3.6.11

Há máscaras de lama

                                                                  István Kerekes

Há máscaras de lama cobrindo a astúcia
no focinho das feras sem sono.
Há a ferrugem inflexível dos martelos
na ira dos deuses distantes dos homens.
Há o ostracismo que se vislumbra
nos muros da cidade
onde a ácida solidão das letras
exprime e trai gestos de raiva
queimando os dedos.
A tinta escorre pelas paredes
como se fosse sangue seco
a corroer um percurso de medo
que nenhuma fuga altera.
Depois só resta a sujidade cicatrizada
no tédio de quem passa.

Graça Pires
De A incidência da luz, 2011


ATENÇÃO: Há blogues onde não consigo deixar comentários porque não aceitam a conta do Google. Na selecção do perfil falta o item Nome/URL. Não sei se é possível a correcção. Obrigada. G.P.

49 comentários:

  1. Na indiferença do tempo....
    Belo como sempre...
    Beijos e abraços
    Marta

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  2. Fantástico e intenso, amiga!

    Beijos
    Jorge

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  3. Bom dia amiga!

    Um poema qúe radiografa aspectos da vida. Belo poema e necessária leitura.

    Um lindo fim de semana querida amiga. Beijos com carinho.

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  4. Oh, Doce e Fabulosa Poetiza Extraordinária:
    "...Há máscaras de lama cobrindo a astúcia
    no focinho das feras sem sono.
    Há a ferrugem inflexível dos martelos
    na ira dos deuses distantes dos homens.
    Há o ostracismo que se vislumbra
    nos muros da cidade
    onde a ácida solidão das letras
    exprime e trai gestos de raiva
    queimando os dedos.
    A tinta escorre pelas paredes
    como se fosse sangue seco
    a corroer um percurso de medo
    que nenhuma fuga altera..."

    Lindo. Lindo. Lindo.
    Perante o seu majestoso poema mágico de beleza que quer que lhe diga?
    Fiquei estupefacto perante tanto encanto do seu sublime e gigantesco sentir.
    Notável.
    A sua poesia, sabe? Fascina e enternece pela doçura. Parabéns.
    Abraço amigo de respeito pela poetiza enorme que é.
    Deslumbrado...

    pena

    Honra-me, a sua amizade.
    É perfeita na concepção dos seus versos de sonho que já lhe nasceram no seu berço. É a única explicação possível.
    Adorei, amiga.
    Bem-Haja, pela simpatia da sua visita.

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  5. Muito apropriado ao momento que vivemos...

    (algo violento, mas belo e muito bem tratado. Como é costume, aliás...)

    Beijinhos (de Graça para Graça, com a devida distância, claro!)

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  6. Lá estaremos com os pássaros

    para continuar o voo

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  7. Dei de beber às lindas borboletas
    chá de jasmim, água de cheiro
    ficou uma algazarra no jardim
    e até os passarinhos
    vieram a mim
    dei-lhes também um pouco de afeição
    grãozinhos dourados
    e folhas de alecrim.
    Está tudo em paz no meu coração...

    £UNA

    Bom FDS...Beijos de coração prá coração. M@ria

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  8. sim.

    a indiferença parece uma epidemia, mesmo quando os dedos sangram...

    beijinho Graça

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  9. Querida Graça,
    aqui como sempre a passagem deve ser lenta, reflexiva...
    para olhar abismada esse outro lado das coisas, que a poesia anuncia - guiada pelas tuas palavras.
    Um abraço.

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  10. ...você desenhou com alma
    de poesia, a realidade
    que nos judia.

    bj, alma linda!

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  11. ...e quanta lama por dentro e por fora dos actos e das palavras de tanta gente...
    é dorido saber que tudo isto é verdade.
    Parabéns, como sempre!
    Bjs.
    Maria Mamede

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  12. Numa tradição de poetas a vida em poema, na dureza de todos os olhares. Belíssimo!

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  13. há cidades que doem assim

    cicatrizamo-nos com os dedos queimados


    há poemas fortes
    assim

    um beijo, Graça

    manuela

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  14. A foto e o poema criaram uma imagem incrível, saiu da tela, me atingiu. Muito bom!

    Beijo.

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  15. Uma imagem e um poema adequados ao momento por que passamos.Fortíssimos!

    Bem-hajas!

    Beijinhos

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  16. GRAÇA
    A vida é mesmo aquilo que Nós queremos .
    Temos que a saber contornar para
    sermos felizes por isso muitas vezes sorrimos mas apetecia chorar.
    um beijinho

    e obrigada por este lindo poema
    lindo ,forte e intenso.
    Esquecia...BOM VOTO para logo!...

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  17. teresa p.5:21 da tarde

    Belíssimo poema que transmite uma realidade dura, muito de acordo com as dificuldades do nosso tempo.
    As imagens poéticas são muito intensas e profundas e a foto condiz de forma perfeita.
    Gostei muito!
    Beijo.

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  18. um poema duro, ácido.Na voz da poeta que grita por um mundo melhor. É nosso papel...belo,Graça.

