14.8.15

A negra cicatriz



Conhecemos a obscuridade dos quintais
onde se escuta o rumor das figueiras ardidas
quando o pólen secou sobre as flores
e a vegetação se ocultou para desvairar
os insectos agarrados à ruína dos muros.
Sem qualquer aviso extinguiu-se a precisão
das sombras na planura desolada dos prados.
Quem rasgou sobre eles a negra cicatriz
que exilou os pássaros e as árvores?
Por quem tocam os sinos a rebate
quando estremecemos voltados para a terra?

Graça Pires
De Uma vara de medir o sol, 2012

40 comentários:

  1. Esses quintais me fazem lembrar de vidas ceifadas, vazias, tormentosas.
    Gostei de vir aqui conhecer seus escritos.
    Bjs Cláudia Miqueloti.

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  2. Uma imagem soberba e as palavras bem adequadas
    há imensa tristeza de ver os efeitos dos fogos...
    que ano após ano se repete!!!
    As árvores também sofrem e choram!!!
    Bjs.
    Irene Alves

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  3. E ninguém escuta o sofrimento de quem fica vazio... em desgraça...
    Um poema triste...
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  4. É uma triste realidade...Gostei do texto!
    Parabéns

    Beijinhos
    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  5. É uma grande tristeza vermos as nossas serras. os nossos montes terem perdido a sua cor verde para se tornarem negros, muitos deles pela maldade do homem. Belo poema, Graça, sempre atual nestes dias de fogo.

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  6. Belíssima imagem para acompanhar tão belos versos...
    A natureza grita todos os dias e o homem ainda não aprendeu a amar e cuidar do ambiente como deveria.
    Abraços e lindo final de semana.
    Márcia.

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  7. Olá Graça
    É preciso cuidar do ambiente. Desejo um belo final de semana, bjs querida.

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  8. Nossa, Graça Pires !
    Que texto projetivo sobre uma ralidade
    sombria, questionando o passado.
    E o sino grita...
    Um carinhoso abraço, amiga, aqui do
    Brasil.
    Sinval.

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  9. Graça, vim conhecer o seu blog...
    Versos fortes e que nos levam a refletir numa realidade lamentável...
    Um bom fim de semana! Abraços

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  10. Boa noite Graça.
    Triste realidade, a natureza deveria ser preservada, não destruída. Um maravilhoso final de semana amiga, com muita surpresas agradáveis. Beijos.

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  11. Quem?

    Gente que gosta da destruição... e que provavelmente detesta poesia.

    abraço Graça

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  12. Que seu final de semana lhe permita descansar, curtir a família, celebrar com os amigos e degustar o bom da vida!

    Beijos
    Ani

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  13. Não é fácil encontrar palavras para descrever a devastação causada pelos incêndios que, ano após ano e a maioria das vezes por mão criminosa, ocorrem em Portugal.

    Mas a minha amiga encontro-as. Elas aí estão, tão profundas e actuais, tão sentidas e reais: a imagem escura em pesadelo. Um belo poema no olhar de quem vê a "... precisão das sombras na planura desolada dos prados."

    Obrigado pelos votos na solidária homenagem ao meu primo.

    Um beijo de estima e admiração.

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  14. Era tão bom que todos tivessem consciência que é preciso cuidar do ambiente.

    Isabel Sá
    http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

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  15. ~~~
    ~ Um canto pertinente de cinzas, morte, desolação...
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

    ~ Um flagelo triste e arrepiante!

    ~~~ Beijinhos, Poeta.
    ~ ~ ~ ~ ~ ~

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  16. Boa tarde, Graça, sua postagem é bela no sentido de nos acordar para a realidade,
    mesmo quase seja tarde demais. A destruição toma conta de tudo e a natureza não fica a salvo.
    Triste olhar a foto, com de restos de uma árvore que um dia nos deu tudo que possuía e hoje, só carvão. Quantas florestas devastadas pela ganância? O que sobrará? Infelizmente, é um estado de consciência....
    Beijos!

