29.9.08

Memórias de Dulcineia VII

Goya

Quero que me devolvam o meu riso.
Inocente ou perverso, pertence-me.
Ouço-o, ainda, pela infância
fora quando ecoa na remota
memória da alegria.
Ouço-o na hora
de desocultar segredos,
golpeando palavras
ou inesperados silêncios.
Ouço-o, mesmo sabendo
que já não é possível
forjar, na voz, o breve instante
que vai do espanto
à original pureza do olhar.


Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008

40 comentários:

  1. Uma semana muito fixe para si.

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  2. Um clamor delicado por um riso que não se perdeu, que está presente em quem acaricia palavras, golpeando sim nossos corações com átimos da mais linda poesia.

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  3. Quero que me devolvam o meu riso.
    ----------
    Há coisas, que quando se perdem, difícilmente voltam. É o caso de se perder a vontade de sorrir. Mesmo que se volte a sorrir, já não será um sorrir.
    Fica bem. E a felicidade por aí.
    Manuel

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  4. Cada dia esse olhar é mais interior, aquele interior que construtivo, aquele interior que interessa. Um final soberbo.

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  5. Lindo!
    Remete-nos para a memória do tempo em que o sorriso indicava que o olhar tinha encontrado, aquilo que o coração procurava.
    Obrigada

    Um beijinho

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  6. Sim, temos direito ao riso, à alegria!
    Sabes que apreciei muito o filme"Os Fantasmas de Goya" e que um dos meus quadros preferidos é dele?
    Feliz semana, menina.

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  7. Gosto!
    ...E gosto, sobretudo, da frase que "fotografa" o momento. Ei-la:

    "...Ouço-o, mesmo sabendo
    que já não é possível
    forjar, na voz, o breve instante
    que vai do espanto
    à original pureza do olhar."

    Belissima imagem poética! Parabéns!

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  8. vou dizer um segredo:




    (olhar puro? O SEU. definitivamnete.)



    ______________bjjo. Graça.

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  9. está devolvido...

    abraço Graça

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  10. É verdade, Graça.
    À medida que vai avançando a nossa idade até parece que o inibidor do riso, do sorriso até, se sobrepõe, como se de uma derradeira melancolia nos fosse impossível livrar.
    Excelente poema.
    Bjs

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  11. Gostei de te ler, neste teu olhar. Sabes quem aprecia muito Goya? Um escritor de quem gosto. Carlos Vaz. Espreita o blogue dele: "textualino". Um bj

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  12. O riso. Que podemos devolver a nós próprios quando parece que não...muitos beijos.

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  13. ouves o riso. è sinal que ainda não o perdeste. que o vais visitar. que o vais recuperar. ele está vivo. apenas ficou calado para dar lugar ao que a vida nos vai trazendo: dor e mágoas. mas tudo faz parte. depois o riso vem.é com as ondas do mar. é isso o que a vida nos vai ensinando.mas,sim: que o riso venha.há lá coisa mais linda?

    Bj.

    EA

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  14. Belo. O poema do teu sorriso.

    um beijo

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  15. a lágrima e o riso...o retorno à eterna criança...esse jogo de sensações vem perfumado no seu lindo poema...

    abraço

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  16. "Quero que me devolvam o meu riso", nem que seja para rir de mim mesma...
    Excelente poema, como todos os que escreves.
    Beijo

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  17. Que te devolvam o teu sorriso. Mais um bonito poema.

    Beijinhos

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  18. O riso puro da infancia ainda chega aos meus ouvidos.Rir é bom mas há momentos em que, até nem um sorriso,a nossa boca é capaz de mostrar.
    Um grande abraço.

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  19. "o breve instante /que vai do espanto
    /à original pureza do olhar"

    Tão bonito, Graça! Lembrei-me de um poema de Char, um daqueles aforismos incríveis, acerca de "rir maravilhosamente". É algo que só a extrema inocência ou a entrega total consentem.
    Um beijo, uma boa noite

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  20. Nunca deveríamos perder o riso, a alegria, a luz da vida. São nossos pertences de jornada.
    Lindo poema, lindas palavras.
    beijo no coração

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  21. com o tempo possível hei de ser "o olhar"....
    :)



    Obrigada G. Muito.

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  22. "o breve instante que vai do espanto à original pureza do olhar"
    - é assim que tem de ser dito. E foste tu que o disseste.

    Um grande abraço.

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  23. maravilhoso blog, parabens muito bom.
    Maurizio

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  24. cativante sorriso o que permanece no eco...

    beijos

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  25. Muito belo, intenso, este poema!
    O sorriso, esse estará sempre presente, mesmo "quando ecoa na remota memória da alegria"
    Simplesmente, lindo...
    Beijinhos.

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  26. Se não te devolverem o teu sorriso, toma-o de volta. Se não for possível tomá-lo de volta, cria outro, inocente ou perverso, ou com qualquer outro adjetivo.
    As "memórias de Dulcineia" são muito interessantes. Adoro lê-las.
    Beijo grande.
    Ah! Te falei que tenho material belíssimo aqui? Que recebi de presente livros especiais? de autoria de alguém muito especial? (riso - o meu, não perverso, mas tomado de volta ou recriado).
    Outro beijo.
    Bárbara Carvalho.

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  27. Contigo a cultura é ar que se respira...


    Doce beijo

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  28. ...Eu acredito na força...na magia de um sorriso...
    Não quero sequer pensar que algum dia possa deixar de sorrir...

    Que tambem tu continues a sorrir***

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  29. E no sorriso
    se descreve
    a doçura do teu
    sentir...

    Um abraço carinhoso e continuação de boa semana ;)

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  30. e inesperados silêncios

    margens de mar

    dedos de sal

    vindos do longe...

    beijo, Graça

    maré

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  31. Já publiquei no Multiply, Graça. Agora, já sabes, aproveitei a tua autorização, que entendo sem limite temporal e, como já lá tens um público fiel... há que alimentá-lo!

    Beijos, querida amiga.

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  32. lamento pela perda (ou distância)do riso (ou da inocência) da infância. muito bomito.
    um beijo, Graça.

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  33. nada é como no início. tudo evolui!
    tudo se desfaz na ausência dos ventos.

    daí as lágrimas em papel,
    os traços incertos em suspiros.

    fica o ensejo de recriar o ser,
    do reflexo tangível de outrora.

    Obrigado.

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  34. tenta, nunca se sabe quando a garagalhada dispara no maior dos sorrisos.

    um beijo

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  35. Sempre que não tenho palavras é porque amo-las...é um poema que senti muito perto de mim. Chegou devagar, para ficar sempre, com delicadeza...
    um encontro belo com a tua poesia...
    um beijo

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  36. Não aconselho a "cinzas de carvalho" o uso da "burka", pois com o clima tropical do Brasil,seria uma tortura.

    Li o poema e é óbvio que a sua simbologia escatológica, como alguém muito bem disse, nada tem da politiqueirice, compêndio de História ou jornalismo que a sua leitura redutora lhe quis imprimir.

    "A Torre" ou "Casa de Deus" é uma carta (um arcano maior) do baralho de Tarot. ARCANO se intitula o poema, onde também ressoa duma maneira engenhosa o mito de Babel.

    Aliás, o livro, que conheço, de onde é extraído o poema, tem muitos outros, de desapego e desconstrução do conceito de manhã. Daí o seu título que nada tem a ver com leituras políticas simplistas e apressadas.

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  37. lindo de tão triste. abraço Graça.

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