25.6.18

Em seara alheia


distância

andava distante
sem encontrar sorriso que se visse
ou verbo que lhe acudisse
remendava a voz aqui e ali
com descontinuados brados
povoados de insetos quietos
de pernas para o ar
esquecidos do ato de voar.

e dobrava os rios que tinha inventado
com os peixes dentro
e as algas, as cachoeiras, os seixos
e depois de tudo desconsertado
descerrava um molho de nuvens
e desenhava no peito
uma porta para o deserto.

farto de abastecer a solidão,
labuta agora arduamente
na construção de um oásis
que virá secar a sua sede.

Lídia Borges
In: CONTINUUM: antologia poética. Pinturas de Luís Liberato, fotografias de Soledade Centeno. Braga: Poética, 2018, p. 38

49 comentários:

  1. Bom dia. Excelente poema. Parabéns, adorei :))

    Bjos
    Votos de uma óptima segunda - feira.

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  2. Um oásis assim, uma arte a construção! Linda poesia! bjs, ótima semana,chica

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  3. Há dias em que a solidão é um fardo...pesada, sombria....
    Gostei muito...
    Beijos e abraços
    Marta

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  4. Boa tarde!
    Hoje identifiquei-me totalmente neste poema! Sinto-me assim! :(

    Beijo e uma excelente semana

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  5. Olá, querida amiga Graça!
    Acabo de vir do da Cidália e vi o mesmo tema refletido nos versos de forma diferentemente postado e fiquei deslumbrada aqui também.
    Cosntrução poética lindíssima! Perpassa o sentimento inerente ao poetar...
    O oásis acontecerá! Deus é fiel!
    Seja muito feliz e abençoada junto aos seus amados!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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  6. Vim te dar um beijinho e te
    desejar bom dia.

    O texto é ótimo, como os que
    vocÊ escreve.

    Um beijinho, de novo.


    .

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  7. andava distante
    sem encontrar sorriso que se visse
    ou verbo que lhe acudisse
    remendava a voz aqui e ali
    com descontinuados brados
    povoados de insetos quietos
    de pernas para o ar
    esquecidos do ato de voar.

    e dobrava os rios que tinha inventado
    com os peixes dentro
    e as algas, as cachoeiras, os seixos
    e depois de tudo desconsertado
    descerrava um molho de nuvens
    e desenhava no peito
    uma porta para o deserto.

    farto de abastecer a solidão,
    labuta agora arduamente
    na construção de um oásis
    que virá secar a sua sede.

    Lídia Borges

    GRAÇA,

    quando até os insetos esquecem o ato de voar, devemos parar para uma reflexão definitiva, caos absoluto ou fim de ciclo?
    Seria realmente o caso emergencial de, mesmo sabendo que iria dar no nada do deserto, abrir a porta daquela sôfrega e situacional vivência, na espera de um oásis , improvável, mas salvador!
    Que delicia de postagem Graça! Que sensibilidade a da Lídia Borges em poder demonstrar que a poesia pode tergiversar a realidade e emoldurar até mesmo os mais definitivos momentos de solidão, com estas e metafóricas e poéticas situações descritas com esta espetaculosidade de uma verdadeira "expertise".
    Obrigado pela postagem e obrigado por este momento.
    Beijo.
    Um abração carioca.

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  8. Bom dia,
    seu poema retrata o que sentimos e passamos muitas vezes,
    ficamos sozinhos e por querermos a solidão , esquecemos que pessoas nos rodeiam, pessoas que nos amam, que nos sentem quando estamos distantes.
    Quem está distante nem sente que faz sofrer a todos que lhe querem bem.
    As palavras não saem para alegrar o dia de alguém, o sorriso fica pendurado no canto da boca, e assim passa mais um dia, em que se perdeu em ser, e fazer a alegria de outro.
    Gostei de seu poema. Beijos!

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  9. Bom dia, Graça
    Que a solidão passe rápido. Bjs querida.

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  10. Boa tarde, Graça Pires
    Sentado na areia me pousei
    rodeado dum oasis quase feito
    Pensei em ficar comer tâmaras
    a cáfila repousando da travessia
    mas o vento veio contrariar a intenção de construção perfeita:
    tombou-me de costas de calhostras
    Eu feito escaravelho tacteio
    teclas na ilusão de que passa

    Gostei muito desta escolha. O poema de Lídia Borges muito me agradou. Tão certeiro e escorreito e de uma sonoridade encantadora. Até as serpentes, se as houver por perto, cuido que não, se acomodarão tranquilas no cesto.
    Parabéns à autora e um beijo amigo para quem serve aqui, pontualmente, sempre, divino néctar.

