Se eu escrevesse um poema
havia
de fazê-lo sobre a areia,
para
que viesse o mar, ou a chuva
exaurir
o sentido das palavras.
Houve,
na minha infância,
um
mar antiquíssimo com barcas
acendidas
no meio da noite.
Um
vínculo sagrado ou de sangue
me
liga à memória das ondas.
Da
harpa da lembrança tangem as cordas
mais
sensíveis na demanda de veleiros
brancos
para incendiar novembro.
Nem
sei por que comecei a usar,
quase
em sobressalto, uma gravata preta.
Graça Pires
De Fui quase todas as mulheres de Modigliani, 2017
Graça Pires
De Fui quase todas as mulheres de Modigliani, 2017
Soberbo poema!
ResponderEliminarBeijinhos e uma excelente semana
Porque, às vezes, o preto ofusca até o olhar...
ResponderEliminarLindo como sempre...
Beijos e abraços
Marta
so profound and delicately touching poetry dear Grace!
ResponderEliminarBoa tarde. Que lindo.
ResponderEliminarBjos
Boa Segunda-Feira
.
Hoje:"Nunca será cansaço quando a espera é desejo"
casam muito bem as palavras com a imagem.
ResponderEliminarboa semana, Graça.
Talvez o preto seja a despedida do passado. Mas os barcos estão sempre lá. Bj
ResponderEliminarSoberbo, divino, são as palavras certas para classificar tão bonito poema
ResponderEliminar...
Deixo amizade
...
Linda poesia e tela bem escolhida! beijo, linda semana,chica
ResponderEliminarOlá, Graça!
ResponderEliminarAbres esta postagem com a essa obra magistral de Amedeo Modigliani, que te inspirou o título deste teu belíssimo poema, "Mulher com gravata preta", sensível poema, que íntegra o teu livro "Fui quase todas as mulheres de Modigliani", 2017. Desse belíssimo poema, transcrevo estes versos:
"Da harpa da lembrança tangem as cordas
mais sensíveis na demanda de veleiros
brancos para incendiar novembro."
Desejo a ti, minha amiga, uma ótima semana.
Um beijo.
Pedro
A despropósito lembrei-me de uma prosa que escrevi
ResponderEliminarA senhora das meias pretas
Sempre um prazer visitar o teu espaço
Boa noite Graça,
ResponderEliminarUm poema belíssimo que muito apreciei.
As lembranças da infância e o mar tantas vezes calmo, tantas vezes revolto a atear o coração no sobressalto da noite “na demanda de veleiros
brancos para incendiar novembro”.
Um grande beijinho e uma excelente semana,
minha Amiga e enorme Poeta.
Ailime
ResponderEliminarUm poema profundíssimo, li e reli!
A imagem também traz bastante reflexão...
Uma boa semana, Graça! Bjs
Imagine-se quanta recordação estes veleiros brancos guardaram na viagem que ainda perdura.
ResponderEliminarGravata preta
de saudade!
Sempre Belo, "mulher de Modigliani"!
Abraço grande!
Poema e ilustração que mostra a busca da identidade feminina...
ResponderEliminarAbraço.
Um poema ímpar. Gostei.
ResponderEliminarHello Graça,
ResponderEliminarWonderful poetic words. So nice to read.
A nice image with it.
Big hug, Marco
Um belo poema muito bem ilustrado por uma tela do mestre Modigliani.
ResponderEliminarUma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Olá, amiga Graça, mais um belíssimo poema a evocar a fatalidade de quem tem o mar como destino de vida. Dá e tira.
ResponderEliminar"Nem sei"...
Sei que no areal as gaivotas não se vestem de preto, mas mostram estar em solenidade permanente - de luto? - não ser a discreta agitação que as percorre no movimento, a intervalos, de ondas e marés.
Será da ausência de luz que o preto tem, quando polvilha a areia de ais?
Obrigado pela sapiência da palavra.
Bj
E que os ventos que ameaçam adernar
ResponderEliminaro meu barco, por piedade me soprem
as velas para junto do cais, onde estás,
ou me afogo nas salgadas águas que choro,
pois as profundezas dessas que banham
teus pés, com certeza, será a minha
nova morada.
Um beijão e obrigado pelo carinho de
sempre.
.
Olá Graça
ResponderEliminarLindo poema, abraços.
