31.8.20

Apareceu como uma assombração

Dorothea Lange

Apareceu como uma assombração 
quase imperceptível no meio do inverno. 
Tinha deambulado pelas cidades, anónimo, 
com um saco a tiracolo cheio de raízes e de limos, 
de milho moído, de figos secos. 
Sabia agora como eram neutros,  
em sua vida, todos os silêncios de protesto. 
Queria falar até se tornar 
impronunciável o que dizia. 
Mas as palavras eram navalhas de barro 
que lhe asfixiavam a voz. 

Graça Pires 
De A solidão é como o vento, 2020, p. 14

57 comentários:

  1. Um poema muito bonito, como sempre!! :))
    -
    O cheiro da rosa oferecida...
    -
    Beijo, e uma excelente semana

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  2. Deambular pela vida, por entre a chuva e o Sol... Por entre a solidão....
    Como sempre, um poema brilhante.
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  3. Tua poesia é linda, forte expressão da solidão! Maravilha e a tela bem a ilustrou! Ótima semana! beijos, chica

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  4. Olá Graça Pires,
    O silêncio dos protestos, irá sempre debater-se contra o muro da indiferença.
    A justiça precária dos homens, mancha ainda mais a dor de um moribundo e atiça a raiva do mundo!

    Uma semana com boa saúde minha Amiga.
    Um beijo!
    A.S.

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  5. Depois do café da manhã nada melhor
    que poder abraçar e beijar a nossa
    poeta preferida.
    Um beijo, Graça, minha amiga.

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  6. Belo poema. Falaremos sempre.
    Boa Tarde.

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  7. Daqueles que não conseguem e calam-se. Daqueles para que tudo é demasiado.
    Bonito poema Graça.

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  8. Que nunca nos calemos.


    Belissimo poema, Graça!

    Beijinho, boa semana

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  9. são coisas senhor, são coisas

    são sacos, são figos, são limos, são silêncios de raízes
    é barro que trago a tiracolo
    é o milho da vida
    é a cidade anónima que não protesta
    é o inverno moído e seco
    imperceptível
    impronunciável


    a voz asfixiada em palavras
    deambula pelo meio de navalhas


    Queria falar até me tornar
    o que dizia.
    Neutro.

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  10. Amiga, é sempre melhor respirar e falar o que sente, sem ofensa. Se o tempo passa, vira amargura e não se perdoa o outro nem a si mesmo. Beijinho e ótima semana, ótimo setembro!

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  11. quando a voz sufoca nos silêncios da
    indiferença e só os ventos trazem novas
    na poesia que espalhas como rosas, minha Amiga.
    bem-hajas pela sensibilidade e mestria.
    um beijo, Graça - boa, feliz e saudável semana para ti e teus.

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  12. Sublime fascínio poético
    .
    Uma semana feliz
    Abraço

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  13. Quando ti leggo mi piacerebbe tantissimo conoscere il portoghese, amica Poetessa, che con google traduttore perdo tantissimo delle tue opere...

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  14. Talvez não haja voz que rompa a duração de tal silêncio. Ou ela deixe de ser necessária.
    Gostei muito.

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  15. Todas as sociedades têm medos que as assombram, provocados pelo silêncio dos protestos, cujo ruído ensurdecedor não chega a fazer eco.
    Abraço poético.
    Juvenal Nunes

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  16. Boa tarde de nova semana, querida amiga Graça!
    Um andarilho em busca de tudo...
    Ele mesmo sem falar se torna navalha para a sociedade.
    Tenha dias abençoados!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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  17. O paradoxo essencial da solidão, de ter ouvido muita palavra proferir tanto silêncio...

    Muito obrigado por este ótimo poema, amiga Graça. É sempre inspirador lê-la.

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  18. Tinha deambulado pelas cidades, anónimo.. Otimo poema

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  19. Adoro a magia do poema!!!
    Parabéns 👏👏👏👏👏

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  20. Boa noite Graça,
    Um poema muito belo que faz doer por tanta solidão.
    Sempre me lembro de os ver em criança a deambularem pelas aldeias e vilas deste país, de mão estendida, num mutismo que ainda hoje conservo na memória.
    Pessoas sem voz ontem e hoje.
    Um beijinho minha Amiga e Enorme Poeta.
    Uma boa semana, com muita saúde.
    Ailime

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  21. Un poema hermoso y sensible, bello cuadro.
    Abrazo

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  22. Olá, amiga!

    Muito muito belo o poema que aqui nos traz.

    Saudações poéticas

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  23. Pássaros presos na garganta lutam pela liberdade.
    Tenha uma noite abençoada. Bjs.

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  24. Quando a solidão se junta com a invisibilidade Graça.
    As duas de mãos dadas vagueiam pelos becos das cidades,
    e deixa um rastro de injustiça nas calçadas.
    Belíssimo trabalho amiga.
    Beijo e feliz semana.

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  25. A passar por cá para conhecer mais um bonito poema.

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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  26. As palavras eram navalhas de barro que lhe asfixiavam a voz.

    Haverá maior solidão?

    Bem hajas, Graça, pelos teus poemas.

    Beijos.

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  27. A nice story. Wonderful.

    Greetings, Marco

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  28. Um libelo contra as injustiças sociais. E com imagens belíssimas. Belo trabalho de linguagem. Quanto importa o que se diz mesmo na dança do solidão! E quanto importa um olhar tão sensível para dizer o que outros não veem (e quanto importaria se vissem e fizessem alguma coisa).
    Como diria uma amiga poeta, "Muito belo"!
    Um beijo, minha amiga Graça!

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  29. Olá graça querida


    Que lindeza de poema concordo com você as palavras às vezes são navalhas...