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  11. Um poema vigoroso. Gosto deste modo de andar, deste modo de encarar a "solidão", deste ao fim ao cabo de proclamar a liberdade, deste modo de encarar o diverso. Bela partilha!
    Um beijo, minha amiga Graça!
    Um semana luminosa para você!

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  12. Lindo, denso, chega a arrepiar!
    Grata pela partilha Graça.
    Beijinhos, Léah

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  13. Es un placer pasar por su blog Saludos

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  14. Lindo demais Graça...
    Escolha certeira.


    Beijos
    Ani

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  15. Quando procuramos um pouco de solidão, quando a pedimos é porque algo precisa acontecer, torna-se até nossa aliada. Mas quando ela nos pega de mau jeito, entra sem pedir licença e se instala forte e bela, podemos crer que o estrago está feito.
    Ótimo poema, querida Graça, gostei muito da partilha.
    Beijo, uma boa semana, amiga.

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  16. Nice poetic words Graça!!
    Wonderful.

    Greetings, Marco

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  17. Bom dia, na minha opinião, solidão é benéfica quando necessária e desejada, ao contrario julgo que é prejudicial em todos os sentidos, o poema é lindo.
    Continuação de feliz semana,
    AG

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  18. Ahh...........such beautiful poetry !
    Marvelous expressions with delicacy and depth dear grace!!!

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  19. Sente-se o sentido espicaçado da solidão Tão forte que se abre ao deserto. E digo eu que no deserto emergem flores desabridas de beleza - ainda que piquem.

    Abraço as duas poetas de eleição: Lídia Borges e Graça Pires.

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  20. Continuas generosa !


    Abraço grande, Amiga, boa semana

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  21. Boa tarde minha Amiga,
    Um poema magnifico de Lídia Borges, poeta que também aprecio bastante.
    Muito obrigada pela sua generosa partilha.
    Um beijinho e continuação de boa semana.
    Ailime

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  22. https://poemasdaminhalma.blogspot.com/
    Boa tarde, Graça!
    A solidão existe, especialmente em seara alheia.
    Belíssimo poema.
    Beijinho e continuação de boa semana
    Luisa

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  23. Qualquer poeta se dessedenta neste seu espaço.

    Bem-haja pelo seu blogue e por si que o criou.

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  24. Olá Graça, que bela garimpagem nos rios cristalinos e sombrios de Lidia Borges.
    Uma partilha inspirada e bela.
    Grato.
    Beijo amiga.

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  25. batem à porta
    pergunto quem é
    quererem entrar
    trazem abraços
    a que não posso chegar.

    toda a casa é silêncios
    deitados
    só o poema voa ao meu redor
    acabado de entrar
    pela janela sem estore.

    fico sem saber
    se a porta é real
    ou a janela
    é miragem por igual.

    parabéns à Lídia Borges
    por este belíssimo poema.
    (e que bem que ela escreve)

    este ainda não tinha lido no livro.

    um beijo, minha amiga Graça.
    uma boa semana.

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  26. Amiga Graça, mais uma excelente partilha nesta "Seara alheia".
    Não conhecia a poesia de Lídia Borges e gostei muito.
    Beijo e boa semana.

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  27. Um abraço, Graça.

    Obrigada pela tua generosidade.

    Lídia Borges

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  28. Gosto muito da poesia da Lídia Borges.
    E este poema não foge à regra, é excelente.
    Continuação de boa semana, amiga Graça.
    Beijo.

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  29. Boa poesia! Vale a pena apreciar poesia assim pela blogoesfera!

    Beijinhos.

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  30. Minha querida Gracinhamiga II

    Já está na Travessa o n.º 6 da saga É DIFÍCIL VIVER COM UM IRMÃO MONGOLÓIDE que desta feita leva o título Um vândalo mentiroso e traiçoeiro. Este texto tem imagem muito difícil, não aconselhável a pessoas sensíveis.

    Voltarei depois para comentar.

