3.6.19

Em seara alheia


21.

Dizia-te
da minha inaptidão
para nomear os lugares 
mais inóspitos da alma,
lembras-te?
Dizia-te que haveria de saber
todos os nomes de todas as coisas
e só a ti, um dia, os revelaria
como súbita 
revoada de aves azuis.
Dizia-te…
mas nunca cheguei a aprender
o verdadeiro nome
dessas aves azuis
e por isso nunca fui capaz
de as chamar
a cruzar o nosso céu.
Que pensarias hoje,
se eu te dissesse
que o meu dicionário,
[exíguo que era]
Abrevia-se cada dia
um pouco mais?
E a fala cada dia um pouco menos.
Não sei já o que chamar
a esta longa aprendizagem
do esquecimento.

Lídia Borges
In: Garças. Braga: Poética, 2019, p. 32

51 comentários:

  1. Linda escolha pra compartilhar aqui! Gostei muito! beijos, ótima semana! chica

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  2. Bom dia amiga Graça Pires.
    Aplauso ao seu poema...Sublime :))

    Hoje:- O que ontem foi amor, hoje é loucura...

    Bjos
    Votos de uma óptima Segunda - Feira.

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  3. Há memórias que se fecham e nos fecham para o Mundo...
    Lindo...
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  4. Bom dia de muita paz, querida amiga graca!
    Emocionante descricao poetica de uma fase dificil mas de igual beleza pois esquecemos o superfluo e a memoria se enche de bondade serena.
    Que seja uma fase de boas lembrancas na poesia relembrada!
    Tenha dias felizes e abencoados!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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  5. Buenas dias guapa.
    Muchas gracias por tu paso y aportacion al blog.
    Besos

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  6. Boa tarde Graça,
    Gosto imenso da poesia da Lídia e este poema é belíssimo.
    Muito obrigada pela generosidade da sua partilha.
    Um beijinho e uma boa semana, minha Amiga e Enorme Poeta.
    Ailime

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  7. Um poema muito belo das coisas
    que nao sei...
    A poesia e' assim: diz-nos algo
    quando e' diferente. Ainda inexistente.

    Uma boa semana, minha Amiga Graça.

    Um beijo.

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  8. Olá, Graça!

    A beleza de um poema não está tanto na rima, mas, no ângulo com medimos o que se diz.
    Aprendizagem incompleta,...,pois, estamos cada vez mais longe de sabermos conciliar o que pensamos com o que queremos.
    Obrigado por ter gostado de "Uma Veneza em Quarteira ".

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  9. Muito obrigado, Graça, por nos apresentar a esta sensível poeta das recónditas coisas que asoman inescrutáveis.

    Abraço grande amiga.

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  10. A Poeta Lídia Borges é uma exímia intérprete da palavra e senhora de uma poética de tonalidades sensíveis.
    Á partida a dificuldade que se tem em pentear as cores a cada manhã é uma realidade que confunde tanta gente... por isso é que a procratinação dos azuis cresce mentindo à própria mente.

    Beijo.

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  11. Querida Graça

    Como compreendo Lídia Borges! Por vezes, pensamos ter as palavras todas e acabamos por usá-las sem lhes sopesar o sentido e a importância. E outras, elas faltam-nos e deixamos passar o tempo, irreversível, em que poderíamos e deveríamos nomear as coisas que nos interessam e fazem felizes.

    Muito obrigada por nos ter trazido este Poema.

    Beijo

    Olinda

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  12. Lídia Borges tem história para nos contar. Uma poética que já aprendemos a reconhecer.
    Esta partilha exerce sobre nós ação estimulante que nos faz mergulhar na sua dicção para apreender todos os sentidos...
    Beijo, minha amiga Graça!

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  13. Quanta razão tem. Vamos entrando progressivamente nessa fase de ... que ia dizer!
    O bom é recordar ainda que seja algo tarde. Isso dizem os que disso sabem muito.
    Gostei, muito.
    Abraços de vida

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  14. Te sigo agradeciendo tus comentarios a mis fotos

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  15. Graça, obrigada!

    Gosto da pessoa que és?