ResponderEliminarIncendiou-se Novembro e harpas tocaram um poema escrito na areia. Um poema que o tempo não vai diluir. Tão belo!
Beijinho, Graça.
Me ha encantado el poema lo encuentro delicioso y muy atrayente entre todos los buenos poemas que he leído, enhorabuena. Esta serie de Modigliani es muy buena. Un abrazo.
ResponderEliminarOlá, querida Graça!
ResponderEliminarEstava eu aqui a pensar em ti, como diz a canção, e é verdade, mas estava também tentando encontrar um adjetivo, assim, grande, único, que pudesse "classificar" o seu poema, mas a morfologia, hoje, não quer nada comigo e além do mais, ela sabe, que eu gosto de me alongar, de me espraiar, não na praia, mas no meu terreno" e no dos outros.
A pintura tem a ver com o seu poema, sem dúvida, sobretudo com a última parte, mas, sinceramente, acho a senhora muito pouco atraente, contudo, atendendo ao momento que se está a viver no nosso país, ela está perfeito, e além disso, o conceito de beleza é relativo, como sabemos.
Ainda bem que a Graça não escreve poemas na areia (depois, ao ouvido, diga-me, por favor, onde os escreve), embora nas suas bandas, ela prolifere, não muito limpa, é certo, mas há bastante, caso contrário ficaríamos sem os conseguir ler, porque o mar e a chuva, ah, a tão almejada chuva (!), levá-los-iam, talvez para o artista plástico e escultor, Amadeo Modigliani se inspirar e fazer retratos de mulheres, da mais diversa índole e aspeto.
Na minha infância não houve, porque nasci no Alentejo raso e profundo, onde nunca vi barcas, e muito menos barcos, daí talvez a minha aversão ao mar e aos seus "acessórios". As minhas memórias foram e são searas ondulantes sob o calor dos tórridos verões, mas sem incêndios. Temos pouca vegetação e as nossas mãos nunca foram assassinas. Ardia-nos, pelo contrário, no peito, um sadio contentamento, sob o arfar da calma (calor), magicamente enlevados pela brancura do povoado.
Usávamos muito a cor preta, como luto, sim, e quando se tratava de familiares afastados, punha-se uma gravata ou um lenço, écharpe para indicar aos outros, que estávamos tristes e que alguém nosso tinha morrido.
Que venham muitos veleiros, navios, daqueles de grande porte, brancos, pombas de paz, para inundarem, velozmente e intensamente, novembro e meses seguintes, embora a chuva não me agrade muito, mas agora, sinto-me num deserto negro de cinzas.
Como a Graça foi quase todas as mulheres de Modigliani", é muito natural, que agora, e mais do que nunca, queira colocar uma gravata preta no seu tailleur ou fato de calça e casaco cinza. Olhando-a, posso afirmar, que lhe fica muito bem e condiz, desgraçadamente, com a realidade vigente, mas vai chover, brevemente, pouco, pouco, deuses meus!
Grata pela sua visita e comentário. Dá trabalho e leva tempo a fazer um poema com a temática dos meus, é verdade, mas lá se vai fazendo.
Venho ao seu blogue, poucas vezes, mas quando venho, analiso tudo, mas tudo mesmo, pormenorizadamente, porque eu não sou e não vou "en passant".
Beijos, um abraço sincero e uma copiosa semana, meteorologicamente falando.
Um poema maravilhoso.
ResponderEliminarBeijinhos
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco
Minha Amiga, Graça:
ResponderEliminarÉ magnífico este seu poema.
Em cinco tempos dá-nos um entrelaçar de palavras, todas elas suficientes e necessárias, para construir o que o mar e a chuva jamais poderão apagar.
E eu, que só me atrevi na areia mulhada da praia a escrever uma só... poderia chamar-lhe poema, mas nem o mar dele me poderia falar.
Sobressalto, sim, sinto na beleza arquitectada. (e aqui até poderia usar gravata, coisa que não gosto, em especial)
Hoje, releio-o e sinto todas as cordas
a vibrar.
Um beijo e boa semana.
Um poema com muitas interpretaçoes.
ResponderEliminarO mar eterna inspiração do Poeta também pode ser traiçoeiro.
Também ceifa vidas.
Talvez a gravata preta lembre o luto de alguém.
Poema bem ilustrado como sempre.
