12.1.09

Memórias de Dulcineia XI

André Kertész

Com as árvores e com as águas
partilho os meus pensamentos.
Manuseio estas palavras
como se fossem minhas
para as usar como protesto,
como absolvição: a boca
devorando a própria fome.
Aguardo um sinal que decifre
o nomadismo da memória
e rompa a cumplicidade do tempo.


Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008

47 comentários:

  1. Tão belo o teu poema!! Muitos beijos.

    ResponderEliminar
  2. "Un jour, la poésie donnera aux hommes son visage" Edmond Jabès


    Graça, as suas mãos são suaves e muito vincadas, um abraço profundo, Gisela

    ResponderEliminar
  3. decifrar "o nomadismo da memória"? um impossível mas, pensando bem, será que o desejaria?

    Um beijo por mais outro belíssimo poema.

    ResponderEliminar
  4. Graça,

    tive sempre um certo fascínio por esta Dulcineia: a sua sensibilidade, a sua lucidez, a forma como está atenta "e decifra
    os sinais que no nomadismo da memória" se entregam ao seu olhar sofrido. Sim, admiro-lhe a serena acutilância do olhar!
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  5. serão esses pensamentos nómadas que fogem ao conhecimento do tempo?

    ResponderEliminar
  6. "...Aguardo um sinal que decifre
    o nomadismo da memória
    e rompa a cumplicidade do tempo."

    todos nós aguardamos por esse sinal...

    felizes os que o captam.

    ResponderEliminar
  7. Este é, sem dúvida, um dos sítios onde mato a minha fome de poesia. Belíssimo!

    ResponderEliminar
  8. graça pires:
    chego aqui pelo blog da hercília.
    romério

    ResponderEliminar
  9. A natureza tá sempre juntinha com seus poemas.

    ResponderEliminar
  10. Nómada é o tempo, perdido pelas plainuras da Mancha, em horas de calor...
    e teus versos, na memória das coisas em todas as estações!

    Bj

    Maria Mamede

    ResponderEliminar
  11. Tal como a boca
    devorando a própria fome
    , assim a memória que, nómada, vai rompendo com o tempo para o encontrar.

    Nunca saberei agradecer-lhe... por tudo...

    ResponderEliminar
  12. Absolutamente poesia ....
    Talvez os pássaros ajudem a esse retorno , mas para isso aguardemos a Primavera ....
    beijo

    ___________ JRMarto

    ResponderEliminar
  13. Admirável Amiga:
    Mais um poema fabuloso. De encanto.
    "...devorando a própria fome.
    Aguardo um sinal que decifre
    o nomadismo da memória
    e rompa a cumplicidade do tempo."

    A memória, vê-la sedentária, corrói-nos num ápice, bem como o tempo nosso cúmplice..
    Extraordinário, com sinceridade.
    Esta fluidez, este sentir, este estar...!

    Beijinhos

    pena

    OBRIGADO pela simpática visita e pelas lindas palavras lá deixadas expressas.
    Bem-Haja, amiga! OBRIGADO!

    ResponderEliminar
  14. o sinal? As palavras de protesto e absolvição, que fazem a poesia.

    ResponderEliminar
  15. re.vim.


    "incendiar o olhar"....



    sempre!



    !!!!

    ResponderEliminar
  16. "a boca devorando a própria fome"

    o lume onde nos imolamos

    a cripa acesa nos nomadismos da memória.

    ______

    que te dizer, Graça?!

    Arrepiou-me!
    Um grande beijo

    ResponderEliminar
  17. Querida Graça,

    a alma é nômade, por isso vem nos acordar, através da imaginação e da memória, para o que é, como diria Cecília Meireles, "efêmero e o eterno".

    Enquanto isso...

    "Manuseio estas palavras
    como se fossem minhas
    para as usar como protesto,
    como absolvição: a boca
    devorando a própria fome".

    Lindíssimo poema. Como tudo que brota de teus sentidos apurados em puras seivas e translúcidos espelhos.

    Beijos,

    Hercília F.

    ResponderEliminar
  18. ..."a cumplicidade do tempo"...

    quem me dera. e não a romperia, abraça-la-ia, isso sim...






    gostei.

    ResponderEliminar
  19. sempre a qualidade super que imprime nas palavras que se leem poema.

    muito bom!

    beij

    ResponderEliminar
  20. "Aguardo um sinal que decifre
    o nomadismo da memória
    e rompa a cumplicidade do tempo."

    Não aguardaremos todos?

    "À espera de um momento de luz
    retorno, sem hesitar, ao itenerário
    secreto do silêncio e cultivo a solidão,
    multiplicando as sombras.
    Peregrina de outras luas, resgato a música
    que me restou da infância,
    como um sobressalto,
    ou uma água fresca a ferir-me a boca,
    de tanta sede"

    (Graça Pires in "não sabia que a noite podia incendiar-se nos meus olhos " pág. 36)


    Um abraço carinhoso.

