Em seara alheia
Vem depressa enquanto a casa
ainda me conhece.
Os corredores apagam-se
e nos retratos
Agosto está pálido.
O quarto está cheio de vento,
o perfume magoa-se contra a memória.
Há inverno nos móveis,
mas as mãos teimam em visitar
as árvores nas gavetas.
Vem depressa enquanto a casa
ainda me conhece.
Não tarda os ciprestes abrem as janelas
e os muros reclamarão o meu nome
Se não chegares a tempo,
não te preocupes,
deixei a morada aos pássaros.
Alberto Pereira
In: Viagem à demência dos pássaros. Lisboa: Glaciar, 2017, p. 53
Ricardo Gil Soeiro escreveu: Nas páginas do novo livro de A. Pereira, o pássaro funcionará como a figuração do anseio pela liberdade, pela audácia ou pela autonomia, núcleo plural de sentido bem presente no magnífico poema XX que fecha o volume: "O homem,/viagem à demência dos pássaros" ...
ResponderEliminarParabéns Alberto por mais este maravilhosos e inovador livro!
Obrigado Graça Pires. Fico feliz por ter gostado do livro. Beijinhos
EliminarBom dia
ResponderEliminarAssim, vagueando por entre sílabas e ventos, se escreve poemas de elevado valor poético. Não li esse livro onde se fala deste poema, porventura um "grave" erro perante aquilo que se calhar deveria ler ou ter lido.
Gostei imenso
Votos de uma boa semana
Abraço
Excelente poema. Parabéns pela escolha.
ResponderEliminarBeijinhos e um excelente semana
How spiritual and touching!
ResponderEliminarthank you for sharing the master piece of another good poet dear Grace!
Muito bom este trabalho poético do Alberto Pereira e a Graça já disse tudo no seu precioso comentário.
ResponderEliminarUma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Um poema de altíssima qualidade! Metáforas que nos fazem meditar na vida, no viver e em sua importância... Momento único! Obrigada!
ResponderEliminarAbraço.
uerida Gracinhamiga
ResponderEliminarContinua a desaparecer a "tal letra" ue não posso escrever????)
Uma transcrição mito apropriada e um poema lindíssimo. Não conhecia mas vou já comprar o seu livro.
Como sempre adoro-te
js do Henrique, o Leãozão
A memória que ainda resta.... Às vezes, desaparece por completo...
ResponderEliminarQue beleza!
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Um poema que qualquer um de nós gostaria de ter escrito. Tão claro e com sabor a vida. Só aos pássaros se deixa a morada.
ResponderEliminarGrata, amiga Graça.
Beijinho.
Muito bonito!
ResponderEliminarEu não sei se acontece só comigo, mas quando leio belos poemas assim, fica difícil comentar pq mexe com sentimentos... e não é tão fácil escrever o que sentimos... Felizes os poetas, que têm este dom!!!
Obrigada pelo carinho com os Anjos!
Abraços esmagadores e feliz semana!!!
Um poema muito interessante. Também tinha saidades de andar por aqui.
ResponderEliminarNo dudo de que el libro de Alberto Pereira, teniendo entre sus páginas ese bonito poema, haya logrado una gran aceptación y sea digno de ser recomendado y leído.
ResponderEliminarAgradezco tus letras en mi espacio y aprovecho para dejarte cariños para compartir con ese autor.
Kasioles
A poesia de Alberto Pereira é sempre reflexiva e intensa e aqui mesmo podemos apreciar essa escrita, tão rica e tão bela que, nos faz ler e entender quanto é preciso e urgente reavivar a memória antes que ela se apague do corpo e da mente.
ResponderEliminarGostei muito!
Boa semana.
Boa escolha!
beijinhos
:)
Essa pequena mostra nos dá a dimensão do poeta. É quase certo que a leitura de cada poema, tal como ocorreu com este, há de sustar a respiração para que possamos deixar o pássaro que habita em nós também possa bater as asas! Certamente cada poema do livro inaugura um novo instante.