Beijinhos
:)
Ah como gostaria de ser uma das mulheres de Modigliani,
ResponderEliminarE todas as manhãs fazer versos na areia do mar.rs
Amei esse poema, Graça
Você é não só uma, mas todas as mulheres poeticamente vestidas ao modo dos pintores.
Meu abraço
O mar e a lua foram talhados para poetas, esses, mar e lua ficam poderosos, misteriosos, parecem espreitar o mundo através de sua luminosidade e o mar através do vai e vem de suas ondas. E os dois guardam seus mistérios. Com o mar não me meto, e a lua, sim, sempre bela e calma.
ResponderEliminar"Se eu escrevesse um poema
havia de fazê-lo sobre a areia,
para que viesse o mar, ou a chuva
exaurir o sentido das palavras."
Lindo, querida Graça! E Modigliani, sempre altivo!
Beijo.
Maravilhosa poesia de uma grande poeta. Excelente postagem.
ResponderEliminarGraça, novembro incendiou-se num dia 22, para iluminar a nossa vida com os teus poemas.
ResponderEliminarParabéns.
Beijo.
Querida Graça, um poema triste mas lindo, muito bem escrito.Parabéns amiga.Tenha um belo dia
ResponderEliminarA Semana passada estava folhando algo de
ResponderEliminarGustave Coubet e Modigliane;
e rapidamente me veio a mente o seu nome e seu blogue k.
Acho que tu és uma mulher de Modi... como gosto de chama-lo k.
Boa continuação de semana.
PAZ E BEM.
Graça, minha Amiga
ResponderEliminara (des)propósito lembrei-me de uma citação de Pascal:
"ajoelha e serás crente"!...
assim a gravata preta! e o luto.
gostei muito.
beijo
O mar como um destino inevitável... "um vínculo sagrado ou de sangue me liga à memória das ondas". Belas as imagens poéticas com que incendeias Novembro. Parabéns!
ResponderEliminarBeijo.
As reminiscências da infância são um mar imenso de saudade; um laço indelével de emoções a incendiar o Novembro dunar das intempéries da vida. A gravata preta é a grilheta inconsequente da noite que se repete em cada encruzulhada de indecisão.
ResponderEliminarUm Beijo, Graça.
Se eu escrevesse um poema como este, só me restaria, na vida, fazer do amor que me invade e domina, a rota que meu barco deveria seguir. Não perder esta rota nem meu amor seria toda a minha missão. E não haveria nada que impediria a minha completa felicidade.
ResponderEliminarAs suas palavras tem a força do signo simbólico do mar, na sua infinitude
ResponderEliminarde beleza e na passagem da sua memória, as ondas deste seu vínculo
que se expressa Poesia...
A Poesia é um imenso estado de sentir, e os símbolos se encontram
na dança das palavras com muitas vidas e mortes nesta viagem-vida!...
Adoro a sua Poética, Graça.
Beijos.
Lindíssimo! Gostei tanto!
ResponderEliminarA Graça tem mesmo o dom de poetisa.
Beijinho
Que me ha gustado mucho.
ResponderEliminarGracias por pasar por el blog.
Besos
O mar sempre vem " beijar a areia ", umas vezes suavemente outras parecendo ter raiva de quem ousa enfrentá-lo e, cá para nós, tem muita razão o mar, pois o homem não o respeita como deveria. Mas há os outros, aqueles que vivem do mar, o respeitam e a ele devem o pão para a boca. Enfrentam-no corajosos quando ele se mostra raivoso e, nāo sabendo distinguir, o nosso belo mar os arrasta deixando as areias repletas de mulheres, não " de gravata preta" , mas de xailes negros como negros estão os seus corações enquanto esperam ver além os veleiros que transportaram os seus homens Esperam em vão essas mulheres...nem veleiros, nem os homens que partiram e em vez deles chega a dor, o sofrimento e muitas vezes a fome; estas mulheres aqui tu lembraste e cantaste num belo poema homenageando assim todas as que sofrem e que, de uma forma de outra se vêem, de repente, sem se aperceberem, a colocar " uma gravata preta " que tão cedo nāo terão vontade de fechar numa gaveta. Este grande pintor pintou mulheres e tu, Graça, cantaste -as de outra forma não menos bela; Não sei pintar, não sei fazer um poema, mas, ao ler-te, não pude deixar de pensar nas mulheres aqui de Vila do Conde, ( Caxinas ) uma região de muitos pescadores e de mulheres envoltas em xailes pretos que choram maridos e filhos que o mar levou. E assim, Graça, deixei-me levar pelos teus versos, agradecendo-te a homenagem feita a estas mulheres tão sofridas. Um beijinho e boa noite
ResponderEliminarEmilia
Um poema profundo e tocante... que aborda a dura realidade de quem está ligado ao mar... que tanto dá... mas que também reclama tantas vidas... e o luto frequentes vezes, assola as famílias, que têm no mar o seu ganha pão...