    ResponderEliminar
  21. É dona absoluta das palavras essa que reparte os vôos da alma com a natureza, e seu brado é redenção. Alimento-me dos seus sinais que embelezam nosso tempo.

    ResponderEliminar
  22. sim, somos muitos os que esperamos...

    abraço Graça

    ResponderEliminar
  23. enquanto se veste a poesia na estrada são os momentos que se precipitam em tons de névoa e nos debruçam sobre a pele a palavra. haja memória e como tu dizes, "a cumplicidade do tempo".

    gosto muito do que escreves.

    um grande abraço!

    ResponderEliminar
  24. Gosto da tua poesia. Sempre gostei deste espaço onde posso sonhar.

    Beijinhos

    Bem-hajas!

    ResponderEliminar
  25. Belíssimo poema e constante o desafio de aguardar um sinal que decifre o nomadismo da memória. É a luta do homem com o tempo.

    Um abraço,

    ResponderEliminar
  26. Eu também

    protesto.

    as memórias permanecem

    ...tudo o que vejo parece-me um reflexo, tudo o que ouço, um eco distante.

    Um beijo

    enorme

    ResponderEliminar
  27. Já ouvi falar em NOMADISMO, mas sinceramente não sei bem o que é. Desculpe a minha ignorância.

    Uma boa noite para a Senhora Poetisa.

    ResponderEliminar
  28. Mais um belíssimo poema, com imagens vivas e poderosas:

    "a boca devorando a própria fome"

    Gosto mesmo... muito, muito...
    Beijo.

    ResponderEliminar
  29. Olá Graça

    Amar,
    Julgar,
    Perdar

    Esquecer, Lembrar

    O quotidiano que tanto nos embala e tanto nos surpreende.
    Nos aflige...

    Gosto muito da tua poesia.


    Bjs

    ResponderEliminar
  30. aguardo um sinal que decifre o nomadismo da memoria... Muito belo e preciso,
    um beijo

    ResponderEliminar
  31. Ah... as palavras não são tuas...?
    Não acrediro...
    Se calhar já nem te lembras por causa da tua memória nómada...
    Excelente, como sempre.
    Beijo.

    ResponderEliminar
  32. Aguardamos esse sinal que nos absolva do silêncio.

    Um beijo.

    ResponderEliminar
  33. Belo, sim, mas que dirão as águas e as árvores sobre os teus pensamentos?
    Beijinhos meus. Eduardo

    ResponderEliminar
  34. Muito bem quer a foto quer o poema.
    Fica bem, Graça.

    ResponderEliminar
  35. Tão profundo e com imagens tão perfeitas.
    Sempre fico emocionada quando te leio, não só pelo conteúdo, mas sobretudo pelas imagens que crias.


    beijo no coração

    ResponderEliminar
  36. Muito belo esse poema de uma extensa mancha de sonhos...como todo o livro...
    um beijo

    ResponderEliminar
  37. Lindo poema. És uma grande poetisa, Graça Pires!

    Venho através do Novidades e Velharias, virei mais vezes. Tenho muito a contemplar em teu Ortografia do olhar. Parabéns!

    Abraço,

    Maria Clara.

    ResponderEliminar
  38. Estou atrasada nas minhas leituras... Mas você, amiga do coração, está nele sempre! Tudo em paz, são os pincéis... Espero você novamente em meu blog. Postei por você e pelo Victor, amigos de sempre! Beijo enorme. Voltarei para lê-la, pois adoro lê-la. Outro beijo.

    ResponderEliminar
  39. e esse sinal está aqui, neste poema que rompe o tempo.

    é belíssimo.

    um grande abraço
    jorge vicente

    ResponderEliminar
  40. quem dera ser tua cúmplice....em todo o tempo que seja.


    porque não me canso NUNCA de te ler!
    nunca!


    o abraço. certo. e a minha admiração.

    ResponderEliminar
  41. palavras como absolvição. sem dúvida...

    mas também como lâminas. que cortam. a cumplicidade do tempo (todos somos cúmplices do nosso tempo). e se erguem em protexto.

    belíssimo

    beijo

    ResponderEliminar
  42. Palavras mágicas...as tuas...


    Doce beijo

    ResponderEliminar
  43. Temo repetir-me:

    Muito bom!

    Beijinhoss

    ResponderEliminar
  44. momento intenso nas mas memórias de Dulcineia, fortes imagens.

    ResponderEliminar
  45. Voltando à blogoesfera e às "casas" amigas, não me calha mal que o primeiro poema da Graça que releio em 2009 me diga de bocas devorando a própria fome: em certo sentido, ou em certos todas somos ou fomos Dulcineia.
    Um bom ano, Graça.

    ResponderEliminar
  46. Belo esse partilhar com as arvores e a água...
    Que o sinal não demore

    ****

    ResponderEliminar
  47. Sim Graça, é lindo devorar a sua propria fome, que forte!
    Fico sempre atonita e numa quente
    espera do proximo poema.
    " o nomadismo da memoria", viajante e livre a sua poesia, cumplice e sedenta na espera.
    Bjos,
    LM

    ResponderEliminar