26.11.08

O lugar interior

Mark Rothko

Queria descrever, ao pormenor,
o lugar interior onde o poema recomeça
o seu esboço de contornos invisíveis,
rodeando os pulsos.
A língua, distorcida pelo súbito tumulto
da água, engolindo a sede,
agrafa de gritos minha boca.
As letras enrolam-se-me na saliva,
como um choro, que torna sombrias
todas as definições de paixão.


Graça Pires
De Não sabia que a noite podia incendiar-se nos meus olhos, 2007

47 comentários:

  1. G R A Ç A.


    __________________.



    Que lugar tão especial!!!!!!



    . deus.


    sem comentários!



    .



    abraço.te!!!!!

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  2. "...o lugar interior onde o poema recomeça..."

    talvez o coração?
    onde também nasce.

    lindíssimo!
    Obrigado
    Vicente

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  3. Venha conhecer os meus tios.

    Muito obrigada pela atenção.

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  4. o lugar interior do poema está sempre em ti e talvez no lúcido emaranhada de Rothko um dos meus pintores favoritos.

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  5. A paixão por ela mesma é, por vezes, bem sombria...
    Beijinhos.

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  6. O poema recomeça... Ai está uma verdade profunda! Dá para reflectir...


    Mofina / Regina / outras, sempre eu.

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  7. mas acabaste de fazê-lo exemplarmente, Graça.
    Bjs

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  8. A verdadeira paixão pelas palavras.

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  9. Leio-te com paixão. As palavras brotam-te tão naturalmente que só podem ter origem no coração.
    Beijinhos

    Bem-hajas!

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  10. Infindáveis as definições de paixão. E indefinidas.
    Belíssima descrição.

    bj

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  11. Esse lugar interior marcado pela paixão (em sentido lato) e pela nossa incapacidade em o dizer, essa divindade por vezes mascarada de demónio, essa inominável diferença que nos mata e dá vida ao mesmo tempo...
    Um beijo, Graça.

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  12. ...por vezes, o poema nasce da fonte dourada da alegria...Em outras, das sombras de nossos porões... Mas, é sempre um nascimento!

    Gostei do seu poema!

    Beijos de luz...

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  13. esse teu lugar interior é palavrosamente belo e envolvente...

    abraço Graça

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  14. É o coração a paleta de cores de onde brotam palavras tão claras, ainda que vez ou outras elas possam se revestir de noite ou dançar em passos de quase pranto.

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  15. Lê-la é decodificar as maravilhas de sua linguagem figurada: a pensar que o agrafe é um grampo de papéis.
    No poema o agrafe é a boca e os papéis presos no agrafe são os gritos nela presos e as letras enrolam-se na saliva como a língua (quando, no plano real, essa que se enrola na saliva).
    Escreve com as mesmas palavras que fala e fala com as mesmas letras que escreve. Ipsis litteris ou ipsis verbis? A mistura "que torna sombrias todas as definições de paixão".
    Magistral e ilusionista (na rubrica das artes plásticas, como o emprego de técnicas (como perspectiva e sombra), criando no observador, a ilusão da realidade).
    Belíssimo poema.
    Bárbara Carvalho.

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  16. Será mesmo possível aprisionar em palvras este lugar especialíssimo e único?


    Um beijo, Graça.

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  17. As letras por vezes são violentas obrigando-nos a encarar sombrios pensamentos

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  18. e a palavra

    escrava

    escravizando

    é gente...

    nua
    .
    .
    .

    _______

    OBRIGADO!!!

    branca
    de palavras tão vermelhas.

    falaremos, um destes dias.

    beijo, perpétuo.

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  19. Lindo poema. Nesse lugar essencial, até as palavras faltam. Nem elas serão precisas.Mais vale o silêncio do olhar e do sentir. É preciso inventar palavras para descrever o nascimento da criança, ali, onde o sol desperta as sombras.

    Beijo.

    Nota: se fores ao meu blogue há um concurso e tambem a estória das gaivotyas.
    Beijo

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  20. Querida Graça,

    Mais um lindo poema. Não tenho transposto nada de teu nem da Licínia, ultimamente, para o multiply, porque tenho estado a dar espaço para que vejam as notícias do lançamento dos livros (da Licínia, que já foi, como sabes) e do Alberto Pereira que, como igualmente sabes, será no dia 6 de Dezembro próximo.

    Agradeço os parabéns que deixaste no meu blogue, em nome do Alberto, e aceito o teu beijo com muito carinho. A verdade é que fiquei sem saber se podemos contar com a tua presença. Além do mais, nunca sei se recebes os meus mails porque nunca obtive qualquer resposta tua por essa via...
    Não te importas de voltar a enviar-me o teu endereço para o meu, que se encontra no "perfil" do meu blogue?

    Muito obrigada, amiga.
    Beijos ternos.

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  21. "O lugar interior"
    solitário, mas luminoso...

    Beijo.

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  22. lugar indizivel. que nos perde e redime...

    belo.

    beijos

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  23. Lindo, Graça!
    O poema começa e recomeça no teu coração poético; ele é só o eco do que já está escrito na tua alma generosa de palavras.
    beijo no coração

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  24. Queria descrever
    as letras
    o choro
    as sombrias definições
    da paixão.

    Obrigado pla visita
    Fique bem

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  25. o lugar interior do poema é um lugar de paixão impressionante,

    beijos, Graça.

