regressam aos trabalhos e à Escola, vou eu
Ando sempre ao contrário...
e, agora tenho que colocar em dia as minhas visitas.
Pois é, o calor continua mesmo...
Parece que para a semana vem o Outono a sério, dizem...
e, lá vou eu até ao Algarve à chuva...
Ando há 2 semanas com tosse, garganta inflamada, etc
típico das diferenças de temperatura!
Bom fim de semana.
...ansiando as chuvas que tardam
e as terras agradeciam!!!
O teu poema é uma bailar de primeira classe. Simplesmente encantada!
ResponderEliminarEu não sei já falei isso antes, mas sou uma admiradora do teu trabalho.
Um ótimo domingo.
Beijinhos.
_______________
P.S.: Por motivo de falta de tempo e entre outras coisas, eu posso passar um tempo sem visitar o seu cantinho. Vou continuar atualizando o blog normalmente, mas nem sempre vou retribuir a visita imediatamente, ok? Sempre que eu puder estarei aqui para curtir as suas postagens. Agradeço a sua compreensão e a sua visita.
Linda poesia, o peso do tempo sobre seu próprio corpo ou talvez sentindo o "peso" da alma em chamas por um amor que aflora a todo instante. lindo demais! Obrigada amiga pela visita e o comentário que deixou. Amo suas visitas, saibas que serás sempre bem vinda aos meus blogs. Tenha um abençoado fim de semana. Abraços
ResponderEliminarHonroso convite e correspondência ao mesmo, com um inspirado resultado muito poeticamente profícuo e belo por parte da estimada Graça.
ResponderEliminarDiria e digo que é algo literalmente mágico quando a vida nos toca e inspira desta forma _ eu estou longe, muito longe deste nível de inspirada expressão poético-artística, mas dalguma forma e à minha humilde maneira consigo entender um pouco essa magia, de resto à minha mesma humilde maneira e dimensão existencial já me senti, dalgum ainda que residual e mas até por isso também eterno modo, tocado pela mesma!
Beijo de sentida estima e admiração
Ás vezes, apenas precisamos ter calma e paciência.
ResponderEliminarApenas por me chamar, por me dar um abraço quando me vê,
sorrir pra mim, são coisas pequenas...
Mas são as que realmente marcam..
Desejo de todo meu coração
um abençoado Domingo.
Uma semana de vitorias
Beijos no coração.
Evanir..
ResponderEliminarMaravilhoso poema, amiga.
Também gosto muito de bailado.
Desejo muito que se encontre bem.
Bjs.
Irene Alves
Um bailar transversal, surpreendente, com as palavras a soltar-se à mercê das emoções, quase arriscando vida própria, num eterno bailado...
ResponderEliminarSempre tão bem, Graça!
Abraço :)
Um poema que dá gosto tocar, embalar na delicadeza da dança,embarcar nessa atmosfera irreal.
ResponderEliminarE eu chumbo, amarrado, não vislumbro do fundo os holofotes que quero ter a brilhar...
Bj.
Querida Graça,
ResponderEliminarpor vezes faço pausas involuntárias, mas não perco os teus poemas. Este é um dos que dilata o olhar e faz deslizar a palavra em compassos de dança de uma cumplicidade absorvente.
Obrigada.
Parabéns e mil beijos.
De seu encantamento veio a leveza de sua bela poesia, nos voos dos pássaros dançarinos.
ResponderEliminarImagino a beleza de espetáculo que fez esta linda construção da poesia.
Bjs amiga.
Olá, querida Graça!
ResponderEliminarEntão não me chamou, nada me disse? É que um poema deste "calibre" e temática, "veste-me" e "alinda-me". É pena, nesta forma de comentário, que escolheu não podermos ver a imagem, as cores, o contorcer dos corpos, o arrebatamento, a graciosidade e a "prepotência" desta dança - o tango.
E eu a pensar tanta coisa (rs)! "Não" se defraudam, assim, esperanças, minha amiga! Tirou-me o "pão", que alimentaria a minha boca e depois tudo o resto.
Nos prolongamentos, é que o tango nos leva e embala e não há como retroceder, até porque ficamos "sem" cabeça para pensar e apenas o corpo cede, flete e se entrega.
É mais que vertigem, é mais que abismo, é acredite, o "fim" do mundo, por momentos. Eu faço dança de salão, coisa de bairro, e sei do que falo e do que sinto.
A Graça sentiu assim e conseguiu colocar em palavras as sensações, os movimentos, estados de luxúria e o glamour de tanto prazer. PARABÉNS!
Já li o seu mais recente poema, que tem tules, rendas, cambraias, cetins e cristais em cada linha. Depois, comentá-lo-ei. Gosto de ser das últimas.
Beijos e um excelente domingo
E ficou belíssimo, Gracinha!
ResponderEliminarBeijo amigo
Que legal, não lembrava de ter lido esse poema antes. Tenho também um poema sobre tango que fiz para um concurso, até publiquei ou publicarei.
ResponderEliminarRealmente, a dança é resumida no verso "o prazer do jugo presumido no olhar"...
Beijo