    Beijo

    Lídia

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  16. Uma exímia poetisa que nos presenteia com versos belíssimos e estimulantes com um delicioso sabor de sensibilidade
    Beijinhos querida amiga

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  17. Olá boa noite!
    Vim agradecer sua visita e por seguir nosso blog. Seja sempre bem vinda!
    Linda poesia! não é fácil desvendar os segredos da alma, mas vale a pena uma viagem profunda no mais íntimo da nossa alma. Parabéns!
    Abraços da família RH

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  18. Um poema brilhante, dá gosto ler!:)


    Deambulo pela solidão da maresia .
    Beijos e uma boa noite!

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  19. Uma linda apresentação neste gesto tão lindo nestas searas Graça.
    Vou buscar mais da Lídia Borges,gostei muito do seu poetizar.
    Obrigado Graça por sempre estar a nos mostrar belos escritores.
    Uma bela poetisa como você ter esta humildade de divulgar outros tantos belos artistas das palavras.
    Semana feliz amiga.
    Beijo.

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  20. "Garças", de Lídia Borges, faz parte da minha biblioteca, que se estende pela casa. Gosto de encontrar os livros aqui e ali. E, de repente, surpreendo-me. Os blogues são um pouco assim. E este poema sabe-me bem porque, de certo modo, me encontro.

    Beijos às duas amigas.

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  21. quando se passa por aqui ficamos eu fico sempre maravilhada com os teus poemas sempre mt bonitos parabens bjs

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  22. Suponho que em tempos frequentei um blogue de Lídia Borges. O longo processo do esquecimento, que é afinal a morte do amor, está muito bem retratado. Do que se sonhou e não houve e, por não haver foi matando a esperança nas palavras. Lembra-me os amantes infelizes.

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  23. Muito grato pelo seu comentário a “Divinum Lumen”.

    Sabe? Admiro a sua poesia, por isso qualquer comentário seu me deixa muito feliz.

    Uma vez mais, muito agradecido e muitos parabéns pelo seu talento (será o talento “parabenizavel”? E logo por uma palavra tão bárbara, tão peculiarmente sonante).

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  24. Muito bom, amiga. Sempre leio esses poemas "em seara alheia" como se você os tivesse escrito. Parece que tem um dedo seu ali.
    Beijinho

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  25. Olá, querida Graça!
    Mais uma bela "seara alheia", mais uma poeta que fiquei a conhecer aqui.
    Este poema de Lídia Borges é maravilhoso!
    Obrigada minha amiga poeta.
    Beijo.

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  26. Olá Graça
    Lindo poema, bjs querida.

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  27. Mais um poema que exprime profundas nuances da alma... Boa escolha!
    Meu abraço

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  28. São muito interessantes os poemas da Lídia Borges (também eles sabem a maresia).



    PS: estou a ler-te e a render-me. Beijinho

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  29. Lindíssimo!
    Por vezes o esquecimento é uma arte, ainda bem, pois há lembranças que amargam na alma.

    Beijinhos.

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  30. São sempre bonitos e bem escritos os poemas de Lídia Borges.
    Uma boa escolha em seara alheia.
    Beijinhos
    :)

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  31. Muito bom.... poucas palavras...bastante consistência
    Se interessar deixo o link do meu blog
    inspiranca.blogspot.com

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  32. Às vezes o esquecimento é a melhor qualidade, para se saber viver... cultivo-o frequentemente... para factos, situações ou pessoas, que menos me agradam... e acho que a vida e o tempo... progressivamente nos vêm apurar tal qualidade... e a saber desenvolvê-la... para nosso próprio bem... ao aquietar-nos a alma...
    Mais uma partilha fabulosa, por aqui, Graça! Beijinho! Continuação de uma feliz semana!
    Ana

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  33. Lindos os poemas que falam tão profundamente do nosso interior.
    Não conhecia a poeta, que bom, mais uma na tua bela seara alheia, querida Graça!
    Beijo, um bom fim de semana!