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  19. Uma bela composição. Gosto essencialmmente do ritmo verbal. Também deixo um muito obrigado pelo comentário no "meu" espaço.

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  20. As máscaras voltaram ao poder levadas em bandeja pela cegueira das próprias vítimas...

    Boa semana, linda.

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  21. Apenas digo: Denso!

    Beijo imenso, Graça.

    Rebeca

    -

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  22. Pois há, Graça, demasiadas. E magoam mais a quem vê com esta transparência e esta sensibilidade.

    Um beijinho

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  23. Forte e sujo como a vida, Graça.
    Imagem e poema se completam numa beleza triste e violenta.

    Beijos.

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  24. Sinto o mesmo, ou parecido...
    Só que jamais o conseguiria exprimir com o talento que tu o fazes.
    Beijos, querida amiga Graça.

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  25. G.

    um poema muito forte!
    máscaras de lama cobrindo a astucia.
    que belissima definição,para certas pessoas.
    gostei!

    um beij

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  26. " De suor a cidade se alimenta
    Castelo de pegadas
    Sem nome
    Gravadas no silêncio ".
    -------------------Se alimenta de suor e de raivass e de impotências e do olhos vermelhos sem sono...
    -------------------
    Beijinho, amiga

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  27. É o tempo de uma gélida luz
    que já não consegue
    iluminar os rostos cansados
    que enfrentam a sujidade e o tédio
    no fétido atalho
    que conduz ao caos...


    Beijos!
    AL

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  28. ... e no entanto importa resistir. sempre.

    belo e subtil poema. na voragem dos dias.

    beijo

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  29. A coisa está a ficar preta

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  30. Victor Oliveira Mateus12:33 da tarde

    Gosto do comentário do "puma"! E gosto tb desta tua faceta de pegar o touro pelos ditos. Mal irão as coisas se o poeta adormecer...
    um beijo de amizade,
    v.

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  31. somente as beleza das palavras pode descrever a tragédia,

    gostei muito do poema,

    um beijo

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  32. Impressionante e forte este poema!!!

    Gostei muito...

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  33. oi graça
    belo poema. lembrei-me de Cão Sem pluma, João Cabral de Melo neto.

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  34. Talvez as pessoas também tenham ferrugem inflexível como os martelos.Talvez o tédio não esteja nas pessoas ou talvez sim. Sem mordaças.
    Abraço.

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  35. Boa tarde, querida Graça!
    Aumentam as máscaras de lama pela indiferença do tempo e dos homens.
    Sente-se nas palavras a impotência de mudar o mundo...homem.
    Forte, intenso e belo poema.
    «Há o ostracismo que se vislumbra
    nos muros da cidade
    onde a ácida solidão das letras
    exprime e trai gestos de raiva
    queimando os dedos.»
    Aplauso.
    Bjito e uma flor

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  36. Entre a imagem e as palavras existe uma complementaridade onde a mensagem visual é esculpida pelas palavras .

    Aqui é esse o caso
    Bjo Cs

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  37. Forte e bonito como sempre que passo por aqui encontro!

    Bjs dos Alpes

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  38. Belo poema dedicado ao trabalho árduo e não só, pelo menos como o leio numa primeira leitura mas também sei que a sua poesia tem várias camadas, novas leituras se seguirão.
    Aguardo com expectativa ler o seu livro.

    Grato por todos os comentários motivadores que tem oferecido. Aguardo tembém que o Blogger resolva o seu problema.

    Beijo,

    Carlos Teixeira luis.

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  39. ________________________________


    "Há o ostracismo que se vislumbra
    nos muros da cidade
    onde a ácida solidão das letras
    exprime e trai gestos de raiva
    queimando os dedos."

    Palmas para o seu poema, Graça! Gostei, gostei muito!
    Sem desmerecer os excelentes poetas que povoam a blogsfera, a sua poesia é a minha eleita...


    Beijos de luz e o meu carinho...

    ________________________________

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  40. Os problemas do Blogger não acabam nunca.

    Uma maravilha de poema, forte mas belo.

    Beijinhos

    Flor

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  41. Há máscaras de lama cobrindo a astúcia
    no focinho das feras sem sono.

    Profundo e intenso, que revela a maldade incutida pelas indiferença humana...

    Muito belo...

    Beijos

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  42. Porque terei logo identificado este poema com a "zona escura" de todas as cidades?
    A sombra, a acidez, os muros...
    Ás vezes a luz das cidades também esconde a sua "sujidade cicatrizada"...

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  43. Lindo, Graça. E muito forte.
    Um grande beijinho.

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  44. Este poema está magnífico! Obrigado, novamente, por partilhar a sua arte connosco :)
    Atenciosamente,
    Carlos Leite,
    http://opintordesonhos.blogspot.com

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  45. Que bom existirem poetas como a Graça Pires,
    que bom poder lê-la!


    Um beijo enorme
    Gisela

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  46. Graça, tua poesia é maravilhosa. Que bom ter te encontrado. :) Abraço!

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