ResponderEliminarUm beijo, minha amiga!
Excelente escolha, belo poema.
ResponderEliminarBeijinhos
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco
Gracias por compartir los versos de un gran poeta y de uno de sus hermosos poemas. Ha sido para mí todo un descubrimiento y un placer la lectura de los pensamientos que van desgranando los versos. Feliz semana. Un abrazo.
ResponderEliminarOlá, Graça!
ResponderEliminarNesta postagem prestas homenagem ao poeta Alberto Pereira e a nós leitores, que não podemos esconder a falta dos poemas de tua lavra. Mas não tiremos o valor desse belo poema!
Um beijo. Pedro
Bom dia. Que bom que é deliciar-me com as suas poesias. :)
ResponderEliminarBjos
Boa terça-feira
"Somos apenas uma ilha/ cercada pelo espanto,/ um lugar onde se enlouquece sempre” -Alberto Pereira, in Amanhecem nas rugas precipícios
ResponderEliminarum autor de linguagem demolidora, onde cada poema é derrube de muros e biombos.
fez-me lembrar Daniel Faria, mas muito mais acutilante.
gostei muito, Amiga, desta sua divulgação.
um beijo, Graça e uma óptima semana.
Grato Luís. Forte abraço.
EliminarWonderful words.
ResponderEliminarNice to read.
Hugs, Marco
És sempre de uma enorme generosidade.
ResponderEliminarGrato abraço, boa semana, linda
Que belo poema, nos traz beleza e reflexão.
ResponderEliminarTenha uma boa terça feira.
Boa tarde, Graça
ResponderEliminarUm autor que desconheço mas que percebo, entendo, no tom que põe na sua poesia. Obrigado pela divulgação, nesta rubrica "Em seara alheia", de novos valores da arte poética.
"Vem depressa enquanto a casa / ainda me conhece".
Parece o Poeta, Gil Soeiro, mostrar a urgência que há no arrimo da vida. É que o tempo escapa-se e ilude a perceção das delícias dos dias, deslaça e deslassa nós, afectos, o que nos mantêm.
E amanhã será tarde. Pergunto se valerá a pena deixar a morada aos pássaros que se acolhem nos ciprestes da noite.
Porquê, para quê? Para a desmaterialização prometida pela mercantilização que não passa duma ilusão? É que a matéria só se sustenta nas emoções, nos sentimentos. Só assim há poesia.
Bj
Temos pressa para tantas coisas....
ResponderEliminarbjokas =)
Poema limpinho limpinho, que maravilha!
ResponderEliminarCadinho RoCo
Inspiração divina. Inigualável. Poema lindo demais
ResponderEliminar.
Deixo saudações amigas
Oi Graça
ResponderEliminarDepois de um tempo afastada,retorno ao convivio bom com o que gosto muito_os poemas dos amigos.
E sempre aquele prazer em ler os que você publica da sua seara ou de algum amigo.
Deixo meu abraço, agradecida
istanti che tornano nella memoria, la necessità di assaporare quei profumi prima che tutto svanisca. Una scoperta per me, molto bella come del resto tutte le poesie che pubblichi...
ResponderEliminargrazie mia cara per essere passata un abbraccio grande ed il piacere di leggerti sempre
Aqui no Brasil dizemos, quando precisamos comprar roupas boas e diferentes, que vamos tomar um banho de loja; e vindo no teu blog eu digo que venho tomar um banho de poesia!
ResponderEliminarGostei muito desse poema de Alberto Pereira.
Um beijo, querida Graça, ótima escolha.
Boa noite Graça,
ResponderEliminarQue poema tão belo e tão ao meu gosto que o senti na alma como se estivesse a seguir os passos do Poeta!
Obrigada, minha Amiga, por me ter dado a conhecer a poesia de Alberto Pereira.