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  34. Bom dia Graça
    Boa escolha do poema. É as vezes o esquecimento acontece e nem lembramos mesmo o que queríamos dizer e resolvemos não esquecer o essencial para sermos felizes. Um lindo dia. Abraços.

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  35. Houve tempos, outros tempos, outras idades em que achávamos que íamos conhecer todos os lugares da nossa alma, todos os seus sentires, todas as suas inquietudes, todos os seus anseios e desejos de conquistas e realizações. O tempo foi andando, foi mudando, as perguntas em nós foram surgindo cada vez mais complexas e chegamos ao dia de hoje, completamente convencidos de que nunca seremos capazes de conhecer a alma humana, a nossa alma. Já nem lembramos daqueles poucos lugares que fomos conhecendo, já esquecemos muitos daqueles sonhos, mas lembramos perfeitamente que hoje estamos, nesse aspecto, como parados no tempo. Eu lembro todos os dias que as minhas perguntas continuam sem resposta e que assim continuarão até que a vida resolva acabar com todas as minhas inquietação, interrompendo a minha caminhada. Enquanto aqui, vou continuar " vasculhando, vasculhando " o meu interior aquietando a minha alma o mais possivel. Lindo, lindo, este poema da seara de Lidia Jorge cuja obra, infelizmente desconheço. Muito obrigada, Graça! Um beijinho e muita saúde e serenidade é o melhor que te posso desejar
    Emilia

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  36. Longo tem sido este caminho poético...
    Muita maturidade...
    Beijos, minha Amiga.
    ~~~

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  37. Já há muito tempo que não lia poesia da Lígia Borges, uma excelente poeta que muito admiro.
    Obrigado pela partilha.
    Graça, tenha um bom fim de semana.
    Beijo.

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  38. Querida Mestra, Graça Pires !
    Um enigmático texto da Escritora e, portanto em
    "seara alheia".
    Educadamente, extravasa sentimentos contidos em
    sua alma de mulher, no momento, ferida.
    Lindo estilo de compor.
    Grato por compartilhar e parabéns pela bela escolha !
    Um fraternal abraço, aqui do Brasil, e um ótimo final
    de semana.
    Sinval.

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  39. Peço desculpas por ter trocado o nome da autora que é Lidia Borges e não como escrevi. Que me desculpem as duas. Beijinhos
    Emilia

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  40. Só existe o que é nomeado. A ânsia de amar - esse impulso imprescindível e humano não foi tornado real, em toda a sua multicolor maravilha, convergindo no azul de um céu imenso de aves indizíveis.
    E assim vamos calando quem somos, através da precária e redutora forma do desejo que entardece.
    Muito interessante, este poema da Lídia Borges.
    Um abraço e um óptimo fim-de-semana.

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  41. Boa tarde, querida Graça, parabéns pela bela escolha e postagem,
    reli o poema para poder senti-lo mais em minha alma.
    Há tanto a falar sobre ele, são as minhas conclusões e impressões. Os pensamentos guardados de tudo o que deveria ser nomeado, ou quem sabe já estivesse, em um lugar bem secreto.
    A tristeza de não ter conseguido nomear a tudo o que viu. Há muitas leituras que cada leitor faz com sua imaginação, o que acho rico.
    Grande abraço!

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  42. Muy buena y elegante leer sus versos, gracias.
    Abrazo

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  43. Belo poema da Lídia Borges, cheio de maturidade e inteligência
    Adorei a partilha
    Beijinhos

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  44. Olá Graça,
    o seu poema remete-me para a nossa incapacidade de nomear certas limitações e particularmente de proteger as aves, que em vias de extinção são presas de caçadores, de ratoeiras, de poluição, de pesticidas, de habitats reduzidos, um grande "arsenal" que colocamos à disposição da morte de tão belas criaturas :(
    beijinhos, boa semana
    Angela
    https://poesiesenportugais.blogspot.com/

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  45. Voei com as Garças da querida Lígia Borges no lançamento de seu livro na minha cidade de Braga . Na tela , suaves e brancas como as suas palavras e até ela própria .
    Uma tão bela escolha , Graça , semeada na tua seara !
    Beijo carinhoso para ti , minha amiga !

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