ResponderEliminarGostei imenso, Graça! Beijinho! Bom fim de semana!
Ana
Conjugação perfeita, o texto e a imagem.
ResponderEliminarNo fundo, todos escrevemos na areia, já que o tempo acabará por fazer o mesmo que faz uma maré.. E os últimos a ser apagados serão os mais altos... nomeadamente os de Camões, de Pessoa e, porque não, os da minha amiga Graça...
ResponderEliminarBom fim de semana.
Beijo.
Pleno e intenso.
ResponderEliminarGosto!
Beijinho querida Graça
Si potrebbe stare ore a contemplare il mare, apprezzarne le sue estensioni infinite che scatenano un'infinità di emozioni. Ci permette di vivere, ricordare momenti e allo stesso tempo sentire quella sensazione di rinnovamento, di sicuro un luogo dove rifugiarsi.
ResponderEliminarCarissima un abbraccio grande e buon fine settimana di cuore
Boa tarde, Graça,
ResponderEliminarque linda composição de palavras, escrever na areia, os poetas podem, pois são imortais
vem a onda e leva, mas a maré os traz de volta para nós.
Belíssima ilustração do quadro.
Parabéns! Grande abraço!
Que o calor de um carinho,
ResponderEliminaro afeto de um abraço e o sorriso de uma
grande amizade sejam presença constante em sua vida.
Estou aqui para desejar um Domingo abençoado.
Fique na paz >< Fique com Deus!
Beijos e carinhos meu.
Evanir..
Amiga poema lindo minha querida.
Estupendo poema este, amiga !!
ResponderEliminarBeijinho, bom domingo
ResponderEliminarBoa tarde, Graça
Sei como é. Realmente, de nada vale deixar palavras escritas na areia,
pois têm uma vida efémera. Ou então, o mar, cioso do seu espaço, leva-as e quem sabe se não as reescreve numa outra história. Mas, temos o pormenor da gravata preta. Onde é que ela entra? A Emília aí em cima, dá-lhe um sentido tão profundo que lhe assenta perfeitamente. Transfere a gravata preta para o significado dos xailes negros da mulheres viúvas, das mulheres orfãs de amor e ganha-pão.
Bj
Olinda
Querida Mestra/ Poetisa, Graça Pires !
ResponderEliminarQuantas lembranças, Amiga, que, certamente,
jamais se apagarão...lindo texto ! Parabéns !
Um afetuoso abraço, aqui do Brasil.
Sinval.
Quando os poemas nos fazem brotar tristezas,
ResponderEliminarentão que a todas as dores da alma se escrevam na areia,
e depois,
se a chuva vier,
ou se uma onda de mar nos abordar o coração,
que nos lave esse sentimento de véus e gravatas pretas enredados nas memórias.
Que sobre a harpa em melodias em suaves.
O final é maravilhoso Graça.
ResponderEliminarLembrou-me Drummond numa poesia que falava de uma quadrilha numa trama de amores,
que no final uma personagem casou-se com uma pessoa, que não havia entrado no jogo.
Gosto desta maneira de nos levar ao inesperado, ao não óbvio.
Show de criatividade e inspiração amiga.
Bjs.
Talvez porque na mulher cabem todas as figurações da humanidade...
ResponderEliminarO teu quilate, sempre presente.
Bjos
Se eu pudesse nomear essa mulher, eu a nomearia "Graça Pires", que tudo o que escreve é ligado ao mar, às barcas e à memória das ondas. E, por acaso, nasceu em novembro.
ResponderEliminarTambém não sei ainda o sentido da gravata preta...
Beijo, querida.
uma gravata preta,
ResponderEliminarmastro de um veleiro branco, talvez...
um abraço, Graça