16.5.07

Tão plural como o silêncio

Amedeo Modigliani
Jejuei sob o nome das coisas desejadas,
com a boca presa aos resíduos do medo
na secura dos olhos.
Herdei a nomenclatura dos vadios
e fico onde não sei,
à procura de tudo e de nada.
Apátrida. Sem rota. Terra ocupada.
O meu poema não cabe nesta angústia
de ter nos pés o funambulismo
litigioso dos sonhos.
Sobrevivo a todas as memórias,
mesmo às que definham no rosto dos velhos.
E a minha voz tornou-se tão plural como o silêncio.

De Labirintos, 1997

8 comentários:

  1. Excelente! Gostei imenso. Beijos.

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  2. Acho magnífico o título "tão plural como o silêncio", que é, de resto, a conclusão do poema. Escrita maior, a sua.
    Parabéns por mais este post e pela publicação do livro.

    Um beijinho.

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  3. "...Herdei a nomenclatura dos vadios
    e fico onde não sei,
    à procura de tudo e de nada..."

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  4. Mais uma vez obrigada Paula. Beijos.

    Obrigada pela visita Mafalda. Que bom ter gostado do poema.Um beijo.

    Maria Costa,obrigada pela visita. Espreitei "a luz do voo" e gostei bastante. As imagens e as palavras combinam bem, não é verdade? Um beijo.

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  5. Gostei do poema
    (mas não gosto de não lutar pelo que quero :) )


    boa tarde

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  6. Obrigada Vítor pela visita. Um abraço.

    Teresa, sim, acho que se deve lutar sempre pelo que se quer. Às vezes o que parece uma desistência é também uma forma de luta... Um beijo.

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  7. "...O meu poema não cabe nesta angústia
    de ter nos pés o funambulismo
    litigioso dos sonhos."

    ...como se na corda bamba, os sonhos ressaltassem e a realidade permitisse ao sonho voar e o silêncio pairasse, como espuma em maré cheia.


    E em silêncio fico, saboreando o privilégio da sua Poesia.

    Um beijo e boa semana ;)

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