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  26. Lindísssimo...e a imagem tão critalina e pura...

    um abraço

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  27. Linda Poeta, dificil por vezes descrever, porque as palavras são pobres para tal...

    Intenso

    ...._.;_“.-._
    ...{`--..-.“_,}
    .{;..\,__...-“/}
    .{..“-`.._;..-“;
    ....`“--.._..-“
    ........,--\\..,-“-.
    ........`-..\(..“-...\
    ...............\.;---,/
    ..........,-““-;\
    ......../....-“.)..\
    ........\,---“`...\\
    ....._.;_“.-._ Terno beijo

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  28. mais um poema muito bom.

    por vezes não tenho palavras para comentar.

    deixo um beij

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  29. belo poema, Graça.

    linkei um blog.

    Ed.

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  30. Um lugar de espanto que nunca saberemos onde nem porquê.

    Beijo.

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  31. fala-se em paixão e está-se no interior do (teu) poema, com ou sem lágrimas... sem definição

    um abraço, graça

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  32. Graça,
    fico-lhe muito grato pelas palavras sobre As Ruínas, trecho que um poema meu que o Victor, gentil como sempre, publicou na Dispersa Palavra. Como disse a ele, estarei em Lisboa em 18/12 e levo alguns exemplares. Se quiser, levo-lhe um também com o maior prazer.

    Um abraço
    Cláudio Neves

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  33. Todo poema começa como uma ferida aberta, como uma cinza morta que ainda tem nome, presência e desconsolo...
    muito belo, como sempre, Graça...
    um beijo

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  34. A paixão, sentimento complexo, tecida maravilhosamente pelas palavras magistrais neste seu belo poema.
    Beijinhos.

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  35. Graça, estarei em Lisboa dia 18/12 e fico alguns dias antes de seguir para a Beira Baixa e o Douro, onde conto passar as festas. Uma vez em Portugal, ligo para o Victor (e já marcamos previamente um copito, como ele gosta de dizer). E levo o seu livro, claro. Mais uma vez, muito obrigado pelas palavras. Se você quiser, escreva-me para

    claudiomns@gmail.com

    e até lhe mostro alguma coisa nova, do próximo livro, ou mando o De Sombras e Vilas na íntegra.

    Um grande abraço
    Cláudio

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  36. Maravilhosa e:
    Especial Amiguinha:
    Hoje, não venho comentar o seu delicioso e fantástico Post escrito pela sua magia doce, porque é uma pessoa deliciosa e fantástica.
    Todas as definições de paixão irão bater-lhe à porta...creia...mesmo no "...lugar interior onde o poema recomeça..."

    Vim somente referir que quebrei um silêncio...sussurrado no som de um silêncio...

    Beijinho


    pena (Memórias Vivas e Reais)

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  37. palavras que moram bem na pintura de Rotchko... como se os lugares interiores, mais que palavras, procurassem cores...
    um beijo

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  38. Querida Graça,
    mais uma vez vc nos leva a um lugar muito especial, aquele ponto dentro de nós onde a poesia toca - e faz tudo à nossa volta ter uma nova intensidade.
    Um abraço.

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  39. É impressionante o número de comentários, parece que a blogosfera de poesia vem toda beber aqui. Parabéns!

    Vinha e venho agradecer-lhe a visita ao Mudanças e, também, juntar o meu comentário aos outros 40.

    O poema refere impossibilidade de definir o lugar interior onde o(s) poema(s) recomeça(m), que podia ser, e de algum modo é sempre, a memória enquanto arquivo da experiência.

    Mas já a imagem rodeando os pulsos nos desvia da busca dessa origem para a misturar no tumulto que impossibilita, no poema, a descoberta do lugar de onde os poemas nascem.

    Os seis últimos versos explicam porquê. A língua distorcida pelo tumulto interior fecha a boca com gritos - porque os gritos são palavras impossíveis de escrever, as letras enrolam-se, não surgem e tornam sombrias (penso que no sentido de falta de luz) todas as definições de paixão. E quando o poema refere todas parece-me querer dizer nem uma definição permite, seguindo a estrita impossibilidade que constata.

    Um poema em fogo.

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  40. A propósito desta poética da Graça, deixo uns versos de "ofício", de Adair Carvalhais Júnior:

    «o poema surge aos
    poucos enquanto o
    corpo confronta os
    dias enquanto as

    noites escurecem

    aos encontrões rasgado na
    pele na medida nunca
    exata das
    palavras
    (...)»

    Um beijo, uma boa semana

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  41. Há lugares interiores que nos desenham lágrimas, mas há outros que nos desenham sorrisos.

    Cada qual sabe o que sente nesses lugares de silêncio.

    Um abraço com carinho*

    Fanny

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  42. gosto muitíssimo.

    Beijo,
    mariah

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  43. Muito intenso !!! um anseio de algo que no íntimo desconhecemos e ao mesmo tempo nos parece tão familiar: a paz interior.

    um beijo

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  44. O lugar inerior onde o poema começa talvez seja o mais alvo de cada um de nós.

    Gostei muitíssumo.

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  45. BELÍSSIMO, Graça Pires!

    Não há muito o que dizer do poema, a não ser destacar a sua beleza e genialidade; posto que diante dele:

    "as letras enrolam-se-me na saliva, como um choro, que torna sombrias todas as definições de paixão".

    Seu poema vibra.
    Bravíssimo!

    Forte abraço,

    Hercília F.

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