Beijinhos e continuação de boa semana.
Ailime
ResponderEliminarBoa noite, Graça
Este poema abalou-me, senti um aperto magoado no coração.
Veio ao encontro de algumas emoções que me preenchem.
Sinto sempre uma certa nostalgia, uma pena imensa,
quando vejo uma casa com ar abandonado, janelas penduradas,
portas carcomidas, paredes com a pintura a descascar.
Penso nas vidas ali vividas, por onde andarão as pessoas e as suas
histórias, se o aspecto da casa é o retrato do que ali deixou
de existir. Memórias perdidas, palavras e emoções fugidas das
das gavetas das recordações.
Talvez o vento, os pássaros, na sua deslocação possam levar a
semente para outras paragens e ali voltar a germinar vida vivida.
Parabéns ao autor pela sensibilidade e pela analogia tão bem
conseguida.
Bj
Olinda
Graça querida,
ResponderEliminarSempre com boas escolhas!
Beijos.
Tão lindo esse poema Graça. Fiquei aqui pensando como deve ser maravilhoso os escritos desse poeta.
ResponderEliminarUm beijo!
Continuação de boa semana!
Adoro o título do livro.
ResponderEliminarOh Graça, se em seara alheia
ResponderEliminarA casa conhece o dono
E está em certo abandono,
Por certo a ausência semeia
Nos corredores, a feia
Visão que ali falta o trono
Do senhor, como se um sono
Deixasse essa casa cheia
De fantasmas para o medo
Fazer de tudo um segredo
De morte, de tédio e sono,
Cujo pesadelo é enredo
De abominável degredo
Ao mais cruel abandono.
Grande abraço. Laerte.
Um poema brilhante.
ResponderEliminarObrigado pela partilha, penso que nunca tinha lido nada do autor.
Bom fim de semana, amiga Graça.
Beijo.
Minha amiga...
ResponderEliminarTenho dito isso muitas vezes:
vem depressa enquanto estou aqui...
se demoras muito, talvez nos perdamos
de nós mesmos,
e nossos caminhos nunca mais se encontrem
nessa vida...
Abraço imenso...
Aluísio Cavalcante Jr.
Lindo, de uma grande subtileza, diria também espiritual, mas pode ser apenas a minha interpretação. :) Beijinhos
ResponderEliminarQuerida Mestra, Graça Pires !
ResponderEliminarQue texto lindo e que jeito poético de
descrever o abandono.
Parabéns a Alberto Pereira...
Obrigado, Graça, por compartilhar tamanha beleza !
Um carinhoso abraço de bom dia, aqui do Brasil.
Feliz final de semana.
Sinval.
sábios pássaros
ResponderEliminarBelíssimo! Um retrato da vida que nos escoa das mãos.
ResponderEliminarBom-fim-de-semana!
Beijinhos.
Não sei se as casas nos reconhecem...mas o poema é belíssimo! Excelente escolha e obrigada pela partilha.
ResponderEliminarBeijo amigo
Abrevio: lindo!
ResponderEliminarUm beijinho, Graça :)
Boa tarde querida Graça.
ResponderEliminarUm poema lindo, não tinha tido o prazer de ler ainda nada de Alberto Pereira. Foi uma oportunidade. Uma linda semana minha querida amiga. Forte abraço.
Um poema lindíssimo, que percorre o que resta da vida... e apela, a que a mesma seja o máximo possível aproveitada, junto de quem se ama... de uma forma tão leve... como o voo de uma pássaro... ainda que nos toque bem fundo!...
ResponderEliminarUm autor cujo trabalho, adorei descobrir, por aqui, Graça!
Belíssima escolha, e partilha!...
Beijinho
Ana
Conheci o poeta e obra pela mão da Conceição Lima, na sua Hora da Poesia. Apaixonei- me...
ResponderEliminarBelíssima escolha!
Bjo, amiga