8.10.07

O debandar das andorinhas

Stephen Alvarez


Quando o inverno se anuncia,
com o debandar das primeiras andorinhas,
empilhamos a lenha no telheiro.
O frio há-de devassar, sem explicação,
o cheiro da casa e a terra,
impiedosamente alagada,
ocultará a seiva dos pomares.
Junto à lareira, buscarei o teu olhar
para aquecer as mãos.


Graça Pires
De Quando as estevas entraram no poema, 2005

14 comentários:

  1. Olhos como brasas... Ficam para sempre a iludir-nos o gelo.

    Abraço grande.

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  2. Na minha tenho por hábito

    aquecer o olhar nas cabeleiras

    do lume

    Por vezes ardo até às cinzas

    e só depois amanheço

    no pomar

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  3. Lindo...

    empilhamos tanta coisa, pelo menos acendemos as lareiras (quem as tem... eu só lá na aldeia) e aquecemos as mãos e o corpo...

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  4. Doadora de ternura.
    Transformas o frio em cálido.

    Bjs

    Ana

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  5. gostei do poema e a imagem é espantosa!

    boa semana!

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  6. Graça, enquanto em Portugal o inverno se anuncia, aqui vivemos uma das primaveras mais secas de todos os tempos. Resultado dos desajustes climáticos, verdadeiro crime dos homens do nosso tempo. Fico a pensar nos poetas de tom cósmico, como eu e você. Sentimos a rotação da terra no latejar dos nossos pulsos.
    Amiga, como sempre, seu texto é belíssimo!
    Saudade. Grande beijo.

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  7. O poema traz-me saudades do inverno, dos rituais do frio que nos reunem em torno do lume e dos afectos. O verão é centrípeto, o inverno congrega-nos.
    Um beijo, uma boa noite

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  8. É o ciclo da vida..Depois da euforia do Verão o recolher do Outono e do Inverno, com o renascer na Primavera....Adorei o texto....

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  9. O poder das estacións, da súa influencia sobre nos...

    Unha aperta de outono.
    :)

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  10. Calor estranho esse feito de olhos e silêncios...
    Belo!
    Abraço.

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  11. Olá Licínia. Gostei dos "olhos como brasas", apesar do gelo.

    Obrigada Mar Arável pela visita e pelas palavras.

    Luis às vezes até empilhamos os sonhos...

    Obrigada Anonimus pela ternura.

    Maria, a tua visita é sempre um gosto.

    Alexandre você tem razão: "verdadeiro crime dos homens do nosso tempo". Saudades.Volte sempre.

    Os rituais do frio no campo. A lareira acesa. As conversas noite adentro. Também gosto Soledade.

    Vladimir e Marinha de Allegue os poetas gostam de falar dos ciclos da vida e do rodar das estações como um pretexto para falarem de si próprios.

    Tinta Permanente, o olhar, o silêncio, o afecto explicam...
    Um abraço a todos.

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  12. ... no final da tarde de forte cor âmbar
    trazem no regaço das lembranças
    ... miúdos gritos ... quero crer de piápias*
    voando ao entardecer.

    ... Graça, retiro do teu poema ... "junto à lareira" ... e acrescento;

    ... junto a lareira, olho o fogo de forte cor âmbar, ... e não posso esquecer-te, contudo, ... posso aquecer-me.

    * piápias = andorinhas.

    ... teu blog "Ortografia do olhar" é belo, um forte e carinhoso abraço, Graças.

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