    Beijos
    Ani

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  30. Belíssimo poema, que exige uma leitura atenta.
    Querida amiga Graça, tu fazes arte com as palavras.
    Adorei!
    Beijo, boa semana, feliz Setembro.


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  31. Bom dia Graça!
    Um poema belíssimo, e a imagem casou tão bem com o tema.
    Ficou perfeito.
    Boa semana e um ótimo mês de setembro.
    Beijos!

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  32. Inspiração e sensibilidade, ao mais alto nível, neste belo momento poético, onde se aborda o tema da solidão... dos que não têm voz...
    Adorei cada palavra, Graça!
    Um beijo imenso! Votos de uma boa semana, e um excelente mês de Setembro!
    Ana

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  33. O mundo que conhecia já não existia. Tentava, apesar de tudo, remar contra a maré, fazer-se ouvir, mas apenas a solidão dos becos fazia ecoar a sua voz.
    Tão bom lê-la, Graça!

    Um abraço

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  34. Graça,
    Adorável texto!
    Bjins de renovação de esperança.
    CatiahoAlc.
    Blogs
    https://reflexosespelhandoespalhandoamigos.blogspot.com
    https://frasesemreflexos.blogspot.com
    https://soempalavras.blogspot.com
    https://comentariosporaicoisatal.blogspot.com

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  35. i think it is a blessing to have insight and dare to swim against the tide :)

    not whole water though but the waves that touch you while trying to push you back acknowledge and inevitably bow to your strength and courage
    thank you for beyond beautiful expression with sublimity of harmony of words and thoughts my friend!
    hugs!

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  36. Parece " assombração " o que vemos todos os dias, mas é a triste realidade de muitos, de muitas pessoas a quem a vida parece renegar desde que nasceram. Cansaram de falar, cansaram de se queixar, porque afinal ninguém os ouve e a voz já se nega a sair, de tão cansada. Mesmo os mais sensiveis já quase não se preocupam, primeiro, porque são tantos que já quase virou normalidade , segundo porque são pequenos demais para solucionar tão grave problema. Há sempre algo a fazer, nem que seja uma palavrinha de conforto, mas, sejamos sinceros, nem isso fazemos. Choca-nos, entristece-nos, reclamamos das injustiças sociais, mas, partir para qualquer tipo de acção já é mais dificil,Como sempre, querida Amiga, um belo poema que nos leva a reflectir no tanto de sofrimento que há neste nosso mundo injusto e nas nossas atitudes perante ele. Reclamamos muito e fazemos muito pouco. Obrigada Amiga e um abraço com votos de SAÚDE para todos aí em casa
    Emilia

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  37. Que dizer?

    Nos tempos que correm, há silêncios que nos cortam a garganta, navalhas de barro, de pó seco, que nos sufocam as palavras, ansiosas por respirar, sem conseguirem libertação.

    Beijinhos, amiga Graça!

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  38. Como é bom ler tais palavras. Muito bom mesmo.
    beijo

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  39. Falar nem sempre é fácil...
    Excelente poema, como sempre.
    Continuação de boa semana, querida amiga Graça.
    Beijo.

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  40. Mestra / Escritora, Graça Pires !
    Figuras humanas, assim, como este
    personagem, existem por todo o mundo
    afora.
    Porém, há que se ter a habilidade
    rara, como a presente, para desvenda-lo.
    Belissimo texto,Amiga !
    Parabéns e um fraternal abraço, aqui do
    Brasil.
    Sinval.

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  41. Que olhar poético! Um deslumbramento, minha amiga.

    E que merecido o cursinho de cima!

    Beijo

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  42. Gostei de ler e refletir sobre a solidão. Versos fortes e densos...
    Meu abraço nesta sexta-feira...

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  43. La vida es un deambular constante, no estamos quietos, necesitamos movernos.

    Besos enormes.

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  44. Graça

    cena de quotidiano, mas que faz um sufoco ler.
    por momentos ao ler e ver a imagem, lembrei de uma canção de Joan Manuel Serrat que se chamava se nao erro "O ferro-velho"
    gostei no entando deste momento de poesia.

    Bom fim de semana.
    beijinhos
    :)

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  45. Por mais veementes que sejam os protestos
    o silêncio ricocheteia desmobilizador
    nas pedras inamovíveis
    Vindas do tempo futuro já se ouvem as alpergatas
    carregando alforges de miséria

    Como a tristeza pode ser tão bela num poema?!

    Beijo, querida amiga Graça

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  46. que pode um homem pobre e só face ao resto do Mundo?
    com "navalhas de barro" não se corta o pão.
    nem se apaga a dor...

    gosto muito deste registo poético, Graça
    colher as dores do Mundo por teus dedos...

    beijo, minha Amiga

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  47. Oi Graça
    Aquela foto que remete ao cotidiano de nós todos.
    Quando não_apenas alguém ali do lado sentado ao chão ou passando...passando.
    E os protestos continuarão caindo no vazio.E não muito mais a dizer,Graça
    seu poema traduz fielmente esse mundo desigual.

    deixo meu abraço

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  48. Viajar simpre será bonito,pero mas admiro la cultura que se puede adquirir,

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  49. Cuánto dicen de la vida esos personajes transhumantes, aparentemente sin vida que contar y son toda la vida. Un abrazo. Carlos

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  50. A imagem é perfeita para o texto, ou o texto é perfeito para a imagem. De qualquer forma, ambos transmitem, pelo menos para mim, uma ideia um tanto melancólica e bastante direta sobre a transitoriedade da vida, do que está vivo, das (im)permanências. Espero que estejas bem, Graça, um beijo.

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  51. Compreendo tão bem o poema com o título do livro. por vezes sinto-me como o velhote, falar até ser impronunciável

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