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  31. Olá Graça!
    Gostei muito desse poema de Lídia Borges, poeta que até agora não conhecia, mas graças a tua iniciativa, de publicá-la, tive a grata satisfação de conhecer obra de sua autoria.
    Parabéns Graça pela partilha desse bonito poema.
    Bom final de semana.
    Beijo.
    Pedro

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  32. Está perfeito o poema, retrata intensamente a beleza das coisas mais simples, gostei muito! :) Nomeei o blogue "Ortografia do Olhar" para o desafio Sunshine Blogger Award, ao qual dedico o post de hoje, explicando tudo! Beijinhos, bom fim de semana :)

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  33. Graça, Lídia Borges, maravilhosa poeta, merece esta homenagem que você, Graça, lhe presta. A poesia une talentos e vocês duas são, realmente, grandes poetas. Beijo.

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  34. Todos nós, temos as nossas travessias no deserto!... Mas haverá sempre um caminho, para algum oásis... se nos propusermos a tal... assim nós saibamos... o que verdadeiramente nos mata a sede...
    Um poema belíssimo! Grata por esta extraordinária partilha, que me permite apreciar um pouco mais, da obra, desta autora de excepção, Graça!...
    Beijinho! Desejando-lhe um excelente fim de semana!
    Ana

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  35. Olá Graça

    Gostei muito desse poema de Lídia Borges
    Obrigada pela partilha.

    Caminho... quando posso!
    Quem me dera percorrer trilhos
    a vida já me deu de tudo,
    bom, mau, muito mau
    Enfim...vou aguardar!

    estou bastante em falta com a visita a todos os blogues,
    até os meus faço 1 ou 2 posts por mês
    Há 4 semanas que ando mais ausente
    há 10 dias que estou com uma broncopneumonia
    que me tem dado muitos problemas
    Enfim....quero sentir-me curada o mais breve possível

    ONTEM fiz um post aqui:
    http://tempolivremundo.blogspot.com/

    Um abraço e bom fim de semana

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  36. muito bem. gostei do poema.
    uma seara produtiva

    beijo, Graça

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  37. Sublime a sua publicação!
    =)

    Bjinhos

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  38. Bom regressar à leitura de Lídia

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  39. Há momentos assim...há dias assim, mas, o pior é que há temos assim; alturas da vida em que nos sentimos " distantes," , ausentes, como se à nossa volta não houvesse nada nem ninguém. Muitos, na realidade, não têm ninguém à sua volta e muito menos, pertinho, e então a solidão se instala de um modo terrivel, mas há outros e, muitas vezes nós mesmos, que se sentem vazios de gente, de afectos, de emoções; alguma coisa nos faz andar de um lado para o outro, tristes, cabisbaixos, ignorando todos os que connosco partilham a casa; são angústias, inquietações que, muitas vezes, nem nós entendemos. Passa, mas às vezes demora. A serara pode ser alheia, mas o que nela está semeado é comum a qualquer um de nós. Obrigada por me dares a conhecer a obra de Lidia Jorge, pois desconheço, infelizmente. Um beijinho para as duas. Saúde e que as " distâncias " não vos afectem muitas vezes; há vários tipos de " distantes " , mas todos são tristes.
    Emilia

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  40. Sempre bons de ler, os poemas da Lídia!

    Beijinhos :)

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  41. Que todas as solidões consigam um dia ser quebradas.
    Excelente escolha, gosto muito de ler os poemas da Lídia Borges.
    Beijinhos
    Maria
    Divagar Sobre Tudo um Pouco

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  42. Um escolha acertada deste poema da Lidia Borges que nos fala da solidão.
    Palavra que por vezes é muito triste.
    A solidão quando não é escolhida é um drama de muita gente.
    bom domingo
    beijinhos
    :)

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  43. Bela "colheita" na seara da Lídia.

    Boa semana, Graça.
    Beijo

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  44. Feliz mês de julho amiga Graça. Abraços.

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  45. Querida Graça Pires, boa noite !
    Fico a imaginar o que se passa na mente da Poetisa,
    ao elaborar tão belo texto...
    Muito grato, Mestra/Escritora, pelo presente literário.
    Um carinhoso abraço, aqui do Brasil !
    Sinval.

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  46. Querida Graça,

    Apreciei muito o poema da Lídia Borges e
    este gesto seu de sempre, generoso a
    partilhar a Poesia.

    Grata pela leitura!
    Bjos.

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  47. Que lindo poema. Muito bonito.

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  48. Bom encontrar aqui a Lídia Borges
    Gosto de a ler.
    Abraço*

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