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  17. E o sino precisará tocar muito ainda...
    Para acordar, quem sabe, a consciência de tantos destruidores
    desta obra tão perfeita, que é a nossa natureza.
    Uma ótima tarde Graça!
    Abraços,
    Mariangela

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  18. Deste flagelo parece que não nos livramos. Escrevê-lo de forma tão próxima e com a nitidez do olhar vazio, só alguém que sente e se sente.
    Oxalá ainda possamos ouvir os sinos, mesmo a rebate. Sinal que a humanidade (re)toma consciência.
    Bjo, Graça

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  19. Por quê tocam os sinos a rebate?
    Neste poema, Graça, seca-nos as entranhas com a aridez da morte num flash crue mas real. Apesar do tormento reconhecido, voltamos, com a regularidade dos loucos obstinados, ao flagelo colectivo.
    Por quê, para quê ?

    Boa semana, poeta, com horizontes a azular o olhar.

    Que maldição encarnou em gente
    que não têm escrúpulos nem sente
    É crime a purificação do fogo ardente
    de quem ateia e dum povo que mente

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    Respostas
    1. ... num flash cru...
      ... não tem escrúpulos...

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  20. Por momentos, os sinos serão mudos, porque se engasgam de tanto negrume e desolação nesse quadro real em que a única sombra que teremos, será como uma garra negra que nos leva também a cor.

    Boa semana para si, Graça.

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  21. teresa p.7:31 da tarde

    Até quando o homem vai continuar a destruir o seu meio ambiente? É deprimente ver cinzas onde antes era uma paisagem verdejante, mas é a triste realidade que se repete todos os anos.
    O teu poema e a foto retratam, de uma forma belissíma, este indigno flagelo.
    Gostei muito, como sempre.
    Beijo.

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  22. Intenso, sofrido e belo.
    Beijinhos
    Maria

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  23. Graça Pires, enquanto podemos escutar as cinzas, ainda podemos respirar poesia. Depois só ficamos com o silêncio por companhia.
    Beijos

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  24. os sinos dobram por todos nós...
    mas também celebram a nossa humana condição

    (apesar da desolação das cinzas.)

    beijo, minha Amiga

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  25. Chega a doer na alma o clamor da vegetação enquanto arde entre chiados e estalos.
    Um poema gritante e eloquente à visão das cinzas. Belíssimo apesar de triste. bjs.

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  26. Crer que das cinzas renasce o bom e o belo.
    E o sinos voltam a dobrar.
    Linda semana Graça.
    Carinhoso abraço amiga.
    Beijo.

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  27. Bom dia, é a dor do vazo até ao dia do renascimento do verde e do regresso dos pássaros, poema profundo que dói.
    AG

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  28. actual, intenso e sofrido.
    e apenas ficam as cinzas e a dor.
    muito bom!
    beijo
    :)

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  29. Lindos versos, em sábias palavras Graça!
    Beijos

    http://simplesmentelilly.blogspot.com.br/

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  30. Bom dia Graça, um poema muito belo sobre a realidade atroz que vai deixando a Terra vazia, sem viço, onde o Homem deposita apenas a sua própria cinza.
    Um beijinho e obrigada pelo carinho.
    Ailime

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  31. Este poema da Graça, que é um alerta sobre a forma descuidada como tratamos a natureza e a mãe Terra - "a negra cicatriz" de que fala a poeta -, fez ecoar na minha mente o título do filme comovente de John Ford, "O Vale era Verde", sobre a vida e as memórias de uma família de mineiros do País de Gales. É uma aspiração legítima, a de os vales que encantaram e deram luz às nossas vidas nunca deixem de ser verdes.

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  32. A realidade vista pelos olhos do poeta. Beijinho

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  33. Há uma réstia de mundo, tecido em harmonia, que se perde a olhos vistos... Se dói!
    Um beijinho, Graça :)

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  34. Onde se esconderam os Genii da floresta? Lindo!

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  35. Quando precisamos de luz , parece que outros se regozijam com o negro dos esqueletos sem vida .
    Um grito belo!
    Beijinhos , G.

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  36. ... e só temos uma Terra...

    Muito bonito, Graça! (Como todos os outros, aliás!)

    Beijinho.

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  37. Olá Graça
    Passando para conferir as novidades. Agradeecer a tua presença lá no meu cantinho. Visitar os blogs que sigo e que me seguem, é uma necessidade. Interação é essencial no mundo da Blogosfera. Encantada com tudo que vi e li por aqui... Saio sempre renovada de boas energias, ideias e aprendizado!...
    A luz é uma necessidade para clarear nossas vidas!
    AbraçO

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